Avaliação: nova Ford Ranger V6 é a melhor picape média que já tivemos?

A nova geração da Ford Ranger chegou sob o mantra de que vai “redefinir o segmento” de picapes médias. Para isso, fará uso de várias tecnologias, uma plataforma amplamente revisada e até um motor V6 biturbo diesel que já serviu diversos outros produtos da própria marca americana e até da Land Rover, como contamos neste artigo.

Claro que a idade avançada das concorrentes ajuda. Toyota Hilux, Chevrolet S10, Mitsubishi L200 Triton, VW Amarok, Nissan Frontier, todas são projetos que remontam à primeira metade dos anos 2010. A Ranger 2024 tentará capitalizar justamente em cima disso, posicionando-se como a picape média mais moderna à venda no Brasil, e com alguma sobra.

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A Mobiauto já experimentou a nova Ford Ranger e conta quais são suas principais virtudes, além das lacunas que ela ainda não conseguiu preencher, nesta briga tão difícil para conquistar clientes brasileiros de picapes médias.

Para isso, a versão avaliada foi a Limited Plus, a de topo, única dotada de um pacote opcional de R$ 20.000, que traz tudo que ela tem a oferecer. Seu preço chega a R$ 340.000. Clique aqui para ver a lista completa de versões, preços e itens de série da Ranger 2024. Confira a experiência completa no vídeo a seguir e, mais abaixo, veja o artigo em detalhes:

Preço: R$ 319.990 pela versão Limited mais R$ 20.000 pelo pacote Plus. Total: R$ 339.990.

Plataforma revisada

A nova geração da Ford Ranger utiliza uma versão substancialmente revisada da plataforma T6, que já servia à picape média em seu ciclo de vida anterior. Além de mudanças em quase toda a estamparia da cabine, o chassi ganhou novas longarinas, mais compridas e largas, e com 25% mais aços de alta resistência.

Resultado, a Ranger 2024 não apenas ficou 20% mais rígida em termos de inclinação lateral ou longitudinal, como também permite uma articulação 12% maior das longarinas. Parecem dados conflitantes, mas juntos eles ajudam a melhorar tanto o conforto sobre o asfalto quanto suas capacidades off-road.

As suspensões foram reforçadas e a traseira passou a contar com quatro estágios de carga, com feixe de quatro molas semielípticas e amortecedores externos às próprias longarinas.

E, devido a uma nova arquitetura elétrica, formada por 35 módulos, 22 sensores, três radares, cinco câmeras, um modem, sete antenas, um microfone, seis alto-falantes e 22 switches de comando, a Ranger 2024 se tornou a primeira picape média no Brasil a oferecer dois mimos que já se tornaram fortuitos em outras categorias: direção eletricamente assistida e freio de estacionamento eletrônico.

Já as assistências ativas de condução, como frenagem autônoma emergencial, ACC (controle de cruzeiro adaptativo) com função anda-e-para, assistente ativo de mudança de faixa e alerta de tráfego cruzado traseiro, apesar de previstos nessa plataforma revisada, ficam restritos à versão de topo, Limited, com o pacote opcional Plus.

Motor de “Land Rover”, câmbio GM

A Ford também promoveu mudanças em toda a motorização de seu produto mais vendido na América do Sul. Os motores são inéditos na gama, embora não necessariamente desconhecidos dos brasileiros.

Como contamos neste artigo, o V6 que equipa a versão Limited Plus está presente em vários modelos da Land Rover, apesar de ser de origem Ford. O câmbio automático de dez marchas é um projeto GM em parceria com a própria Ford e a fabricante ZF.

Ele equipa, entre outros modelos, os muscles Camaro e Mustang, além das picapes grandes Silverado e F-150, todos produtos já oferecidos ou que serão comercializados no Brasil em algum momento.

Desempenho

Com o motor V6 biturbo a diesel de 250 cv de potência, atrás apenas dos 258 cv da VW Amarok V6, e 61,2 kgfm de torque, o maior do segmento, a Ford Ranger de nova geração apresenta um desempenho exemplar.

Há muita força e fôlego, com o adicional de que o propulsor Lion de seis cilindros em V desenvolve toda sua elasticidade de modo muito linear, quase sem turbolag ou progressão brusca de potência e torque. Aqui, destaque para o ótimo desempenho do câmbio, com degraus bem escalonados entre as marchas e trocas quase imperceptíveis.

Como a plataforma está mais rígida, a nova Ranger proporciona ótima estabilidade e muito “chão” em rodovias asfaltadas. Tanto que a velocidade passa fácil de 120 km/h e o motorista só percebe quando olha para o velocímetro. Os freios são surpreendentemente eficientes para uma picape média acima de 2 toneladas.

Para melhorar, o conforto acústico da nova Ranger é o melhor da categoria com alguma folga. Para se ouvir o clac clac do ciclo Diesel ou o silvo da turbina, só abrindo as janelas. Com elas fechadas, os ruídos externos quase desaparecem.

Dirigibilidade

Óbvio que a Ford Ranger continua a trazer algumas limitações típicas de uma picape média construída com chassi sobre longarina. A direção, mesmo elétrica, ainda tem certa dose de letargia e imprecisão aos comandos, enquanto a traseira ainda quer ficar boba se você tentar contornar uma curva com mais embalo, principalmente no off-road.

Entretanto, se comparada às suas rivais, os níveis desse comportamento são muito comedidos, a ponto de quase não sentir a cabine “dançar” sobre as longarinas. De mesmo modo, a suspensão traseira “quica” em doses comedidas, graças ao conjunto com quatro estágios de batente.

Consumo

Segundo o PBEV (Programa de Etiquetagem Veicular) do Inmetro, a Ford Ranger V6 2024 alcança 8,9 km/l na cidade e 10,2 km/l na estrada. Ela roda 0,3 km/l a mais do que a antecessora com motor 3.2 Duratorq nos dois ciclos.

Design

O visual da Ford Ranger 2024 é mais quadrado e imponente, mas convenhamos: se parece demais com o que já vemos nas primas menor, Maverick, e maior, F-150, o que arrefece um pouco a originalidade e o impacto das mudanças.

Na versão de topo, os faróis em formato de C possuem guias e projetores de LED, com ajuste manual de altura do facho. Já as lanternas têm apenas guias de posição em LED. As rodas de liga leve aro 20, por sua vez, são exclusivas do pacote Plus.

Um escorregão da Ford é que não há capota marítima de série na nova geração da Ranger em nenhuma versão. Pelo menos a caçamba traz protetor, iluminação interna, ganchos para cordas e até uma régua, na ponta da tampa, para medição de objetos no sistema métrico.

Falando em tampa de caçamba, esta possui mais vincos e até o nome do modelo grafado em baixo relevo, nova moda do mercado de picapes.

Dimensões e capacidades

Na troca de geração, a Ford Ranger 2024 mais ganhou do que perdeu em termos de capacidades. Sua altura em relação ao solo foi elevada em 0,3 cm, para 23,5 cm, o que permitiu um aumento do ângulo de ataque para 30°.

Já o ângulo central caiu em 3°, para 22°, devido ao aumento de 5 cm no entre-eixos, enquanto o ângulo de saída segue em 26°, por conta da caçamba encompridada. A capacidade de carga subiu levemente, para 1.023 kg, enquanto o volume da caçamba aumentou de 1.180 para 1.250 litros.

No entanto, o maior ganho veio na capacidade de reboque com freio, que saltou de aproximadamente 2,7 toneladas para 3,1 toneladas. Além disso, ela é a única da categoria a oferecer seis modos de condução, com bloqueio de diferencial traseiro e uso das primeiras marchas do câmbio como reduzida.

Em nosso teste, pegamos trechos mais pesados de terra, pedras e até dunas de areia, e a Ranger 2024 se saiu muito bem. Ou seja, provavelmente estamos falando da geração com maior apetite para o off-road que a picape média da Ford já teve.

Acabamento e espaço interno

O padrão de acabamento da nova Ford Ranger melhorou, mas não a ponto de merecer tanto destaque. Ainda há excesso de plástico rígido e os bancos possuem estrutura relativamente simples, especialmente o traseiro.

O encosto traseiro é rebatível, a fim de acessar itens como macaco e triângulo de sinalização, mas não há espaço interno para bagagens como mochilas ou malas pequenas. Já para pernas, cabeça e ombros, o nível é similar ao de outros modelos do segmento, mas com um encosto lombar traseiro ereto demais.

Ergonomia e conforto

Se a vida de quem senta atrás continua não sendo a mais fácil do mundo, na fileira da frente não há do que reclamar. Bancos macios, bem postados e um conjunto de comandos e botões muito bem arranjado no painel e nas guarnições das portas.

As maçanetas, por exemplo, ficam escondidas dentro dos puxadores internos das portas, e são acionadas ao estilo F-150, de modo prático. Há dois porta-luvas no painel e espaço para depositar objetos com abundância, mas não tanto para garrafas de água de maior volume.

Ford Ranger Limited Plus V6 2024 - Ficha técnica

Motor a combustão	3.0, dianteiro, longitudinal, 6 cilindros em V, 24V, turbo, diesel, injeção direta, duplo comando de válvulas
Potência	250 cv a 3.250 rpm
Torque	61,2 kgfm a 1.750 rpm
Taxa de compressão	16:1
Peso/potência	9,43 kg/cv
Peso/torque	38,5 kg/kgfm
Câmbio	automático, 10 marchas
0 a 100 km/h	9,2 s
Velocidade máxima	180 km/h (limitados eletronicamente)
Consumo Inmetro	7,5 km/l na cidade e 11,8 km/l na estrada
Tração	4x4 com bloqueio de diferencial traseiro e reduzida
Dimensões e capacidades	5.370 mm de comprimento, 3.270 mm de entre-eixos, 1.860 mm de largura, 1.884 mm de altura, 1.250 litros de caçamba, 1.023 kg de capacidade de carga, 3.100 kg de capacidade de reboque (com freio), 80 litros de tanque de combustível (estimados), 2.357 kg de peso em ordem de marcha.
Dados técnicos	direção elétrica progressiva; suspensão braços sobrepostos triangulares (dianteira) e eixo rígido com feixe de molas semielípticas (traseira); freios a discos ventilados (dianteira) e discos sólidos (traseira); diâmetro de giro não divulgado; coeficiente aerodinâmico não divulgado; vão livre do solo, 23,5 cm; ângulo de ataque, 30°; ângulo de saída, 26°; ângulo de transposição de rampas, 22°; capacidade de imersão, 80 cm; pneus, 265/55 R20; estepe 255/65 R18.

Ford Ranger Limited Plus V6 2024 – Itens de série

• Controle adaptativo de carga
• Tração 4x4 com reduzida
• Painel de instrumentos de 8 polegadas
• Multimídia Sync 4 com tela de 12”
• Projeção sem fio de Android Auto e Apple CarPlay
• Faróis de LED com DRL, ajuste elétrico de altura do facho e farol alto automático
• Rodas de liga leve aro 20
• 6 modos de condução (Normal, Eco, Reboque, Escorregadio, Lama e Areia)
• Frenagem autônoma de emergência
• Bancos de Couro
• Freio de estacionamento eletrônico
• Reconhecimento de sinalização de trânsito
• Frenagem automática pós-colisão
• Controle de velocidade em descidas
• Câmera 360
• Assistente de partida em rampa
• Sete airbags
• Faróis de neblina full-LED
• Banco do motorista com ajuste elétrico e regulagem em oito posições
• Indicador de pressão dos pneus
• Sensores de estacionamento dianteiro e traseiro
• Assistente de ponto cego de reboque
• Provisão elétrica de reboque
• Volante com regulagem de altura e profundidade
• Start-stop
• FordPass Connect (atualização remota)
• Carregador de celular por indução
• Ranger Expert (Suporte do FordPass para esclarecer dúvida)
• Monitoramento da vida útil do óleo
• Degrau de acesso a caçamba
• Bagageiro de Iluminação caçamba
• Estribo plataforma
• Retrovisores com ajuste e rebatimento elétrico, e luzes de seta integradas
• Luzes indicadoras de direção nos retrovisores
• Santantônio
• Navegador off-road
• Cluster digital de 12,4”
• Piloto automático adaptativo (ACC) com função “para e anda”
• Assistente ativo de permanência em faixa
• Alerta de tráfego cruzado traseiro com frenagem autônoma
• Alerta de ponto cego
• Assistente de manobra evasiva
• Assistente de cruzamento

Ford Ranger Limited Plus V6 2024 vale a pena?

Sim. Além de proporcionar a melhor experiência de condução no momento entre as picapes médias vendidas no Brasil, a nova Ford Ranger traz uma ótima dose de tecnologias e segurança a bordo, incluindo uma central multimídia vertical muito rápida, com sistema Sync 4, câmeras para auxílio a manobras off-road e itens de segurança ativa na versão mais completa.

As rivais estão antigas e defasadas? A Ford não tem nada com isso e quer aproveitar esse hiato para fazer a Ranger 2024 brigar pelo menos pela vice-liderança do segmento com a Chevrolet S10. Superar a líder de vendas, Toyota Hilux, seria quase impossível, mas predicados para isso ela bem que possui.

E quanto ao questionamento do título deste artigo, podemos considerá-la, sim, a melhor picape média que já tivemos. Claro que ainda há detalhes a corrigir, mas a Ranger já garante dirigibilidade superior ao das picapes do segmento vendidas aqui e tem estrutura atualizada para entregar as mesmas tecnologias que um carro de passeio pode oferecer atualmente. Só faltou a Ford disponibilizar as assistências de condução de série – mesmo que fossem atribuídas apenas às versões mais caras.