Fiat Grande Panda custará R$ 140 mil, mas está distante de ser um BYD Dolphin

Elétrico italiano escancara a falta de competitividade das montadoras antigas, diante das novas marcas chinesas

HG
Por
19.07.2024 às 16:35
Elétrico italiano escancara a falta de competitividade das montadoras antigas, diante das novas marcas chinesas

O leitor pode estranhar e até discordar da análise que faço, mas é que, para além de todo o confete sobre o Grande Panda que a Fiat acaba de apresentar, na Itália, como seu novo compacto global, os maiores atributos do lançamento são, nas palavras do próprio presidente-executivo (CEO) da marca, o francês Olivier François, “simplicidade e inclusão” – isso mesmo, o chefão da Fiat é, hoje, um parisiense.

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Simplicidade que se traduz no perfil franciscano – vulgo, pobreza – do modelo e inclusão pelo preço que, apesar de não ter sido divulgado, ficará abaixo dos 25 mil euros (o equivalente a menos de R$ 145 mil).

Comparado com qualquer concorrente chinês, o carro elétrico com cidadania italiana perde em tudo, nominalmente em estilo, conteúdo, qualidade, tecnologia embarcada e alcance. Seus assentos lembram os do falecido Uno nacional, de segunda geração, e suas linhas parecem recortadas do filme “Pixels”, uma das produções norte-americanas mais infelizes da última década, cuja bilheteria foi inferior ao orçamento.
 “Este lançamento preenche a lacuna que ficou em nosso portfólio, com a aposentadoria do 500L”, disse François durante a coletiva de apresentação do Grande Panda, fazendo referência à extinta versão familiar do Cinquecento, inédita no Brasil. “A exemplo do que ocorreu com os novos C3, da Citroën, e Avenger, da Jeep, além do novo 600, o Grande Panda estará disponível, inicialmente, nas suas versões elétrica e híbrida, com os motores a combustão interna completando a gama em um segundo momento”, afirmou o CEO da Stellantis (grupo que controla a Fiat), o português Carlos Tavares.

Com 3,99 metros de comprimento (13,5 cm menor que o BYD Dolphin), 1,76 m de largura (1 cm menor) e 1,57 m de altura (medida idêntica à do adversário chinês), o Grande Panda é mais apertado por dentro que o Dolphin, já que sua distância entre-eixos (2,54 m) é 16 cm menor que a do BYD.

Equipado com um motor elétrico de 113 cv (83 kW), o lançamento da Fiat aproveita seus quase 20 cv a mais de potência para acelerar rápido (vai de 0 a 100 km/h em 11,5 s, contra 12,3 s do chinesinho), mas “estacionando” nos 135 km/h de velocidade máxima, enquanto o Dolphin beira os 160 km/h.

Eficiência e alcance

No quesito eficiência, deixamos de lado os números do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), que não são disponibilizados para o Grande Panda, e tomamos por base os valores homologados para o mercado europeu. Assim, o lançamento da Fiat tem alcance (326 quilômetros, em ciclo combinado) inferior ao do Dolphin (339 km, no mesmo ciclo WLTP) que, convenhamos, está mais para um veterano do que para uma novidade no portfólio da BYD.

Já na equivalência com um modelo equipado com motor a combustão, o Grand Panda faria 66,6 km/l, enquanto o Dolphin faria 80,7 km/l. Ou seja, também neste quesito, o lançamento da Fiat nasce em desvantagem quando comparado ao modelo chinês, que é o elétrico compacto mais vendido do mundo há algum tempo.

A Fiat se orgulha da plataforma “multienergética” do Grande Panda, como se vender televisores valvulados preto-e-branco e aparelhos com tubo (CRT) de imagem tivesse o condão de agregar alguma coisa ao portfólio de monitores LCD que Samsung, Sony e LG comercializam.

“Há 125 anos, a Fiat fez a transição da produção artesanal para a era industrial. De lá para cá, nunca paramos de trabalhar, buscando soluções e acreditando no futuro, tornando possível que aquela ‘startup’ de Turim se tornasse a Stellantis, hoje”, disse o CEO da Exor, holding da família italiana Agnelli que possui participações na Ferrari e na montadora italiana, John Elkann, “puxando a sardinha” para o lado piemontês do grupo.

Por falar na Stellantis, a gigante ítalo-franco-americana com sede na Holanda viu sua capitalização de mercado alcançar o pico histórico de US$ 87,9 bilhões (o equivalente a R$ 477,2 bilhões), em 22 de março deste ano, e logo após cair 32% só nós últimos 50 dias, para US$ 59,8 bilhões (R$ 324,6 bilhões) – número do fechamento da última sexta-feira.

Obviamente, que este movimento não pode ser considerado um chamariz para os investidores, principalmente se comparado à valorização de 14% registrada pela BYD, no mesmíssimo período, quando seu valor subiu de US$ 85,2 bilhões para US$ 97,2 bilhões (de R$ 462,5 bilhões para R$ 527,7 bilhões).

Conforto e conveniência

De volta ao Grande Panda, o novo carro elétrico traz poucos atributos, no campo do conforto e da conveniência. Dois visores (de 10 polegadas e 10,2 pol) circundados por um aro que remete à antiga pista de testes que fica no ‘rooftop’ da fábrica de Lingotto e teclas no console frontal, que lembram as do Tempra, combinam o “irônico com o icônico” – o jogo de palavras, acredite, é do próprio fabricante.

O porta-luvas, batizado de “bambox”, reforça o aspecto ecologicamente correto do compacto, com uso de fibra de bambu no lugar do plástico duro. Volante multifuncional e rodas de liga leve com desenho em “X” são outros itens que parecem saídos do filme “Pixels”. Assistentes avançados de condução, muito comuns nos mais recentes lançamentos chineses, não estão no cardápio do novo Fiat.

Louvável, a solução de disponibilizar um cabo de carregamento espiral, facilitando a recarga das baterias, é uma primazia do Grande Punto que tem tudo para ser adotada por todos os elétricos.

O item fica alojado sob o capô, desentulhando o porta-malas (de 361 l de capacidade volumétrica), e é compatível com corrente alternada de até 7 kW. O tempo completo de recarregamento das baterias é de sete horas (7h15, no Dolphin), mas em 32 minutos é possível recuperar energia para rodar até 208 km (no BYD, em 40 minutos é possível recuperar energia para rodar até 205 km).

Apesar da importância deste lançamento para o futuro da Fiat, não há como negar que o Grande Panda escancara a falta de competitividade das montadoras antigas, diante das novas marcas chinesas. Em setembro, uma nova versão do BYD Dolphin, basicamente idêntica à vendida no Brasil, chegará ao mercado europeu.

Mesmo com o aumento da taxação dos carros elétricos chineses no Velho Mundo, ele custará 26 mil euros, algo entre 5% e 7% mais caro que o novo compacto da Fiat. Uma segunda geração do Dolphin, que não deve demorar muito a surgir, criará um verdadeiro abismo em relação ao Grande Panda e seu irmão gêmeo da Citroën. Dizer o contrário, seria mentir para o leitor...

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