Fábrica que Toyota fechará após 60 anos fez Bandeirante e pintou até Fusca
Complexo da marca no ABC foi aberto em 1962 e ajudou a produzir até modelos da rival VW. Em 2023, encerrará atividades
A Toyota anunciou na última terça-feira (5) que fechará sua fábrica em São Bernardo do Campo (SP). A fabricante japonesa vai transferir todas as suas operações para as instalações de Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz, cidades situadas no interior do Estado de São Paulo.
De acordo com a marca, a mudança será gradual e acontecerá entre dezembro deste ano e novembro de 2023. Embora a decisão tenha sido divulgada agora, as movimentações para o fechamento da unidade começaram ainda no fim de 2020.
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Na época, a Toyota anunciou que a sede administrativa seria transferida para Sorocaba (SP). Com isso, o complexo se tornou o mais importante da montadora no país, visto que fabrica os modelos Corolla Cross, Yaris (hatch e sedan) e Etios (este último, só para exportação).
A movimentação já sinalizava que as operações no ABC paulista estavam próximas do fim. Atualmente, o complexo produz apenas peças de reposição para alimentar os mercados brasileiro, argentino e americano.
A fabricante afirma que oferecerá aos cerca de 550 funcionários da unidade a oportunidade de serem realocados a uma das outras três fábricas. Os que não puderem ou quiserem entrarão em um plano de demissões.
Primeira fábrica da Toyota no Brasil e fora do Japão
A fábrica de São Bernardo do Campo (SP) foi a primeira da Toyota no Brasil, mas não só isso. Também foi a primeira em qualquer lugar do mundo fora o Japão. Além disso, foi a responsável pela fabricação de um dos modelos mais icônicos da marca em nosso mercado, e não estamos falando do Corolla.
Em 1962, quando a empresa iniciou as operações industriais no Brasil, o sedan sequer existia - sua primeira geração só surgiria quatro anos mais tarde. O produto em questão era o Bandeirante (ou Land Cruiser, como foi chamado em outros mercados).
Com formas quadradas, o saudoso jipinho foi produzido no Brasil por 40 anos, saindo de linha em 2001. Ele tinha fama de pau para toda obra, por causa de sua robustez e capacidade off-road, sendo um dos veículos que mais fortaleceram a fama da marca no país.
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Foi durante o seu período de produção que aconteceu uma das histórias mais inusitadas da indústria automotiva nacional. Embora a produção do Bandeirante tenha começado em 1962, a marca só começou a construir a cabine do jipe em 1968 - até então, a carroceria era fornecida pela Brasinca.
O ponto alto da fábrica, que passava a ter uma linha mais completa de produção, ajudou na verdade uma outra fabricante: a Volkswagen. Em 1970, as instalações da marca alemã, também em São Bernardo do Campo, margeando a Rodovia Anchieta, pegaram fogo.
O incêndio durou 12 horas, segundo a Folha de S. Paulo na época, e teve grandes proporções. Foram várias alas afetadas, sendo uma delas a Ala 13, um dos espaços responsáveis pela pintura dos veículos fabricados pela marca alemã na época.
Com a destruição do local, a VW ficou temporariamente sem ter como finalizar a pintura de seus veículos. A solução foi procurar uma fábrica vizinha capaz de realizar esse trabalho. As candidatas eram Karmann-Ghia, Brasinca ou… Toyota.
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Por mais inusitado que seja, houve um acordo entre as duas companhias que garantiu que a marca alemã levasse seus Fusca para a Toyota aplicar um dos processos de pintura na carroceria.
Dessa forma, durante meses, o complexo fabril em São Bernardo do Campo teve o Besouro e o Bandeirante passando pela mesma linha de produção.
A movimentação, inclusive, pode ter sido ponto crucial para manter a montadora no Brasil, já que o Bandeirante não era um sucesso absoluto de vendas por aqui, como os amigos da Quatro Rodas já contaram.
Com os Fusca, a unidade de São Bernardo do Campo deve ter atingido seu maior volume produtivo da história. Entre 1962 e 2001, pouco mais de 100.000 unidades do Toyota Bandeirante foram fabricadas em São Bernardo do Campo (SP), uma média de cerca de 2.500 unidades por ano.
Infelizmente, com a saída do Bandeirante do nosso mercado, a fábrica também deu seu último suspiro em relação à produção de veículos. Depois do jipe, as instalações no ABC Paulista foram responsáveis apenas por confeccionar peças de reposição e abrigar a sede administrativa, sem ter mais nenhum outro modelo produzido.
O Corolla, àquela altura, já era fabricado nacionalmente, porém em Indaiatuba. Em 2012, outro complexo foi inaugurado, em Sorocaba, dedicado à família Etios. Por fim, em 2016, veio a fábrica de motores em Porto Feliz.
Já a histórica fábrica de São Bernardo do Campo terá a trajetória encerrada ao longo deste ano e do próximo, provavelmente perdendo suas características, como aconteceu com a Ford no ano passado.
Imagens: Divulgação Toyota e Folha Imagem.
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