Chevrolet Blazer: história do SUV vai muito além do que você conhece

SUV raiz usava picape S10 como base, marcou a virada dos anos 2000 e era opção parruda e mais racional que existia no mercado

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05.01.2023 às 20:30 • Atualizado em 12.11.2024
SUV raiz usava picape S10 como base, marcou a virada dos anos 2000 e era opção parruda e mais racional que existia no mercado

Ele deixou nossas concessionárias há mais de dez anos, mas ainda vive nas ruas e no imaginário do brasileiro. É a imagem do SUV clássico nacional, posto dividido com seu avô, Veraneio. 

Durante anos foi a definição de carro grande de frota, trabalhando como policial, entregador, taxista e até carro fúnebre. Reinou praticamente sozinho no mercado de SUVs de chassis e carroceria, do final da década de 1990 até meados dos anos 2000. 

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Mas você conhece as origens do nosso Chevrolet Blazer? Fique conosco, garanto que você vai se surpreender!

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Figura 1 - Chevy Blazer K5: a primeira Blazer

Para contarmos a história do Blazer é necessário, em um primeiro momento, separar o nome e o carro que tivemos aqui. 

O primeiro Chevrolet Blazer foi lançado em 1969, e não era derivado da antiga S10. O nome S10, por sinal, é mais novo que o nome Blazer. Chegaremos lá… 

O mercado dos utilitários 4x4 crescia nos EUA. O pioneiro Jeep ainda tinha sua força, e outras montadoras já tinham seus modelos, como o Ford Bronco e o International Harvester Scout. Então, a General Motors decidiu entrar na briga e lançar o Blazer. 

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Figura 2 - A segunda geração da Chevy C10, que originou a K5 Blazer

Entretanto, ao invés de desenvolver um off-road menor, a GM preferiu usar o chassis empregado na família de picapes e SUVs grandes, Chevrolet C10 e Suburban. 

Assim nasceu o Chevrolet K5 Blazer, com dimensões consideravelmente maiores que seus concorrentes, e opções de tração 4x2 ou 4x4 temporário. 

Vale lembrar que esse SUV, em 1970, ganhou a versão da GMC, chamada Jimmy. Além disso, essa geração da Plataforma C/K que deu origem ao Blazer lançado em 1967, uma sucessora à geração que deu origem aos nossos Chevrolet Veraneio e C10. 

Ou seja, o primeiro K5 Blazer é uma espécie de “avô” do Chevrolet Bonanza, vendido por aqui até o início dos anos 1990. 

Essa primeira geração do SUV sobreviveu até 1972, e teve como opções de motores: seis cilindros em linha de 4,1 e 4,8 litros, e V8 de 5.0 e 5.7 - sempre a gasolina. A transmissão podia ser de três marchas, manual e automática, ou de quatro marchas com trocas manuais. 

Ela ainda trazia características interessantes como os bancos traseiros que eram opcionais, e o teto que podia ser completamente removido.

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Figura 3 - Na segunda geração ainda era possível remover completamente o teto

Em 1973, foi lançada a segunda geração do K5 Blazer. Inicialmente, o teto removível foi mantido - e ficou disponível até 1976 -, e o SUV era maior do que a primeira geração em todas as dimensões. 

Essa geração foi vendida até 1991 com várias novas opções de motores: 

  • 4.1 de seis cilindros, de 105 hp e 251 Nm a 130 hp e 285 Nm;
  • 5.0 V8, de 130 hp e 240 Nm (com carburador de corpo duplo) a 170 hp e 260 Nm (com injeção eletrônica monoponto);
  • 5.7 V8, de 160hp e 275 Nm a 210 hp e 300 Nm;
  • 6.6 V8, de 185 hp e 300 Nm;
  • 6.2 V8, de 135 hp e 240 Nm (única opção à diesel).

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Figura 4 - A terceira e última geração da Blazer original

Duas décadas depois, a GM lançou aquela que seria a última geração do Blazer original, e deu o pontapé inicial para uma série de mudanças. 

Começando que o modelo perdeu o código K5 e passou a ser chamado de Full Size Blazer - uma forma de diferenciá-lo do Blazer menor (chegaremos lá). Lembra do GMC Jimny? Então, em 1992, a marca o rebatizou de GMC Yukon, nome que permanece até hoje na versão GMC do Chevrolet Suburban. 

O Blazer 1992 estreou a plataforma GMT 400, que era a base da picape C/K lançada quatros anos antes - como referência, a Chevrolet C/K GMT 400 foi vendida por aqui nos anos 1990 como Chevrolet Silverado, e ficou no mercado americano até 2002. 

A terceira geração do Chevrolet Blazer era ligeiramente maior que a segunda. As opções de motorização foram reduzidas a duas: 5.7 V8 a gasolina ou 6.2 turbodiesel V8. A transmissão podia ser automática de quatro marchas ou manual de cinco marchas. 

Em 1995, o nome Blazer foi descontinuado nos Estados Unidos, sendo substituído pelo Chevrolet Tahoe. 

A partir daí, o Chevrolet Tahoe/GMC Yukon poderia ser oferecido também com uma versão alongada e quatro portas. Esta é bem conhecida por nós brasileiros pois foi vendida por aqui como Chevrolet Grand Blazer.

De onde vem a nossa Blazer?  

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Figura 5 - Chevy LUV: a avó da nossa S10

Entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980, a crise do petróleo e a invasão dos carros asiáticos, principalmente japoneses, no mercado americano aumentou a procura por carros menores. 

Os grandes cupês de duas portas foram praticamente extintos, e começaram a surgir as picapes pequenas. Nesse cenário, em 1982, a GM foi a primeira das três grandes (Chevrolet, Ford e Dodge) a produzir nos EUA uma picape pequena, batizada de S10. 

O grupo já oferecia uma picape desse tipo no mercado. Porém, a Chevrolet LUV era basicamente uma Isuzu KB vendida com o emblema da gigante americana.

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Figura 6 - A primeira S10

Para viabilizar a produção doméstica da picape, a GM se baseou na Isuzu e desenvolveu um novo projeto, que compartilhava componentes com Chevy Monte Carlo, Chevy Malibu, Oldsmobile Cutlass, Buick Regal etc. Dessa salada, nasceu a Chevrolet S10 - batizada pela GMC de S-15, que depois virou Sonoma.

E é nesse ponto, meus amigos, onde o nome encontra o carro. Em 1983, a Chevrolet lançou seu SUV médio (para os padrões americanos) feito com base na Chevrolet S10, e o batizou de Chevrolet S10 Blazer. Seu irmão da GMC foi batizado de S-15 Jimmy. 

O modelo era consideravelmente menor que o Blazer K5, sendo 37 cm mais curto e 38 cm mais estreito, o que lhe deu a alcunha de Baby Blazer - inicialmente eram oferecidas somente versões com duas portas.

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Figura 7 - Primeira geração do S10 Blazer

A primeira geração do S10 Blazer teve como opção de motores alguns quatro-cilindros: 1.95 (de origem Isuzu), 2.0, 2.2, 2.5 e 2.8, além do 4.3 V6 Vortec - todos a gasolina. A única versão a diesel contava com um 2.2 de quatro cilindros.

Curiosamente, a primeira geração do S10 Blazer também foi comercializada como Oldsmobile Bravada, e também serviu de base para o projeto do Grumman LLV (Long Life Vehicle) - que nós conhecemos como o simpático caminhãozinho do serviço postal americano.

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Figura 8 - Grumman LLV

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Figura 9 - Segunda geração, sem o "S10" no nome

Em 1994, foi lançada a segunda geração do Chevrolet Blazer, agora sem o “S10” no nome, uma vez que seu irmão maior já se chamava Tahoe, e não mais K5 Blazer. 

No mercado americano era oferecida com duas ou quatro portas, com a frente lembrando a da Tahoe, mas com linhas mais arredondadas. A única opção de motor oferecida por lá era a Vortec 4.3 V6. 

Para outros mercados, a frente foi redesenhada ganhando faróis menores, e até chegou a ser comercializado por aqui por um curto período.

Blazer no Brasil

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Figura 10 - Nossa primeira Blazer: a segunda geração com frente redesenhada

No Brasil, o Blazer chegou oficialmente em 1996 com a frente redesenhada para mercados emergentes, sendo ofertada com o 4.3 V6 de 180 cv ou com o "Família 2", que era um 2.2 de 106 cv com injeção eletrônica monoponto. 

No mesmo ano, ganhou a opção diesel com o 2.5 Maxion turbo de 95 cv. Eram oferecidas três versões de acabamento: Standard, DLX e Executive. A última delas tinha opção de câmbio automático com quatro marchas combinado ao motor V6.

Em 2000, o 2.5 Maxion deu lugar ao lendário 2.8 MWM turbodiesel com intercooler, que tinha 132 cv. Curioso é que a Chevrolet deu o motor ao SUV meses antes de lançar seu facelift, deixando tanto o visual antigo quanto o renovado com tal usina.

Quando a reestilização foi apresentada no final daquele ano, o motor já era a cereja do bolo. Apelidado de "pit bull", o Blazer ganhou o visual mais conhecido de sua trajetória no Brasil, e que recebeu poucas modificações até o SUV raiz sair de cena.

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Figura 11 - O facelift, com a polêmica frente "pitbull", ainda com as lentes laranjas

A renovação deu a versão de entrada do Blazer um novo motor. O "Família 2" passou de 2.2 para 2.4 e entregava 124 cv. Dois anos depois, ganhou nova mudança nos conjunto motriz com a atualização do sistema de alimentação do 4.3 V6, que passou de 180 cv para 192 cv. 

A partir daí, a Chevrolet manteve o carro ativo em nosso mercado sem grandes mudanças. Apenas adição de apliques de plástico e alteração no nome das versões. 

As únicas mudanças significativas foram o fim do 4.3 V6 em 2004, e a mudança do "Família 2" 2.4, que se tornou flex em 2007 - chegando aos 147 cv consumindo etanol.

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Figura 12 - A última Chevrolet Blazer

Em 2011, o Blazer deixou as concessionárias para entrar para a história. Com as vendas em baixa, era praticamente um dinossauro concorrendo com Hyundai Tucson, Kia Sportage, Ford Ecosport e cia. 

Podemos considerar como sendo seu “herdeiro moral” o Renault Duster, que foi lançado no Brasil em 2011 e caiu no gosto dos frotistas, assumindo papel de viatura de polícia e SUV básico.

Memórias de um entusiasta

Não é novidade para quem já nos acompanha que eu tenho uma história com o Chevrolet Blazer. Em 1996, meu pai comprou um DLX azul 4.3 V6 zero km. Eu era criança e minhas referências de carro eram um Corcel II e um Kadett. 

Imagine o impacto causado por essa mudança na mente de um pequeno aficionado por carros. Imediatamente eu me apaixonei por aquele carro grande, com interior em tecido aveludado, onde eu podia pular o banco traseiro e ir para o porta-malas. 

Foi nesse carro que aprendi a dirigir, o que ajudou a deixar ainda mais marcada a paixão pelo modelo. Esse Blazer foi trocado por uma S10 DeLuxe 2.5 Maxion 4x4 1999, que, por sua vez, foi trocada em uma S10 Standard 2.8 MWM 2001. 

Depois de uma leve pausa, onde a família teve uma Toyota Hilux, voltamos para uma S10 Advantage 2.4 2006. Essa S10 foi roubada em 2008, e meu pai decidiu abandonar as picapes, que chamavam muita atenção pelas ruas do Rio de Janeiro. 

Um hiato de nove anos me afastou do Chevrolet Blazer até 2017, quando minha filha nasceu. Nesse momento, decidi trocar meu Corsa GSi 1995 por um carro maior, e fui surpreendido pelo preço acessível dos últimos Blazers com motor 2.4. 

Após alguns meses de procura, encontrei um Blazer 2009 Advantage com 103 mil km rodados e interior muito bem conservado. Cinco anos e meio e 40 mil km depois, ela ainda está na garagem, e hoje minhas filhas pulam o banco traseiro para ir brincar no porta-malas.

Já falamos disso aqui, no texto onde analisamos porque o Blazer fez tanto sucesso no Brasil. Ele foi praticamente a única opção de SUV a um preço “razoável” durante anos, pelo menos até a popularização da Tucson e o surgimento dos SUVs compactos. 

Sempre foi um carro que oferecia robustez sem demandar uma rotina complexa de manutenção. Nem mesmo alguns problemas crônicos, como a “aranha” de injeção dos primeiros V6 foram suficientes para manchar sua reputação.

Mas, talvez, o Blazer não tenha sido um SUV perfeito para o Brasil. Talvez o Brasil é que tenha sido perfeito para o Blazer. Acho que ele se encontrou aqui, se sentiu em casa. 

Afinal, é um carro que nasceu derivado de um japonês, com nome americano e que ganhou o mundo com diversas versões. Depois de toda essa diversidade, tem mais cara de Brasil do que de Estados Unidos…

Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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