Ford desmancha carros e fábricas, e pode deixar 120 mil desempregados

Enquanto Camaçari esmaga carcaças inacabadas de Ka e EcoSport, resquícios da marca no ABC são apagados. Estudo do Dieese aponta impacto alarmante da saída da fabricante do país

Renan Bandeira
Por
08.03.2021 às 21:03 • Atualizado em 29.05.2024

A saída da Ford enquanto fabricante no Brasil ganhou capítulos ainda mais melancólicos. Dois meses depois do comunicado em que declarava o fim da produção de veículos por aqui, a empresa americana parece ter acelerado as providências para consolidar o fechamento de suas fábricas.

Na última semana, um vídeo viralizado nas redes sociais mostrou filas de carrocerias hatch do Ka e do SUV EcoSport com montagem inacabada esperando o momento de serem destruídas no complexo de Camaçari (BA). Essas imagens são as primeiras a ilustrar o fim de 100 de história da montadora no país.

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É comum que as fabricantes compactem os veículos com defeito de fabricação e os vendam como sucata. Neste caso, porém, nem mesmo partes removíveis como portas laterais, porta-malas e capô, que poderiam ser reaproveitadas para alimentar o mercado de reposição, foram poupados.

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Em um ambiente no qual a indústria tem sofrido com a falta de insumos como, por exemplo, aço e plástico, a empresa pode estar aproveitando a escassez de matéria-prima para gerar valor oferecendo materiais das carcaças inutilizadas para reciclagem.

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Vale lembrar que as unidades de Taubaté (SP) e Camaçari (BA) voltaram a produzir no último mês, após a Ford negociar com os sindicatos regionais um retorno para fabricação de peças de reposição, em cumprimento a um acordo com o Procon sobre o suprimento de componentes “por um prazo razoável”.

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Originalmente, Camaçari era responsável por fabricar a família Ka, o EcoSport e motores. Já Taubaté era dedicada exclusivamente a propulsores e transmissões manuais. 

Tão logo a produção acabe, ambas devem seguir os passos do complexo de São Bernardo do Campo (SP), fechado em 2019 e que já foi vendido para uma construtora da região. Em breve, deve virar um condomínio comercial com uma série de galpões. 

O processo de desmontagem dos maquinários do complexo do ABC Paulista, aliás, começou em março de 2020 e deve chegar ao fim em maio deste ano, deixando a área totalmente liberada, segundo trabalhadores do local consultados por nossa reportagem.

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Na semana passada, o Primeira Marcha já havia informado que as placas com logotipo Ford estavam sendo retiradas das portarias. Fomos até o local na manhã desta segunda-feira (8) e confirmamos que praticamente já não há mais referência à marca do oval azul no local. 

Inclusive, está difícil até reconhecer as portarias, devido ao nível do abandono e do matagal que toma boa parte do espaço. As únicas partes que ainda remetem à Ford são os portões pintados de azul e branco, os cones e algumas paredes que ainda têm assinatura da marca, além da imensa placa próxima à antiga Portaria 2.

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Esta última só não foi retirada ainda porque o processo é complexo e demanda o uso de um guindaste. Por isso, teria de ser feito durante a madrugada, mas como o estado de SP decretou lockdown e toque de recolher nos períodos noturnos, o procedimento foi adiado.

Fechamento e consequências

O anúncio do fechamento das fábricas aconteceu em 11 janeiro deste ano e pegou todos de surpresa, principalmente com o comunicado de que a família Ford Ka, composta por hatch e sedan compactos, e o SUV compacto EcoSport deixariam de ser produzidos com efeito imediato.

A empresa também abandonou três novos projetos, sendo eles, a nova geração do EcoSport, um inédito SUV cupê - que se chamaria Maya - e a reestilização do SUV Territory. Além disso, a fábrica de Horizonte (CE), onde são fabricados os Troller, seguirá em operação até o final do ano e fechará se não for encontrado um comprador para ela.

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As organizações sindicais até tentaram uma negociação direta com executivos da matriz da marca americana, no fim de fevereiro, na tentativa de dissuadi-los do plano de abandonar a operação fabril no Brasil. Não tiveram sucesso e a empresa manteve a decisão.

Com isso, 5 mil trabalhadores diretos serão demitidos entre as unidades de Camaçari, Taubaté e Horizonte. 

Segundo o Dieese, além desse número, serão “impactados trabalhadores das sistemistas, das terceirizadas e de toda a cadeia produtiva", o que significa uma “perda potencial de mais de 118.864 mil postos de trabalho, somando diretos, indiretos e induzidos.”

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Formado em mecânica pelo Senai e jornalismo pela Metodista, está no setor há 5 anos. Tem passagens por Quatro Rodas e Autoesporte, e já conquistou três prêmios SAE Brasil de Jornalismo. Na garagem, um Gol 1993 é seu xodó.

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