Renault Twingo: o ícone francês que era moderno demais para o Brasil
Renault Twingo foi um grande sucesso na Europa, mas nunca conseguiu reconhecimento sequer parecido no Brasil
A partir da segunda metade da década de 1980 o crescimento dos menores carros europeus deixava uma lacuna na parte de baixo do mercado. As novas gerações de Fiesta, Golf e cia ganharam corpo, e abriram espaço para os citycars da década de 1990. O representante da Renault para esse segmento era o simpático Twingo.
Apresentado em 1992, durante o salão de Paris, o subcompacto tinha a árdua missão de ser mais barato que o então carro de entrada da Renault, o estreante Clio, lançado em 1990, além de ter seu desenvolvimento com um orçamento limitado e uma missão de atender a diversas demandas de um citycar digno do mercado europeu.
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Figura 1 - Um dos protótipos para o estudo do Twingo
Criado pelo designer Patrick Le Quément, o pequeno hatch tinha a premissa de ter baixo custo, ser versátil e entregar um design inovador. Por conta da limitação de seu orçamento tudo que era desnecessário foi retirado do carro, e a ideia inicial tornou-se um modelo de uma só opção de motor e poucos opcionais. Seu nome foi originado na fusão das palavras "Twist", "Swing" e "Tango", deixando claro seu estilo descolado e diferente à época.
Figura 2 - O simpático primeiro Twingo
Durante seu lançamento, em 1993, o modelo contava com um único motor de 1.2L e 55cv conjugado a um câmbio manual e 2 opcionais: ar-condicionado e seu charmoso teto panorâmico. As cores, assim como antecipado pelo seu nome, eram sempre chamativas e folclóricas, deixando os tons tradicionais para alguns meses após o lançamento.
Figura 3 - O pequeno motor dava desempenho aceitável ao carrinho
Internamente o pequeno carro utilizava soluções como o painel central, volante de 2 raios, comandos coloridos e chamativos, e um espaço interno invejável para uma carroceria de dimensões tão curtas, com 3,43 m de comprimento. Outro charme do modelo era o seu rebatimento completo dos bancos traseiros que, em conjunto aos dianteiros, formavam uma espécie de cama.
Figura 4 - A "cama" no interior do Twingo
O sucesso do carro foi tão grande, que ainda nesse ano foi necessária a disponibilização de mais opcionais e versões para atender ao público, que chegavam até a adoção de airbags nas versões mais completas.
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Com o sucesso do modelo, em 1994 a montadora acrescentou a versão Easy ao seu portfólio. Esta contava com câmbio de quatro marchas de acionamento manual, porém que dispensava a adoção do pedal de embreagem, criando assim a sua primeira versão semiautomática. Neste ano o Twingo venceu o prêmio de carro do ano da Espanha. Ainda em 1994 o pequeno francês desembarcava no Brasil, com o mesmo motor oferecido no velho mundo.
Figura 5 - Vários adjetivos podem ser aplicados ao interior. "Sem graça" certamente não é um deles.
Em 1996 o Twingo passa pela sua primeira reestilização leve, quando teve seu motor renovado e recebeu uma nova injeção eletrônica, agora multiponto. A mudança ocasionou incremento na potência, que subiu para 60 cv. Tal mudança foi necessária para combater os recém-lançados Ford Ka e Lancia Y. Com essa modificação e sutis modificações internas e externas o modelo ficou ainda mais atraente no seu custo-benefício, mais potente e econômico. No mesmo ano é lançada a versão Twingo Matic, que trazia um câmbio automático de três velocidades.
Em 1998 mais uma evolução, com melhorias no chassis, dois airbags de série e airbags laterais opcionais, novo painel, novos faróis e novos para-choques. Também no mesmo ano foi lançada a versão mais completa do modelo, denominada Initiale Paris.
Ao final de 2000, o Twingo europeu recebe mais uma modificação e, além de pequenas alterações nos faróis, que agora contam com lentes lisas, novas opções de cor e melhorias no interior, o motor passa a contar com o cabeçote de 16v, agora rendendo 75cv. Outra novidade era a opção da caixa sequencial Quickshift.
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No Brasil, o Twingo passa a ser importado do Uruguai e, além de algumas mudanças de versão e estética equivalentes ao modelo europeu, recebe os motores do nosso Clio: 1.0 de 8v (D7D) e 16v (D4D), entregando 59cv ou 68cv, respectivamente. Também chegam por aqui os airbags frontais eram de série. Em 2002 o nosso modelo deixa de ser importado com cerca de 12 mil unidades vendidas desde 1994.
Já veterano na Europa, em 2004 a Renault realiza o último facelift da primeira geração com sutis mudanças, que empurraram o modelo até junho de 2007. Nesses catorze anos, cerca de dois milhões de unidades foram vendidas do modelo. Curiosamente, na Colômbia a primeira geração do Twingo foi vendida até 2012.
Figura 6 - Twingo II lançado em 2007: há algo de Sandero nessa frente...
Em 2007 ocorre o lançamento da segunda geração na Europa, denominada Renault Twingo II. Essa geração inaugurou a primeira versão esportiva, batizada de Twingo Renault Sport 133, que contava com um propulsor de 1.6L e 133cv. Esse modelo sobreviveu no mercado até 2014, quando foi substituído pela sua nova geração.
Figura 7 - Twingo III: retorno ao diferente
O Twingo III foi lançado no salão de Genebra de 2014, fruto de uma parceria entre a Renault e a Daimler AG, através do Projeto Edison, onde ambas as fabricantes compartilhavam a mesma plataforma para soluções de carros pequenos urbanos. A plataforma Edison foi projetada a fim de possibilitar a utilização de um motor de combustão interna ou um motor elétrico como a principal fonte de energia. Os primeiros dois carros oriundos dessa parceria foram o Twingo de terceira geração e o Smart Forfour.
Figura 8 - Motor no lugar "errado" e tração no lugar certo!
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Essa geração foi marcada pela primeira a disponibilizar quatro portas, e era oferecida com motor três cilindros 1.0 aspirado ou três cilindros 0.9 turbo. Curiosamente, a terceira geração do Twingo conta com motor central-traseiro, e tração traseira. Já imaginou se esse pequeno carrinho turbo com tração traseira tivesse vindo para o Brasil?
Por fim em 2020, a Renault lança o Twingo Elétrico (Z.E), o primeiro 100% elétrico da gama, que gera 82 CV (60 kW) de potência e 160 Nm e conta com uma bateria de íons de lítio de 22 kWh. Esse modelo promete velocidade máxima de 135 km/h e autonomia de até 250 km. O modelo ainda é vendido na Europa, e parte de 25.000 €.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
William Marinho, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.
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