Ford Corcel II Hobby: projeto Renault com novo visual tentava ser esportivo

Corcel nasceu de um projeto Renault, mas ganhou facelift na fase II e era voltado aos jovens

LA
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08.01.2025 às 20:50
Corcel nasceu de um projeto Renault, mas ganhou facelift na fase II e era voltado aos jovens

O Ford Corcel surgiu em 1968 com quatro portas e um estilo tipicamente francês. Projetado pela Willys Overland do Brasil, em parceria com a Renault, foi o primeiro projeto da Ford Nacional, que comprou a Willys em 1967. Desenvolvido sob o codinome “M”, ele se assemelhava ao Renault 12, mas com pouquíssimas alterações, dando apenas um pouco mais de identidade Ford ao Renault. O curioso é que as primeiras unidades do Corcel usavam o enorme volante do Aero Willys e tinha logos da Willys nos vidros. 

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Depois do nascimento do coupé em 1969, em 1970 foi apresentada a versão perua do Corcel, chamada de Ford Belina. Considerado moderno para seu tempo, teve grande sucesso, e concorria diretamente com o VW Variant. Nas versões Standart e Luxo Especial, os modelos traziam motor 1.3 de 68 cv de potência SAE a 5.200 rpm (aproximadamente 57 cv ABNT) com 9,8 kgfm de torque a 3.200 rpm, capaz de levar o cupê de 0 a 100 km/h em 21 segundos e a perua em 24 segundos. A velocidade máxima era de 141 e 129 km/h na ordem, números respeitáveis àquela época.

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Com espaço interno, bom porta-malas e baixo consumo como trunfos, Corcel Cupê, Sedan e Belina receberam nova frente e um motor mais possante em 1973. Agora 1.4 (emprestado do Corcel GT XP), tinham 75 cv SAE a 5.400 rpm (aproximadamente 63 cv ABNT) com 11,6 kgfm a 3.600 rpm. Mais bonitos e com as mesmas boas médias de consumo, Corcel e Belina aumentaram ainda mais suas participações no mercado nacional. 

Em 1977, como modelo 1978, a Ford apresentou a sua segunda geração da linha Corcel, intitulados Corcel II e Belina II, ambos com muito mais espaço interno e design bastante moderno à época, mesmo utilizando a velha plataforma de 1968. Viraram os queridinhos das famílias e eram vistos com frequência nas garagens dos bairros de classe média e alta. Ao mesmo tempo, o modelo quatro-portas era descontinuado, pois a Ford começava o projeto “Ômega”, que viria a ser o Del Rey, apresentado anos depois.

Com uma suspensão extremamente confortável e estável, toda a linha Corcel usava o mesmo motor 1.4 (com exceção do Del Rey, 1.6), mas com evoluções na carburação e na curva de torque. Passava para 78 cv de potência SAE a 5.400 rpm (68 cv ABNT), 11,5 kgfm de torque a 3.600 rpm, e praticamente as mesmas médias de consumo da versão anterior, de 75 cv. Depois, na linha 1980, chegaria o novo 1.6, predecessor do conhecido CHT, com 90 cv SAE a 4.800 rpm (76,8 cv ABNT) e 12,2 kgfm a 2.800 rpm na versão a etanol, ou 83 cv SAE a 5.000 rpm com 11 kgfm a 3.000 rpm na versão a gasolina. Outra boa nova era a quinta marcha opcional no câmbio manual.  

Naquele tempo, as versões para o público jovem faziam sucesso. Eram modelos geralmente baseados nas configurações básicas, mais simples, com algumas diferenças estéticas, acessórios de personalização e preços convidativos. A Dodge usava essa receita há alguns anos no 1800SE, a VW tinha seu Passat Surf e a GM trouxe o Chevette Jeans

A Ford tinha em sua linha as versões Standart, L, LDO e GT, quando passou a oferecer, no comecinho de 1980, o Corcel II Hobby. Baseado na Standart de entrada, o modelo custava 8% a mais que o modelo básico, e tinha como essência o GT, com molduras em volta das janelas, maçanetas, para-choques, spoiler e rodas pintados na cor preta. As rodas, aliás, traziam o diferencial dos sobrearos cromados, assim como no GT, calçadas com pneus radiais 185/70. Era identificada pela logotipia em adesivo nos paralamas dianteiros e na tampa do porta-malas, além dos piscas transparentes na frente, com iluminação laranja. Os cromados eram praticamente eliminados. 

Sua suspensão também era a mesma da versão GT, 1,3 cm mais baixa e com barras estabilizadoras nos dois eixos, reduzindo as navegadas de sua molenga calibração ou desvios de trajetória em curvas mais fortes. Do GT também vinha o volante esportivo, com três raios e excelente empunhadura, além do spoiler dianteiro. O acabamento do Corcel II Hobby seguia o padrão Ford, muito elogiado àquele tempo. Diferente da simples Standart, aqui o painel trazia apliques aluminizados, enquanto o revestimento dos bancos e forros de porta tinham padronagem quadriculada (vermelho e preto). A marca também destacava um carpete mais caprichado na versão jovial.  

O Hobby tinha vários opcionais, incluindo embreagem eletromagnética, servofreio, ignição eletrônica, conta-giros, luzes de cortesia, ventoinha eletromagnética, temporizador do lavador de para-brisa e esguicho elétrico, além da motorização composta pelo bom e velho 1.4 de 78 cv ou mesmo o moderno 1.6 de 90 cv, potente e igualmente econômico. O padrão era a transmissão manual de quatro marchas, mas a quinta também podia ser adquiria a parte. 

Nas propagandas da época, além do preço mais baixo do que o esperado, a Ford destacava que o Corcel II Hobby era um “carro de alma nova, com aspecto descontraído e cores jovens, na medida certa para quem é jovem de espírito”. A marca até listava alguns possíveis compradores do modelo, que queria atrair jovens atletas e dinâmicos: “feito para ciclistas, esquiadores, surfistas, tenistas, pescadores submarinos, praticantes de polo, hóquei e iatismo”. A marca aliava essas qualidades do Hobby a fama de econômico, confortável, robusto e durável da linha Corcel II.

Curiosamente, entre janeiro e março de 1980, a Ford até promoveu um concurso nacional envolvendo a versão, batizado de “Pinte o Hobby”: mais de 8.000 inscritos decoravam uma foto do carro como preferissem, incluindo cores, faixas decorativas, pinturas, desenhos, emblemas e por aí vai, sempre com a temática jovial e esportiva do Corcel II Hobby. O dono da decoração mais votada ganharia um Hobby 0 km pintado exatamente como o da foto. Além de destacar os dez melhores do concurso, a marca declarou como ganhador Silvio Fagundes de Oliveira, então morador de Governador Valadares (MG). O júri da tal votação era composto por dois artistas plásticos e um jornalista automotivo da época. 

Um ano depois, em 1981, o Corcel GT saía do catálogo e a versão Hobby tornava-se oficialmente a única esportiva da linha, agora também com uma opção movida a etanol. Para 1982, as novidades se resumiam em novas rodas em aço estampado (as mesmas utilizadas pelo utilitário Pampa) e um visual um pouco mais clean, sem o spoiler dianteiro e com a adoção de novas cores (incluindo as metálicas). A maior novidade seria um teto-solar opcional. Internamente perdia-se o volante esportivo (usava o mesmo de dois raios do Corcel L), e os tecidos também eram os mesmos lisos da versão de entrada. Ali o Hobby perdia completamente sua personalidade. 

Em 1983 a versão se despedia de vez, sem deixar substitutos, afinal a Ford estava com as atenções voltadas para o lançamento do Escort, o moderno “dois volumes e meio” que seria o primeiro carro mundial da marca no Brasil. Também estavam focados no novo motor CHT, debutado ainda em 83, que equiparia diversos modelos, inclusive de marcas rivais. Um novo esportivo da marca do Oval Azul chegaria no final do mesmo ano, já integrando a linha 1984, consagrando-se como sonho de consumo de uma geração inteira. Mas, do Escort XR3 eu falo mais para frente…

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

"Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como Consultor Organizacional na FS-França Serviços, e há 21 anos, também como consultor automotivo, ajudando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação."

https://www.instagram.com/autosoriginais

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