Honda eliminará motores a combustão, até 2040

Japão terá mais de R$ 350 bilhões só para novos EVs da Série 0; Brasil receberá 1% dos investimentos para produção do sistema e:HEV flex

HG
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11.10.2024 às 21:57
Japão terá mais de R$ 350 bilhões só para novos EVs da Série 0; Brasil receberá 1% dos investimentos para produção do sistema e:HEV flex

Enquanto o Brasil é inundado por lançamentos equipados com motores a combustão interna, salpicados por um ou outro modelo híbrido, a Honda acaba de revelar em Haga, no Japão, seus planos para “sobreviver” à virada da eletromobilidade.

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A marca confirmou o lançamento de sete novos EVs, destacando o alcance médio de 480 quilômetros e novos recursos de condução autônoma, detalhando a tecnologia por trás da Série 0, que também inaugura novos arranjos produtivos que vão garantir maior qualidade e rentabilidade.

“Este portfólio global será produzido com novas prensas de megafundição, sistemas inéditos de soldagem e uma lógica de células flexíveis. Começaremos pela planta norte-americana em Ohio, já em 2025”, disse o presidente-executivo (CEO) da companhia, Toshihiro Mibe.

“A partir do ano que vem, teremos pelo menos um novo modelo da Série 0, entre 2026 e 2030, totalizando sete EVs inéditos, sendo cinco crossovers. Reconsideramos nossos conceitos do zero e numa guinada que só ocorre a de século em século, percebemos que não conseguiríamos sobreviver, muito menos rivalizar com a BYD e a Tesla se, simplesmente, continuássemos presos ao negócio tradicional”, completou Mibe.

Realmente, é de se admirar a franqueza do executivo, que aponta a Série 0 como peça central no plano de eletrificar toda a gama Honda, aposentando os motores a combustão interna, até 2040. Mas mais admirável ainda é ver que o Brasil parece apartado desses planos.

Afinal de contas, dos sete modelos (CR-V, ZR-V, Accord, Civic, City hatch e sedã, além do HR-V) e suas 17 versões oferecidas no mercado nacional, há apenas três híbridas e nenhum EV. Em abril, a marca japonesa anunciou um investimento de R$ 4,2 bilhões no país, mas para a “introdução de tecnologia” e “desenvolvimento da cadeia de suprimentos”.

Tomando por base o anúncio do próprio Toshihiro Mibe, feito em maio deste ano, de que a Honda vai aplicar US$ 64 bilhões (o equivalente a R$ 354 bilhões) só nos seus EVs, até o final desta década (ou seja, até 2030), não é preciso ser matemático para ver que o aporte destinado ao Brasil representa mísero 1% do plano de investimentos.

“O fabricante está, neste momento, claramente focado em manter sua competitividade no setor automotivo, adotando uma nova engenharia que deve reduzir seus custos de produção em até 35%, mas ele precisa se recuperar, passo a passo”, comenta o analista chefe do Tokyo Research Institute, Takaki Nakanishi, como se isso servisse de consolo para nós, brasileiros, ou de justificativa para o Brasil seguir sendo espoliado como uma colônia de Terceiro Mundo. “Até 2028, a marca diminuirá a desvantagem em relação à concorrência”, prevê.

“Não há dúvida”

A Honda irá aumentar sua capacidade de produção de EVs e modelos com motores de célula a combustível, para alcançar uma meta comercial de dois milhões de unidades, globalmente, já em 2030. Só nos Estados Unidos e Canadá, a marca pretende vender 750 mil veículos elétricos, o que justifica a escolha destes dois países como principais centros de produção.

Apesar da acomodação na curva de crescimento dos EVs, em nível global, o CEO da montadora nipônica não acredita que seus planos possam ser revistos, no curto prazo.

“Desde o início da virada da eletromobilidade, já esperávamos que o mercado de veículos elétricos crescesse de forma constante e linear. Não há a menor dúvida de que, em médio e longo prazos, os EVs puros são a melhor solução para eficiência energética e serão dominantes entre os carros de passeios, os comerciais leves e até para o transporte pesado de até 6 ton”, sublinha Toshihiro Mibe.

Enquanto o Mibe anuncia investimentos de US$ 4,4 bilhões (o equivalente a R$ 24,6 bilhões) para a construção das novas linhas de produção de baterias e montagem de EVs, em Ohio, e US$ 11 bilhões (R$ 61,4 bilhões) para uma cadeia de suprimentos em Ontário, no Canadá, a subsidiária brasileira se fortalecer, no Brasil, com uma fração disso.

“Estamos alinhados ao compromisso global de alcançar a neutralidade de carbono em produtos e atividades corporativas, até 2050”, afirma o presidente da Honda “brasileira”, Arata Ichinose.

Enquanto, no além-mar, a aposentadoria dos motores a combustão é condição ‘sine qua non’ para a marca, no país do Carnaval “a introdução da exclusiva tecnologia e:HEV flex” é apresentada como a quintessência da Engenharia – o que é mentira. O sistema e:HEV flex nada mais é do que uma híbrido paralelo, em que tanto o motor a combustão interna – olha ele aí! – quanto o elétrico impulsionam o veículo, com a unidade elétrica operando de forma independente em situações de baixa demanda de potência, como nas manobras na garagem e no anda-e-para dos congestionamentos – nas situações de maior exigência, como numa ultrapassagem na estrada, ambos trabalham em conjunto.

Apenas para o leitor ter uma ideia, basta comparar o “novo” WR-V que será montado no Brasil a partir do segundo semestre de 2025, portanto com dois anos de atraso em relação ao seu lançamento, no Japão, com o Saloon (sedã) da Série 0: este último, para além do estilo futurista, trará uma nova interface (UI) com o motorista e funções autônomas para diversas situações de condução. Já o modelo que será nacionalizado é montado sobre a mesma plataforma do City, herdando seu mesmíssimo trem de força e oferecendo, apenas na versão topo de linha e por um preço aviltante, um conjunto híbrido que, daqui três anos, estará em desuso no mundo inteiro.

É a disrupção “à moda tupiniquim”: pega-se o que está sendo descontinuado no Primeiro Mundo, embala-se para presente, enfeita-se com um lacinho de desinformação e vende-se como cibernovidade para a classe média mais desqualificada do mundo. Não é à toa, mesmo, que a África já está nos deixando para trás...

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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