Por que no Brasil não existem carros de passeio a diesel

Lei em vigor há 45 anos permite que só veículos de trabalho e transporte usem motor de ciclo Diesel, mas alguns SUVs e picapes conseguem driblar restrição

Renan Bandeira
Por
24.08.2021 às 11:00 • Atualizado em 29.05.2024

Na última semana, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) propôs duas emendas à MP nº 1063 com o objetivo de reduzir os preços dos combustíveis. Uma delas prevê a liberação de carros de passeio para receberem motores a diesel e retoma a discussão sobre: “por que não temos carros assim no Brasil?”

Esse é um questionamento que fica na cabeça da maioria dos brasileiros quando se lembram que nos Estados Unidos e em países europeus, por exemplo, existem carros de passeio movidos por trens de força desse tipo.

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Mas a história é antiga. Tudo começou em 1976, quando o então Ministério da Indústria e Comércio (MIC) publicou a Portaria 346 proibindo a comercialização de carros com motorização de ciclo Diesel. 

Na época, a decisão da pasta era uma saída para a crise mundial de petróleo e também uma tentativa de conter a emissão do enxofre do diesel, que não era tratado e não tinha a qualidade que tem hoje.

Por isso, desde então, o motor a diesel ficou liberado apenas para veículos de transporte de passageiros, de carga ou de trabalho, como caminhões, ônibus e máquinas agrícolas, por exemplo.

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Quase 20 anos depois, em 1994, quando a crise já havia passado, o Departamento Nacional de Combustíveis (DNC) atualizou a publicação da Portaria, que se tornou a 23 do DNC. Naquele momento, o texto poderia ter sido atualizado, mas o departamento decidiu manter a proibição.

Por que picapes médias e os SUVs da Jeep têm motor diesel?

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Além dos caminhões e ônibus, citamos acima, a decisão de 45 anos atrás considera que alguns outros veículos podem receber o motor a diesel. Para isso, precisam respeitar algumas especificações.

As picapes, consideradas comerciais leves, só podem ser vendidas com o propulsor de ciclo Diesel se tiverem uma carga útil superior a 1.000 kg. 

Por isso, temos apenas as médias Toyota Hilux, Ford Ranger, Chevrolet S10, entre outros modelos, com essa motorização, mas não as compactas Fiat Strada e VW Saveiro. 

A compacta-média Fiat Toro é um caso curioso. Suas configurações flex possuem uma capacidade de carga similar à de picapes compactos, abaixo de 700 kg, mas ela alcança o mínimo exigido de 1 tonelada com o motor 2.0 MultiJet turbodiesel para estar autorizada a utilizá-lo.

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No caso dos SUVs da Jeep, como Renegade, Compass e, a partir deste mês, o Commander, a situação é um pouco diferente. 

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Para os chamados veículos de uso misto, como eles são categorizados, a lei permite que veículos usem motor a diesel desde que tenham tração 4x4, opção de marcha reduzida, requisitos mínimos de ângulos de ataque e saída e suporte para reboque.

Com isso, as versões mais caras de Renegade e Compass, que contam com o sistema 4x4 e aproveitam o câmbio automático de nove marchas de relação curta para atestar a tal reduzida, se tornam aptas a receber o propulsor.

Porém, a Jeep teve de utilizar para-choques dianteiros diferentes das configurações flex dos dois SUVs quando os lançou ao mercado brasileiro, respectivamente em 2015 e 16. No caso do Renegade, o padrão das versões a diesel foi aplicado para toda a gama, nas no Compass essa diferenciação existe até hoje.

O truque do câmbio com marchas iniciais curtas para emular uma reduzida não foi usado só pela Jeep. Marcas premium, como BMW, Land Rover e Mercedes, já haviam aplicado a tática para oferecer SUVs com propulsores a diesel no Brasil antes.

Durante esses 45 anos, diversos projetos de lei tentaram mudar a decisão e liberar a venda dos carros de passeio a diesel, mas nenhum teve sucesso e os interessados tiveram que se contentar com SUVs e picapes preparados. Resta saber se a nova emenda será capaz de alterar a publicação.

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Formado em mecânica pelo Senai e jornalismo pela Metodista, está no setor há 5 anos. Tem passagens por Quatro Rodas e Autoesporte, e já conquistou três prêmios SAE Brasil de Jornalismo. Na garagem, um Gol 1993 é seu xodó.

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