O artesão que faz customizações perfeitas usando miniaturas
Rebaixamento, rodas, acessórios, tudo isso também é possível em carros de escalas menores de pelas mãos de um carioca radicado na Bahia
Por Fernando Miragaya
Uma Saveiro em inédita versão GTI. Um Fusca com interior e motor de Porsche. Um Plymouth Fury “meio” inspirado no mesmo carro do livro/filme “Christine, o Carro Assassino”. Automóveis que podem custar menos de quatro dígitos... mas calma que eles não estão anunciados na Mobiauto.
São modelos raros que foram, obviamente, customizados. Mudaram rodas, suspensão, partes da carroceria, conjunto mecânico, pintura. Tudo como em uma oficina de preparação automotiva, não fosse pelo tamanho - da oficina e dos veículos.
Os já citados e outros carros sensacionais que você lerá - e verá - nesta reportagem são miniaturas transformadas por um artista que vive em Santa Cruz Cabrália (BA).
É na cidade do paradisíaco sul baiano onde, dentro de um quarto da casa e da garagem, Antonio Carlos Ribeiro Martins Júnior, mais conhecido como Júnior Martins ou Júnior 22, montou seu misto de ateliê e oficina.
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Lá, esse carioca de 46 anos, radicado desde 2004 no município baiano a 17 km de Porto Seguro, passa horas em um trabalho minucioso, artesanal e fascinante. Se customizar um automóvel de verdade exige bastante técnica e tempo, um carrinho em escalas mínimas demanda as mesmas habilidades.
Pois é, Júnior faz personalização de modelos que vão desde o tamanho 1:64 até escalas 1:18. E não só customização, como transformações que vão além de mudar para-lamas ou a cabine. O mago das miniaturas já pegou um Datsun 240Z na proporção para criar um Volks SP2 - esses na proporção 1:18.
Alguém pode até dizer imprudentemente que é uma escala grande. E o que dizer do furgão Hot Wheels do Plâncton do desenho do Bob Esponja que virou um caminhão plataforma? Isso mesmo, e com direito ao Maverick 1973 da equipe Berta-Hollywood, campeão da Divisão 3 Brasileiro de Turismo dos anos 1970.
“Faço o trabalho como em um carro real. Na maioria das vezes faço rebaixamento de suspensão, troca de rodas, colocação de acessórios e pintura. Mas tem as miniaturas que eu modifico profundamente”, explica Junior.
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Paixão que virou negócio
O que era hobby virou atividade. Na verdade, a arte hoje é a fonte de renda do carioca. Junior sempre gostou de carros e trabalhou em lojas de peças para veículos e bicicletas, e por alguns anos também atuou com reparo e customização automotiva - em modelos de escala real, até então.
Adaptou o fascínio por automóveis e a experiência das oficinas a escalas menores. Por volta de 2009, voltou a um hábito de criança: mexer em miniaturas. Porém, começou também a criar peças e acessórios especificamente para os carrinhos.
“Tudo começou até devagar, com um amigo ou outro querendo uma peça feita por mim. Depois começou uma troca com outros customizadores de miniaturas. Aí eu enviava uma peça minha e ele enviava uma dele”, lembra.
Em 2011 vieram as primeiras encomendas e a arte virou negócio. Há seis anos, Junior se dedica exclusivamente à personalização de miniaturas e faz desse ofício um passatempo profissional. Ele alterna suas próprias criações com os pedidos dos clientes.
“Tem as miniaturas prontas que eu criei, o cliente gosta e eu vendo. Mas geralmente a pessoa tem uma ideia toda em mente e eu desenvolvo. Ou, às vezes, tem a ideia do projeto mas deixa cores e acabamentos à minha escolha”, explica.
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Sem dia ruim
Não tem nem desculpa se tem miniatura boa ou ruim para mexer. Júnior reconhece que, obviamente, os modelos em escalas maiores geralmente são mais fáceis de mexer. Mas, conforme o serviço, isso está longe de ser uma regra.
“Algumas 1:64 são fáceis de desmontar, geralmente a peça é colada e tem um prolongamento. Outras não soltam tão fácil. Muitas vezes, quanto mais cara a miniatura, mais complicada de desmontar”, compara.
Além disso, qualquer escala e marca é vista em sua oficina. Hot Wheels, Misto, Welly, Matchbox… o que vier ele encara o desafio. “Algumas marcas têm diferenças na quantidade e qualidade das peças. Mas o processo para desmontar e fazer geralmente é bem parecido”, garante.
O trabalho, de qualquer forma, é bem minucioso. “Em alguns casos tem muita modificação estrutural e aí tem de fazer enxertos em partes do carro para modificar”, destaca Júnior, que detalha um pouco do processo.
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“Colo, começo a secar e venho com massa moldando as formas do carro. Então, faço lixamento. Se não gostei de um determinado detalhe, refaço”, acrescenta.
O artesão de miniaturas diz que os pedidos mais frequentes são de troca de rodas, rebaixamento e colocação de acessórios. Em média, são serviços que podem levar de dois a cinco dias - desde a chegada da miniatura às mãos de Júnior.
Já a transformação de um carro pode levar de 15 a 20 dias, como no caso do caminhão plataforma da Berta-Hollywood. Claro que o prazo também depende do tipo de mudança, dos processos e da disponibilidade de peças.
“Nestes casos, em geral, preparo a carroceria toda e depois faço detalhes pequenos, como borda de paralamas e contorno de farol, e isso costuma demandar bastante tempo”, reforça.
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Matéria-prima
Quando escrevi que a sede da Júnior 22 é um misto de ateliê e oficina não trata-se de licença poética. O customizador recorre aos mesmos materiais usados em mecânicas de reparação automotiva.
Massas plásticas e de poliéster, tinta e verniz automotivos, adesivo estrutural (veda-choque) são alguns dos insumos básicos para o carioca manter a sua arte.
No caso das rodas, Júnior conta que já se encontra bastante da peça para usar em customização de miniaturas. Existem rodas prontas, ou totalmente plásticas ou com os pneus de borracha. Muitas, inclusive, são feitas em impressoras 3D - uma ferramenta que ele não dispõe em sua oficina.
Outra estratégia é recorrer a miniaturas “doadoras” para aproveitar peças, que podem não ser necessariamente daquele modelo que será customizado, mas que servem de base para uma modificação/adaptação. Muitos componentes, contudo, ele tem de fazer à mão.
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O retrovisor de um Mustang 1:18 que está em processo de customização é um exemplo. Ele até conseguiu a “sucata” do espelho direito do muscle car da Ford, mas faltava o esquerdo.
Júnior usou quatro peças de estireno de 3mm, lixa, micro retífica, tesoura e estilete e… voilá: nasceu o retrovisor do esportivo da Ford - agora só na pendência do acabamento.
“Fabrico do zero, seja um spoiler dianteiro, uma lateral, ou um parachoque. O SP2 a partir do Datsun eu fiz os pára choques do zero, Peguei duas peças de estireno, colei as duas, cortei no formato desejado e moldei com lixa até chegar no formato desejado. Por fim, fiz o acabamento”, recorda.
A propósito, aos olhos nus de pessoas como este ex-míope que vos escreve, um 240Z e um SP2 tem pouquíssimas semelhanças - seja em escala real, tampouco em escala menor. Só que o processo de mudança de uma miniatura em outra começa justamente pelo olhar atento e detalhista de Júnior.
“Tenho facilidade para visualizar esse tipo de modificação, de ver um carro que possa se transformar em outro”, garante.
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Mudança radical
Essa facilidade de percepção e atenção aos detalhes também ajuda Júnior em outros exemplos de transformações dos carrinhos. Não são raros os clientes que solicitam que uma miniatura de sedã se torne um cupê ou uma station-wagon.
Para tal, Júnior tem novamente de pesquisar outros modelos “doadores” para ver qual oferece as dimensões e espaçamento de colunas mais próximas. Então, ele pega a miniatura que será sacrificada e corta o teto com todas as colunas. No carrinho que vai receber a nova carroceria, o corte vai além da lateral, em prol da rigidez do modelo.
“Na miniatura que vai receber a peça preciso cortar parte da lateral para encaixar esse excesso, e é isso que vai me dar rigidez na estrutura, que vai deixar a miniatura mais resistente”, observa.
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Portfólio incrível
A lista de criações e adaptações é de dar inveja até aos customizadores do “Carros Irados”, do Discovery Turbo. Além do VW Santana GTI, tem o Fusca 1950 em 1:18 com interior e motor de Porsche, para-brisa basculante e teto solar. A cor branca e azul-turquesa foi inspiração de um Fusca 1969 que Júnior teve.
Tem mais. Júnior já pegou um Cadillac 1957 e teve a missão de colocar na miniatura bancos e o motor de um Viper. Além da adaptação do 10 cilindros do saudoso esportivo da Dodge, ele teve de refazer toda a parte de suspensão e escapamento na personalização.
Um dos modelos mais emblemáticos, talvez, seja o Plymouth Fury 1958 vermelho e branco. Associou o automóvel? Reconheceu nas fotos? Sim, é o personagem principal de “Christine, o Carro Assassino”, livro de Stephen King que ganhou as telas do cinema em 1983, sob direção de John Carpenter.
No caso, o desafio de Junior foi pegar o Plymouth e fazê-lo meio a meio: metade original, a outra no estado em que o personagem Arnie Cunningham adquire o veículo, que mais tarde vai revelar ser possuído por uma alma maligna.
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Encomendas
O customizador adotou o nome Júnior 22 depois que criou seu perfil no Instagram, em 2019. Ele recebe boa parte das encomendas pela rede social e os valores para os serviços variam conforme o tipo de transformação.
A customização de um carro 1:64, com Júnior dando a miniatura, geralmente fica entre R$ 120 e R$ 200. Adaptações como rebaixamento e mudança das rodas, custam, em média, R$ 150 - com o cliente enviando as rodas.
Serviços mais complexos, como o caminhão plataforma - que, inclusive, foi premiado em um dos muitos concursos vencidos por Júnior -, podem sair a R$ 300. Uma criação dele próprio pode ir além, conforme o nível de exclusividade. O SP2 originalmente Datsun 240Z foi vendido por R$ 1.200. Isso porque não existem exemplares do cupê da Volkswagen em escala 1:18.
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