SUV elétrico chinês quer status de Land Rover pelo preço de um Compass
Financiado por bilionário que já foi diretor do “Google chinês”, novo ‘SEV’ Niutron EV quer provar que o luxo pode ser mais “acessível”
Quando se fala em startups, o brasileiro médio logo imagina um grupo de nerds quebrando a cabeça em um espaço improvisado.
O próprio Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) define startup como um projeto que nasce em torno de uma ideia original, porém em condições de incerteza, mas seu conceito é bem mais amplo e, contrapontualmente, simples: as startups são negócios emergentes que desenvolvem uma ideia ou produto inovador.
Na China, por exemplo, existem centenas de montadoras emergentes com foco exclusivo na produção de veículos elétricos (EVs). São tantas e surgem tão rapidamente que não há como decorar seus nomes, mas boa parte delas se constitui, posteriormente, em um fabricante de EVs.
A Niutron, fundada em dezembro do ano passado, em Pequim, é uma delas e seu crossover NV, o produto que marca sua entrada no mercado doméstico.
Carinha de Land Rover. Ou seria Bronco Sport?
As fotos não mentem e o NV quer ser identificado com os SUVs da Land Rover. Ou com um Ford Bronco Sport de olhos esbugalhados, se assim preferir. Mas as semelhanças param por aqui.
É que, ao contrário dos jipes 4x4 da realeza britânica ou dos americanos, este é um EV de alta eficiência, capaz de rodar até 560 quilômetros, sem necessidade de recarga das baterias – 440 km, na versão de entrada. Ambas contam com tração integral permanente e dois motores elétricos, um no eixo dianteiro e outro no traseiro.
As potências são praticamente idênticas, de 140 kW por eixo, que equivalem a 380 cv, com um torque instantâneo de 46,1 kgfm. São números suficientes para levar o Niutron NV de 0 a 100 km/h em 5,9 segundos – nada mau, mas sua velocidade máxima é de “apenas” 170 km/h, limitados eletronicamente.
Na China, os preços do modelo partem de 278.800 yuans (o equivalente a menos de R$ 205 mil). É menos do que um Jeep Commander. Na verdade, seu preço está na média da faixa de um Jeep Compass.
A pré-venda teve início em março e as entregas começam em dezembro, em uma rede de concessionários que fechará este mês com 44 franqueados em 23 das maiores metrópoles do país – até a virada para 2023, serão 120 pontos em 40 cidades.
A Niutron iniciou a instalação de uma rede própria de recarga, mas a startup já fechou parceria com 38 operadores, o que dará acesso aos seus clientes a cerca de 400 mil pontos de recarregamento – o pacote de baterias do NV é substituível, o que garantiu subsídios governamentais para a empresa.
Com 4,91 metros de comprimento, o Niutron NV é 14 cm maior que o Commander Limited, da Jeep, que é equipado apenas com motores de combustão interna.
O EV chinês também é 8 cm mais largo e 6 cm mais alto, levando vantagem também no espaço para carga: seu porta-malas de 788 litros é 20% maior que o do SUV nacional, que não sai por menos de R$ 237 mil.
Lembra que te contamos que o Niutron NV custa menos que um Commander e na faixa de um Compass? Por esse valor, além do trem de força forte, traz um assistente avançado de condução (AAD) com nada menos que 24 funções.
Ele inclui uma sopa de letrinhas com APA, BSD, LCA, LCC e ACC, dentre outras ferramentas, que na prática se traduzem em assistências ativas de frenagem à frente ou à ré, manutenção em faixa, estacionamento etc.
Visualmente, o NV tem um aspecto futurista, evidenciado pelo conjunto óptico em LEDs gigantes que combina faróis duplos, semicirculares, com um “pontilhado” sob a grande moldura fumê. É tipo um Ford Bronco Sport, mas com a “cara” esbugalhada.
Maçanetas ocultas, colunas em preto fosco – que criam um efeito de suspensão para o teto – e discretos apêndices aerodinâmico integrados, nas laterais e na traseira, dão um raro bom gosto ocidental ao SUV elétrico da Niutron. As rodas aro 20 é que parecem pequenas para seu porte.
Já por dentro, destaque para o volante de base achatada, o quadro de instrumentos digital em LCD de 12,3 polegadas e o enorme ‘tablet’ de 15,6 polegadas no console frontal, que opera como central multimídia com espelhamentos Android Auto e Apple CarPlay.
O porta-luvas pode ser removido, dando mais espaço para as pernas do passageiro dianteiro (o encosto do seu banco pode ser rebatido em quase 170 graus), há carregador wireless para smartphones, pequenos visores junto às saídas de circulação da climatização e um enorme teto solar panorâmico, de 1,7 metro quadrado.
Financiado por bilionário do “Google chinês”
Diferentemente do Brasil, país no qual se preza muito pela procedência de um carro, como o país de origem do fabricante, no mercado chinês, que é o maior do mundo, são as startups com cheiro de novidade que mais atraem uma classe média estimada em 400 milhões de pessoas, portanto 30% maior que a população brasileira.
A Niutron, por exemplo, foca o segmento premium e, a julgar por quem banca sua chegada neste mercado, dá para apostar as fichas no novo NV.
Afinal, é o bilionário Yan Li, ex-diretor de tecnologia da Baidu (o “Google chinês”) e principal acionista da NIU, referência global em eletromobilidade no segmento de duas rodas e 19ª maior companhia do setor, em nível mundial, quem cacifa seu jogo.
A maioria das startups inicia seu negócio terceirizando a montagem de seus produtos, construindo fábricas próprias em um segmento momento, mas a Niutron entra em cena com uma unidade fabril inteligente, em Changzhou (a 200 quilômetros de Xangai).
Ela tem área construída de 770 mil m² e uma capacidade de produção programada para 180 mil unidades por ano – apenas para o leitor ter uma base de comparação, a fábrica da Jeep em Goiana (PE) tem 260 mil metros quadrados.
O NV é montado sobre uma plataforma totalmente dedicada (e própria), denominada Gemini – a promessa da marca é para um tempo de recarga completa das baterias de míseros 30 minutos, mas o bom senso manda desconfiar de algo tão entusiasmante.
E antes que eu me esqueça, há uma versão híbrida plug-in para os “puristas”, com autonomia de mais de 1.200 quilômetros.
Imagens: Divulgação/China PEV
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.