"Fusca elétrico para mulheres” tem potência limitada e “função menstrual”

ORA Ballet Cat, elétrico da GWM vendido na China, quer conquistar o público feminino com recursos que exalam sexismo em pleno 2022

HG
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13.07.2022 às 19:27 • Atualizado em 29.05.2024
ORA Ballet Cat, elétrico da GWM vendido na China, quer conquistar o público feminino com recursos que exalam sexismo em pleno 2022

Agora é para valer. Depois de ser antecipado em detalhes, em maio, o Ballet Cat, da ORA, marca de modelos elétricos da GWM (Great Wall Motor, a mesma fabricante que está se instalando no Brasil) entrou à venda na China com preços a partir de 193 mil yuans (o equivalente a R$ 155 mil). 

O carro, que muita gente compara visualmente ao Volkswagen Fusca (por ser uma cópia nada discreta deste), está disponível apenas em versões elétricas, com autonomias de 401 quilômetros em ciclo NEDC, quando equipado com pacote baterias de íons de lítio de 49,9 kWh, ou 500 km, quando equipado com baterias de 60,5 kWh. 

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Seu motor de 173 cv não é dos mais potentes e sua velocidade máxima, de 155 km/h, já explicita o machismo por trás do projeto. Sim, porque o público-alvo são as mulheres chinesas. Para tanto, a fabricante reduziu a potência, que chega a 299 cv ou 537 cv no Punk Cat, configuração “masculina” do modelo, e trocou a tração traseira ou integral pela dianteira.

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Para piorar, o Ballet Cat traz um recurso denominado LDM ou “Lady Driving Mode”, que na tradução do inglês poderia ser transcrito como “Modo de Condução para Damas”. Ele aciona o ACC (controle de cruzeiro adaptativo) de modo a manter maior distância para o veículo à frente – aliás, o ORA-Pilot é classificado como sistema de direção autônoma de Nível 2 e equipa desde a versão básica. 

Se o leitor achou isso estranho e ultrapassado, imagine o WMM (Warm Man Mode ou “Modo Homem Aquecido”), que promete reduzir o desconforto das mulheres durante seu período menstrual através de uma função do ar-condicionado que aquece a região lombar da motorista. A intenção pode ser boa, mas o nome escolhido para batizar o recurso não poderia ser mais infeliz.

Há ainda uma câmera dedicada para fazer selfie enquanto dirige e, outro "mimo" que reforça o olhar sexista que ainda impera na indústria automotiva. Não se pode deixar de reconhecer, porém, que o ORA Ballet Cat é um carro que tem o seu estilo e é muito bem equipado, obrigado, além de ter um custo-benefício interessante.

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Em sua versão mais completa, com bancos aquecidos e sensor de estacionamento que faz balizas sozinho, além dos acabamentos com os sugestivos nomes de “Bela Adormecida” ou “Lago dos Cisnes”, o Ballet Cat sai por 223 mil yuans (o equivalente a R$ 179 mil). 

Barato o novo elétrico chinês não é, mas se o compararmos com o Renault Kwid E-Tech e seus mais de R$ 150.000, ou o Caoa Chery iCar e seus R$ 140.000 no Brasil, de repente ele parece uma pechincha.

Independentemente do gosto duvidoso de sua estratégia comercial, estamos falando de um hatchback de quatro portas com 4,40 metros de comprimento (13 cm maior que um Volkswagen Nivus, que parte de R$ 137 mil na versão Highline 200 TSI, equipada com motor a combustão), 1,86 m de largura e 1,63 m de altura, com distância entre-eixos de 2,75 m (19 cm maior que a do Nivus). 

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Isso sem falar no console com duas grandes telas de película fina (a do sistema de infotainment tem 12,3 polegadas) e no carregador sem fio para smartphones do console central, que ainda abriga um compartimento para maquiagens (olha o sexismo aí de novo…), e no som com nada menos que dez alto-falantes desde a versão básica.

Ou seja, o ORA Ballet Cat não seria um carro ruim, não fosse o machismo exalado às escâncaras em seus recursos, a começar pelo nome (com o clichê clássico de que “balé” é coisa de mulher, enquanto o “punk”, subgênero do rock’n’roll, é coisa de homem).

Obviamente que, em um Brasil onde um anestesista é flagrado cometendo o crime de estupro de vulnerável contra uma parturiente, não temos muitos dedos a apontar para os chineses. Mas, infelizmente, neste 2022, muitas vezes parece que regressamos a 1962, e isso não só na metade de cá do globo.

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