Chevrolet usará elétricos da China para salvar operação no Brasil
Marca americana não desistirá da produção nacional como fez a Ford, mas foco em carros só elétricos preocupa
Depois que a Stellantis apresentou os protótipos de quatro arquiteturas para carros híbridos e elétricos no Brasil, aumentaram as especulações sobre o futuro da GM no Brasil.
Como se sabe, a Stellantis (leia-se Fiat, Citroën, Jeep, Peugeot e Ram) vai dar prioridade aos carros híbridos flex e só a partir de 2027 ou 2028 deve apresentar seu primeiro carro elétrico nacional.
Você também pode se interessar por:
- VW Polo: como hatch antes desprezado virou fenômeno de vendas
- Carro a etanol é um fracasso e nem o flex salvou. O híbrido salvará?
- Por que carros elétricos e híbridos têm rivalidade de futebol no Brasil
- VW Saveiro e Fiat Strada: por que as rivais têm estratégias tão diferentes
A General Motors, ao contrário, não quer saber de carro híbrido no Brasil, por considerar que: 1) eles emitem CO2 e não ajudam muito na descarbonização; 2) não representam mais nenhum desafio tecnológico.
Na prática, o compromisso de uma Chevrolet 100% elétrica no Brasil começará somente em 2035. Até lá a GM tem tempo para ir vendendo carros elétricos de alto valor, como os Bolt EV e EUV e os prometidos Equinox e Blazer elétricos. Para o futuro haverá também a picape Silverado elétrica.
Até aí tudo bem, mas como a GM do Brasil vai enfrentar os próximos desafios do Proconve? A próxima etapa será ainda mais severa do que a última. E a resposta está no turbocompressor. A Chevrolet acredita que ainda tem espaço para reduzir as emissões de CO2 de seus motores turbinados.
Projetando para o futuro pré-2025 é possível que todos os motores sejam turbinados. Mas, apesar disso, a grande questão ainda não está resolvida. A GM terá condições de produzir carros elétricos no Brasil?
Para mim, a resposta é sim! Ora, se a própria Stellantis, que está focada no carro híbrido flex, pretende produzir um carro elétrico nacional antes de 2030, por que a GM não pode fazer a mesma coisa? Afinal, já está ajudando, a partir do Campo de Provas de Indaiatuba, SP, no desenvolvimento dos elétricos vendidos nos Estados Unidos.
Onde está o futuro da GM brasileira? Basta pararmos de olhar para o norte do mapa e olharmos para o leste superior, mais exatamente para a Ásia. Simples assim: a solução para os carros elétricos da GM não virá dos Estados Unidos. Para fazer volume esses carros precisam ser baratos, portanto, virão da China.
Aliás, isso nada mais é do que a continuação do que já ocorre hoje. Os carros-chefe da linha Chevrolet no Brasil foram todos desenvolvidos na China ou em parceria com os chineses. Onix, Onix Plus, Tracker e Montana. Todos usam a mesma plataforma GEM, criada na China para carros de países emergentes.
Na China, a GM tem uma forte parceria com a SAIC e com a Wulling. Na joint-venture SAIC-GM-Wulling já existem carros elétricos baratos. Uma das marcas do grupo é a chinesa Baojun, que já tem alguns modelos elétricos a bateria.
Um deles é o pequeno Baojun Kiwi EV, que mede 2,89 m de comprimento, 1,65 m de largura, 1,57 m de altura e 2,02 m de entre-eixos. Tem motor de 40 kW ou 50 kW de potência e 150 Nm de torque. A bateria tem 31,7 kWh.
O Baojun Kiwi de 40 kW (54 cv) chega a 105 km/h e tem alcance de 305 km. O Kiwi de 50 kW (68 cv) atinge 115 km/h e roda 301 km com uma carga. É um carro pequeno demais para o mercado brasileiro atual. Mas há outro, maior, da própria Baojun, além dos modelos da Wulling, como o Bingo EV.
O Baojun Cloud EV tem um motor elétrico de 100 kW de potência e 200 Nm de torque. Com uma bateria de 37,9 kWh, é capaz de rodar 360 km com uma carga. São números bons, pois a potência equivale a 136 cv.
O Baojun Cloud EV tem o porte do Chevrolet Onix (na verdade é um pouco maior). Ele mede 4,29 m de comprimento, 1,85 m de largura, 1,65 m de altura e tem 2,70 m de distância entre-eixos (a mesma do Chevrolet Cruze, do BYD Dolphin). Lembrando ainda que na China, a GM também passa a utilizar a plataforma Ultium.
Pronto, aí está a receita para um futuro Chevrolet Onix elétrico. Mas, até o final da década, muitas outras novidades vão surgir. Por isso, apesar da desconfiança geral da nação e dos especialistas, eu continuo acreditando que a GM não vai fugir da raia como fez a Ford. Muito pelo contrário, tem tudo para ser grande também na era dos carros elétricos.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.