VW Fox nasceu para matar o Gol, mas morrerá antes do irmão

Fruto do “Projeto Tupi”, hatch sairá de linha após 18 anos sem cumprir missão de suceder o Gol. Apesar disso, fez sucesso e rendeu polêmicas

LF
Por
22.09.2021 às 22:03 • Atualizado em 29.05.2024
Fruto do “Projeto Tupi”, hatch sairá de linha após 18 anos sem cumprir missão de suceder o Gol. Apesar disso, fez sucesso e rendeu polêmicas

Outubro de 2003. A Volkswagen lançava no Brasil o Fox, hatch que aproveitava a plataforma PQ24 da quarta geração do Polo e propunha uma nova filosofia de hatch compacto no Brasil: com motores 1.0 e 1.6 8V transversais da família EA111, silhueta altinha e uma pegada quase de monovolume.

Fruto do “projeto Tupi”, que recebera este nome por ter tido toda sua concepção e desenvolvimento liderados pela divisão brasileira da marca, o Fox surgiu com o intuito inicial de ser um sucessor natural do Gol, assim como este havia substituído paulatinamente o Fusca em nosso mercado.

Publicidade

O mentor do Fox foi o projetista Luiz Alberto Veiga, responsável também pela concepção da segunda geração do Gol, o popular Gol G2 ou “Bolinha”. O nome, Fox, resgatava a alcunha usada para denominar o Voyage nacional exportado aos Estados Unidos. Seu objetivo era maximizar o aproveitamento de espaço interno, mesmo com dimensões externas comedidas.

Anuncie seu carro na Mobiauto sem pagar

Seis meses após o lançamento, ocorrido na configuração três-portas, o Fox ganhou versões de cinco portas, o que ampliou ainda mais a sua versatilidade e apelo familiar. Dezoito anos depois, o hatchback deixará de ser produzido em São José dos Pinhais (PR) ao fim deste mês, de acordo com o jornalista Jorge Moraes.

O causador da morte será o Proconve L7, nova legislação brasileira a respeito de emissões de poluentes por veículos de passeio. Porém, enquanto o Fox sairá de cena sem ter cumprido a missão de substituir integralmente o Gol, este último sobreviverá no mercado até 2023 ou 24, quando deve enfim ser trocado pelo SUV do projeto VW246.

Para homenagear um modelo que teve mais de 2 milhões de unidades produzidas no Brasil nesse ciclo (sendo mais de 1,2 milhão comercializadas nacionalmente, o restante tendo sido destinado à exportação), relembramos as grandes virtudes e polêmicas da simpática “raposa sobre rodas” ao longo dessas quase duas décadas de existência.

Leia também: Toyota Corolla: os principais problemas, segundo os donos

Uma raposa que cortava dedos

aria-label="Imagem do conteudo da noticia" className='img-news-content'

Como dissemos antes, o Fox foi lançado para ser um carro de família, referência em espaço interno. Não foi à toa que a modelo Ana Hickmann, com seu 1,86 m de altura, tenha sido a escolhida para ser a garota-propaganda do modelo. Um de seus atributos era o banco traseiro do tipo corrediço, que prometia dar ainda mais modularidade e espaço à cabine.

Só que a solução virou uma grande dor de cabeça para a Volkswagen. Pior do que isso: tinha o potencial de mutilar pessoas. Tudo porque um erro básico de concepção do dispositivo que destravava o deslizamento do banco gerava um enorme risco de lesões físicas a quem estivesse manuseando a peça.

aria-label="Imagem do conteudo da noticia" className='img-news-content'


Pelo menos oito consumidores teriam tido um pedaço de dedo decepado ao puxarem a corda que destravava o banco não pela alça de tecido, mas sim pela argola metálica à qual ela ficava presa. Quando a corda ricocheteava de volta, prensava o dedo contra o suporte da peça, provocando o decepamento.

No início, a fabricante alegou que eram os clientes que não operavam o sistema de modo adequado, mas a pressão de órgãos de defesa e dos próprios clientes surtiu efeito e a empresa resolveu (com boa dose de atraso) agir a respeito.

aria-label="Imagem do conteudo da noticia" className='img-news-content'

Em junho de 2008, a VW anunciou um recall de mais de 500 mil unidades do Fox, produzidas desde o lançamento do modelo até aquela data, a fim de adicionar suportes que vedavam o acesso à argola metálica. Além disso, colou adesivos de alerta quanto ao risco de lesão em caso de operação errônea do dispositivo e atualizou as instruções do Manual do Proprietário.

Leia também: Gol e Azul prometem fazer carro voador virar realidade no Brasil já em 2025

Boa aderência no Brasil, apesar dos percalços. No exterior, nem tanto

Apesar da polêmica em relação ao rebatimento dos bancos, o Fox foi bem aceito pelo público brasileiro. A posição elevada de dirigir, a agilidade para manobras – graças aos balanços dianteiro e traseiro bem curtos –, o bom espaço interno e uma lista de equipamentos interessante formaram uma receita de sucesso.

A boa aderência no mercado interno deixou a Volkswagen tão otimista que a fabricante resolveu produzir o Fox brasileiro para exportá-lo ao exigente mercado europeu. No entanto, por lá a receptividade não foi a mesma: ele foi considerado simples demais, mesmo sendo posicionado como carro de entrada da marca.

Por aqui, o Fox também teve seus percalços, e não estamos falando só do banco que arrancava dedos. O modelo ficou conhecido pelo acabamento simplório demais, cheio de plástico rígido e rangidos – característica que acomete os modelos da marca até os dias atuais –, além do isolamento acústico quase inexistente e a calibração extremamente dura das suspensões.

Outro elemento passível de crítica ao longo dos anos foi o fraco desempenho do propulsor 1.0 8V de quatro cilindros. Para piorar, unidades fabricadas a partir de 2009, usando uma versão atualizada da família EA111, chamada VHT, replicavam falhas ligadas à lubrificação deficiente, assim como vinha acontecendo na recém-lançada terceira geração do Gol.

Para completar, as configurações I-Motion, munidas de uma caixa automatizada de embreagem única, ganharam enorme rejeição devido ao comportamento letárgico e pouco inteligente do câmbio, cheio de trancos e trocas em momentos inadequados.

Leia também: Como esta multimídia nacional está livrando montadoras do colapso dos chips

“No meu CrossFox eu vou sair”

aria-label="Imagem do conteudo da noticia" className='img-news-content'

Apesar dos pesares, as vendas do Fox no Brasil iam bem, obrigado, o que levou a empresa a transformá-lo em uma família com outros dois modelos. O primeiro, surgido em 2005, foi o aventureiro CrossFox, cheio de adereços exagerados e até desnecessários para uso urbano, como faróis auxiliares, quebra-mato, estribos laterais e barras transversais de teto.

As suspensões elevadas até tinham sua utilidade no dia a dia, mas o maior destaque ia para o famigerado estepe exposto, pendurado à carroceria através de um suporte ligado à carroceria através de dobradiças que permitiam o seu deslocamento lateral, de uma maneira muito pouco prática, quando era necessário abrir o porta-malas.

Mesmo sendo pouco práticos, os atributos off-road levaram o CrossFox a virar febre em um mercado ainda carente de SUVs, tornando-se até tema de música. 

aria-label="Imagem do conteudo da noticia" className='img-news-content'

Em 2006, chegou ao mercado a perua SpaceFox, com balanço traseiro esticado para aumentar o volume do porta-malas. E se o próprio Fox nunca conseguiu ocupar o lugar do Gol de modo perene, a SpaceFox, esta sim, acelerou o sepultamento da tradicional perua Parati.

Chegamos, inclusive, ao ápice de ter um híbrido entre as duas variantes do Fox: a SpaceCross, uma perua aventureira criada sob medida para tentar competir (sem tanto sucesso) com a Fiat Palio Weekend Adventure. Enquanto o CrossFox seguiu em linha até 2017, a SpaceFox foi produzida até o ano seguinte.

Leia também: Primeiro Jipe Commander tinha base de Fusca e podia ser montado em casa

aria-label="Imagem do conteudo da noticia" className='img-news-content'

Reestilizações, inovações e trocas de motor

Ao longo de sua trajetória, o Fox passou por duas reestilizações. A primeira, ocorrida em 2010, deu ao dois-volumes um visual inspirado no Polo vendido à época. Junto com ela, vieram melhorias de acabamento, painel, quadro de instrumentos e conectividade, incluindo volante multifuncional, rádio com conexão Bluetooth, bancos mais confortáveis e até teto solar.

Durante essa fase, o Fox se tornou o primeiro VW nacional a ser equipado com o motor 1.0 três-cilindros 12V da família EA211, na versão Bluemotion. O propulsor, posteriormente, seria adotado por Up!, Gol e Voyage. Tal versão contava ainda com aprimoramentos aerodinâmicos para melhorar o consumo de combustível, mesmo na configuração 1.6 8V.

aria-label="Imagem do conteudo da noticia" className='img-news-content'

O segundo facelift ocorreu em 2015, desta vez com a missão de posicioná-lo como um modelo acima de Gol e Up! na gama, ocupando, pelo menos temporariamente, o lugar do cadavérico Polo de quarta geração como “hatch compacto premium” da marca.

aria-label="Imagem do conteudo da noticia" className='img-news-content'

Por isso, além de uma dianteira remodelada, com faróis mais espichados e grade afilada, o Fox recebeu uma nova traseira com lanternas horizontais e bipartidas, inspiradas no Golf Mk7. Apesar de estranho, em princípio, o estilo pegou e o novo Fox manteve os bons índices de venda. Tal estilo, inclusive, manteve-se até o fim de seus dias.

aria-label="Imagem do conteudo da noticia" className='img-news-content'

Outra novidade, na época, foi a estreia do motor 1.6 MSI (quatro-cilindros 16V) de 120 cv da família EA211, aliado a uma evolução do câmbio I-Motion nas versões de topo do novo Fox. Já a configuração 1.6 manual continuou empurrada pelo velho propulsor EA111 8V de 108 cv, enquanto as opções 1.0 passaram todas a ser de três cilindros da família EA211.

Leia também: Novo Citroën C3 ganhará dois irmãos no Brasil até 2024. Veja quem são

Uma só geração

aria-label="Imagem do conteudo da noticia" className='img-news-content'

Apesar das atualizações, o Fox nunca trocou a carroceria nem a jurássica plataforma PQ24, que remonta ao fim dos anos 1990. Por isso mesmo, começou a sentir o peso da idade nos últimos anos. 

A VW, percebendo isso, enxugou a gama do hatchback a apenas duas versões em 2017: Connect, mais descolada, e Xtreme, com pegada mais robusta e aventureira, mas sem os exageros do extinto CrossFox (o que significa que até o estepe exposto foi extinto). As duas, inclusive, são as versões que seguem em linha até hoje. 

Imagens: Divulgação e Reprodução

Você também pode se interessar por:

VW Saveiro terá mudança visual e de motor contra nova Strada
Novo VW Polo, Polo Track e Virtus: entenda como deve ficar a linha
VW Polo Track terá motor 1.0 de 86 cv e peças de Gol
Novo VW Virtus terá faróis de Nivus e será diferente do Polo
VW Polo e Virtus: os principais problemas, segundo os donos

Publicidade
Outras notícias
Publicidade