Chevrolet Corsa: o carro símbolo da melhor fase da GM no Brasil
Chevrolet Corsa revolucionou não só na GM, mas todo mercado
Os anos 90 foram, sem dúvidas, os mais competitivos no mercado automotivo nacional, e a categoria dos populares teve disputas acirradíssimas das marcas pela preferência nacional.
Desde a redução de 40% para 20% na alíquota do IPI vigente em 1990, que viabilizou o lançamento do Fiat Uno Mille, em 1990, as marcas competiam ferozmente para ter seu representante do segmento de populares.
A Chevrolet foi a segunda a entrar na disputa em 1992, mas com o que ela tinha na prateleira aos 19 anos. Nascia o Chevette Junior, um projeto bastante ultrapassado com tração traseira e com uma potência líquida de dar sono.
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Preciso ser honesto, pois a potência líquida em si era até melhor que a do Uno Mille. Enquanto o Fiat oferecia 48,8 cv a 5.700 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3.000 rpm em 994cm³ de cilindrada. O Chevette Junior trazia 50 cv a 6.000 rpm com 7,2 kgfm de torque a 3.500 rpm, mas o resultado em desempenho era péssimo.
A concorrência
O Fiat fazia de 0 a 100 em 17s14, enquanto o modelo da Chevrolet fazia em longos 21s58. A velocidade máxima do Uno era de 136,1 km/h, enquanto o Chevettinho chegava a 131,3 km/h. Em consumo então, a coisa ficou ainda pior para a Chevrolet: 9,26 km/l de gasolina em cidade e 13,77 km/l em estrada ante 10,82 km/l e 14,31 km/l do Fiat, respectivamente.
A culpa disso era da tração traseira, que graças a seu pesado conjunto mecânico composto por eixo-cardã e diferencial, roubava preciosos 12 cv, e a potência na roda não passava de 38 cv líquidos.
A modo de comparação, o recém-lançado Ford Versailles 2.0i Ghia Royale (nome grande, né?!) tinha motor 2.0 e fazia 9,22 km/l na cidade e 13,41 km/l em estrada, com 120 cv e 17,5 kgfm de torque ao pé do motorista. Não fazia sentido nenhum ter um Chevette Junior, que apesar de ser o popular mais barato do Brasil, bebia muito e não andava nada.
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No final de 1992, o VW Gol 1000 chegava com seu motor AE-1000 (vulgo CHT), 50cv, mais disposição e muito mais moderno, e olhe que seu projeto já estava cansado, com então 12 anos. A Volkswagen já tinha o Gol AB9, vulgo Gol bolinha, no forno, aguardando o momento certo de ser lançado, afinal, estratégia de guerra não faltava nesta época.
Nos idos de 1993, a Ford lançou o Ford Escort Hobby 1.0 com a mesma mecânica do Gol 1000 e um pouco mais de espaço, e graças a uma resolução do governo reduzindo a alíquota de veículos com motor 1.6 boxer e/ou de tração traseira (parece até que alguém foi privilegiado com isso).
A substituição do Chevette Junior
Os veículos com esses motores passaram a ter a chancela de popular, permitindo a volta do VW Fusca, redução do preço da VW Kombi e cogitaram inclusive lançar o VW Gol BX (sim, com motor boxer de 1,6 litro). Com isso, a Chevrolet tratou de substituir o Chevette Junior pelo Chevette L, com motor 1.6 e muito mais disposição.
Mas caro leitor, o mercado consumidor é também modista, e não entendia as vantagens de se ter um carro 1.6 com bom preço, a moda era o 1.0 (!).
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A hora do Chevrolet Corsa de brilhar
A Chevrolet sabia que o Chevette não era mais competitivo, e já desenvolvia a sua versão do Opel Corsa desde que lançou o Chevette Junior, como em um jogo de xadrez, aguardou o momento certo para fazer sua jogada.
Os planos eram lançá-lo apenas em 1995, mas com a movimentação da Volkswagen para lançar o Gol bolinha e da própria Fiat, que já desenvolvia o projeto 178 (o Fiat Palio), a Chevrolet antecipou o lançamento do carro em um ano. A primeira unidade foi fabricada em 21 de setembro de 1993, quando o estoque começou a ser formado, e em 10 de janeiro de 1994, era lançado no mercado nacional o Chevrolet Corsa.
Com muita inovação em um mercado saturado e atrasado, o Corsa trazia coisas até então impensadas para um carro popular em nosso mercado: injeção eletrônica, bom nível de acabamento, boa qualidade de construção e design em compasso com as versões do Corsa pelo mundo.
Com a missão de “embelezar a garagem do cliente”, palavras do então vice-presidente da GMB André Beer, o Corsa deu muito trabalho para concorrência, e se deparou até mesmo com a prática de ágio* para quem queria ter um desse na garagem.
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Usando a plataforma A, lançada no exterior em 1982, trazia um design atualizadíssimo e linhas arredondadas, com formato em cunha e ótimo coeficiente aerodinâmico, ou Cx, de 0,35 – contra 0,45 do Gol quadradinho.
O conforto também era inovador, e sua versão de lançamento, a Wind, trazia de série ajuste de altura dos cintos dianteiros, banco traseiro inteiriço rebatível, porta-objetos, retrovisor do lado direito, além de um acabamento primoroso com bancos revestidos em tecido e bastante confortáveis, volante de 2 raios espumado com ótima empunhadura, vidros verdes, além de injeção eletrônica single-point, ou monoponto.
Como opcionais, a versão oferecia acendedor de cigarros, ajuste interno dos retrovisores, ar quente, banco traseiro rebatível em 1/3 e 2/3, antiembaçante, limpador/lavador do vidro traseiro, para-brisa degradê, pintura metálica ou perolizada, alarme, fiação para sistema de som e trava elétrica das portas.
Seu motor de 1,0 litro era moderno, silencioso, e fornecia 50 cv a 5.800 rpm com 7,7 kgfm de torque a 3.200 rpm que, acoplado a um eficiente câmbio de 5 marchas de relações longas, mas com diferencial curto (4,53:1), faziam do Corsa um carro muito agradável de ser conduzido.
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Fazia de 0 a 100km/h em 19s77, e chegava a 142km/h de velocidade máxima. Imbatível no consumo, trazia números relativamente atuais até mesmo para os dias de hoje: 13 km/l de gasolina na cidade e 15,3 km/l na estrada. Esses números melhoraram ainda mais dois anos depois com a chegada do Corsa Super, com 60 cv e câmbio com diferencial mais longo.
A concorrência se mexeu e logo a Fiat lançou o Uno Mille ELX, “o popular de luxo” como ela mesmo chamava. Com nova frente (igual as demais versões da linha Uno), novo painel, volante de 4 raios espumado, ênfase nas 4 portas e o ar-condicionado (opcionais) e um acabamento bem mais caprichado, o ELX manteve o Mille forte no segmento.
A Chevrolet respondeu com o Corsa GL, sua primeira versão mais luxuosa lançada também em 1994. Tinha motor 1.4 e injeção eletrônica monoponto EFI, regulagem de altura dos cintos de segurança, banco traseiro bipartido 1/3 e 2/3, preparação para som e vidro dianteiro degradê, painel com conta-giros, além de um acabamento ainda mais esmerado, com veludo de boa qualidade nos bancos e muito bonito.
Oferecia como opcionais ar-condicionado, ar quente, vidros elétricos com sistema de "um toque" e antiesmagamento, travas elétricas, alarme antifurto, iluminação no porta luvas e porta-malas, sistema de advertência sonoro dos faróis ligados, antiembaçante, limpador/lavador do vidro traseiro, vidros verdes, sistema de som com toca-fitas e rodas de liga leve aro 13 ou 14 (muito raras), além de pintura metálica.
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Com 60 cv no motor a 5.200 rpm e 11,1 kgfm de torque a 2.800 rpm, fazia de 0 a 100km/h em 15s39, 11,81 km/l de gasolina na cidade e média de 14,48 km/l na estrada.
Meses depois, a VW lançava o Gol geração 2, vulgo “Gol bolinha”, passando a ser o principal concorrente do GM Corsa até a chegada do Fiat Palio, em 1996.
Em 1995, a GM lançava a versão 4 portas para o modelo GL, aumentando ainda mais o conforto de seus viajantes, e as vendas deste grande sucesso dos anos 90. No final do mesmo ano, chegava também no mercado a versão sedan, que seria sua versão mais longeva e de maior sucesso, ao qual eu falarei mais para frente.
Como eu disse no começo: os anos 90 foram, sem dúvidas, os mais competitivos no mercado automotivo nacional, e contarei em breve mais detalhes deste que foi um dos maiores sucessos da GM do Brasil.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em Comunicação Empresarial e Marketing Digital, e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua há 18 anos com gestão e consultoria automotiva, auxiliando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. É criador dos canais Autos Originais e Auto e Autos…
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