Tesla Cybercab, grande aposta de Elon Musk, é inviável
Elon Musk revela táxi sem volante de R$ 170 mil, que não pode circular nos EUA, e robô humanoide de mentirinha que, na verdade, é operado por controle remoto
Quando se trata de “vender areia no deserto” por meio de bazófias e fanfarronices, não há ninguém que se compare ao bilionário Elon Musk. O sul-africano que se fez no Texas é o maior parlapatão do mundo, atualmente, e braveteadores do nível de Pablo Marçal parecem saídos do jardim da infância, diante de Musk.
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E não importa quanto seus investidores percam, ao mesmo tempo em que ele enche os bolsos: ‘Elonzinho’ segue prestigiado, mesmo diante das perdas de US$ 520 bilhões (o equivalente a R$ 2,95 trilhões) da Tesla, que viu sua capitalização de mercado despencar de US$ 1,23 trilhão para US$ 707,3 bilhões, nos últimos três anos.
“Elon Musk tem um longo histórico de exageros, antecipando o
cronograma de lançamento de veículos, como seu tão esperado robotáxi – o
Cybercab, anunciado por menos de US$ 30 mil. Sabemos que, no plano da
realidade, ele está a anos de distância de um automóvel totalmente autônomo”,
avalia a presidente-executiva (CEO) da consultoria de Wall Street CFRA
Research, Theresa Torian, que apenas engrossa o coro de quem – viu e – se
decepcionou com o mais recente teatro do absurdo protagonizado pelo industrial
sul-africano, no último dia 10, que teve direito até mesmo a um humanoide de
mentirinha.
O leitor desavisado tende a acreditar que a Tesla – a mesma marca de EVs que viu mais de 40% do seu valor de mercado, simplesmente, evaporar – ainda vai inundar o mundo com seus robôs Optimus, uma espécie de “ciberempregada doméstica”, mas em Wall Street, onde os tubarões dos investimentos nadam de costas, a luz amarela já acendeu para Musk.
“Todos sabem que seus cronogramas são fictícios, já conhecem seu histórico de atrasos e, principalmente, sabem que ele promove seus futuros produtos anunciando avanços que, na prática, não se materializam”, pontua Theresa.
Nesta sexta-feira, dia 18, a Administração norte-americana de Segurança Rodoviária (NHTSA) abriu uma investigação que alcança 2,4 milhões de EVs da Tesla, nos Estados Unidos, depois que o Full Self-Driving (FSD) falhou e um modelo da marca atropelou um pedestre, matando a vítima. O Departamento de Investigação (ODI) do órgão, identificou outras quatro ocorrências semelhantes, todas em condições reduzidas de visibilidade e com o FSD acionado – para quem não conhece o FSD, trata-se de um opcional ofertado como direção autônoma por US$ 8 mil (o equivalente a R$ 45,5 mil), acima do AutoPilot.
Pior, o Cybercab apresentado por Musk não tem, hoje, condições de ganhar as ruas, explica o professor de Direito da Universidade da Carolina do Sul, Bryant Walker Smith. “Aqui, nos EUA, não temos um ‘Xandão’ na Suprema Corte, como ocorre no Brasil, mas temos muitas leis e elas não permitem que carros sem volante ou pedais de acelerador e freio circulem pelo país. Para que isso ocorra, a Tesla terá que obter uma permissão especial da NHTSA e mesmo conseguindo algo que, neste momento, parece muito improvável, só poderia colocar 2.500 robotáxis nas ruas”, detalha Smith. “Hoje, obstáculos regulatórios inviabilizam o Cybercab e ponto final”.
Optimus: picaretagem ao quadrado
Em outras palavras, quando Musk diz que iniciará a produção e as vendas do Cybercab, em 2026, está apenas mentindo descaradamente para tomar dinheiro de investidores mais crédulos – dinheiro que, daqui alguns anos, será revertido em prejuízo de 42,5% para o incauto.
O professor lembra que, desde 2015, a Tesla possui uma licença para testar sua tecnologia autônoma, mas com a presença de um motorista de segurança humano. Ele também lembra que, desde 2019, a marca não promove novos testes:
“Não há dúvidas de que a Tesla, simplesmente, não tem um
sistema de condução que dispensa motorista e que seja razoavelmente seguro”,
sentencia Smith. “Musk fala, há dez anos, que está cada vez mais perto de
apresentar um veículo autônomo (AV) de verdade, mas até hoje não mostrou um
protótipo sequer”, acrescenta o catedrático.
Durante a pseudoapresentação do Cybercab, a Tesla brincou seus convidados com os humanoides Optimus, que serviram bebidas e trocaram algumas palavras com quem esteve no estúdio Warner Bros, em Hollywood.
“O Optimus pode fazer tudo o que você pensar. Pode ser um professor particular para seus filhos, uma babá, pode cortar a grama, passear com seu cachorro, fazer compras e ser seu amigo”, garante Musk. Apesar de parecer a robô Rosie, a empregada doméstica do desenho animado “Os Jetsons”, o androide apresentado junto com o Cybercab está longe, mas muito longe do personagem da década de 60. É que, longe dos olhos dos presentes, um time de operadores comandava todas as ações dos robôs por controle remoto, elevando a picaretagem à enésima potência.
“Os presentes e, principalmente, os acionistas esperavam por
um novo EV de entrada, mas ao contrário dos eventos para investidores, foi um
show seguido de uma festa grandiosa, uma presepada”, comenta o analista Edison
Yu, do Deutsche Bank, lembrando que, em 11 outubro, as ações da Tesla caíram
drasticamente.
“É isso? Isso é sério?”, indagou o analista Adam Jonas, do Morgan Stanley, ao ver uma das unidades do Optimus dançando – para quem viu a incomparável Carla Perez no palco, não dá nem para considerar aquilo uma dança. Perguntado por quem, inocentemente, acreditou que os humanoides eram autônomos e não sabia que estavam sendo manipulados por trás das cortinas, Musk disse que seu preço final ficaria na casa dos US$ 25 mil (o equivalente a R$ 136,5 mil).
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