Avaliação: Ford Territory vai além da pose de SUV de luxo?

Grande lançamento da marca americana em 2020 é um projeto chinês com jeito de Land Rover. Será que a receita dá certo?

LF
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04.09.2020 às 17:29 • Atualizado em 29.05.2024
Grande lançamento da marca americana em 2020 é um projeto chinês com jeito de Land Rover. Será que a receita dá certo?

A Ford bem que anda precisando de um chacoalhão: após aposentar Fiesta, Focus, Fusion e Ranger flex, e encerrar toda a sua operação de caminhões no Brasil, tudo isso em menos um ano, a marca busca renovar sua gama de produtos o mais rápido possível para recuperar o terreno perdido. É neste cenário que chega o SUV médio Ford Territory.

O grande lançamento do ano para a marca é, na verdade, uma resposta aos pedidos clamorosos da rede de concessionárias por um novo produto. 

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Por isso mesmo, foi colocado à venda quase que de modo contingencial, mesmo importado da China, enquanto dois outros SUVs médios (um convencional, outro cupê) são desenvolvidos pela fabricante para ganhar as ruas, com produção nacional, entre 2022 e 23.

Portanto, a responsabilidade deste SUV com porte intermediário entre um Jeep Compass e um Volkswagen Tiguan Allspace é grande. Será que ele dará conta do recado? 

O início foi promissor: mesmo sem ter tido um mês cheio de vendas em agosto, o Territory emplacou 248 unidades, segundo dados da Mobiauto junto à rede, o que já o deixou à frente de rivais como Kia Sportage, Hyundai Tucson e Mitsubishi Eclipse Cross no ranking.

Enxuta, a gama é composta por apenas duas versões: SEL, de R$ 165.900, e Titanium, de R$ 187.900. Foi esta última, a mais cara, que nossa reportagem conheceu. Saiba agora como ela se saiu em nossa garagem.

Design: mamãe, quero ser um Evoque

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Só de bater os olhos no novo Ford Territory é possível captar a inspiração visual nos SUVs da Land Rover, em especial a primeira geração do Range Rover Evoque. 

Apesar de estarmos falando de um visual que o próprio Evoque já deixou para trás, a aposta parece ter sido acertada, pois o Territory passou uma boa primeira impressão entre todas as pessoas que viram o carro e vieram fazer comentários sobre ele à nossa equipe.

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Curiosamente, o Territory deriva do utilitário esportivo chinês Yusheng S330, fabricado pela JMC. Esta empresa, por sua vez, é também dona da marca Landwind, famosa na China por suas cópias descaradas de modelos da... Land Rover. Ah, esse mundo pequeno... 

Por dentro, os bancos imponentes, o couro microperfurado em tom pastel, as faixas suaves ao toque espalhadas por todas as guarnições, a iluminação ambiente em LED com sete opções de cores e as duas enormes telas digitais no painel reforçam o flerte com o segmento de luxo.

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Espaço: pode esparramar as pernas

Além da pegada premium, a cabine do Ford Territory é espaçosa. Mesmo com o uso de bancos dianteiros com encosto lombar grosso, o vão para pernas na fileira traseira passa de dois palmos fechados quando o assento dianteiro do SUV está acertado para um passageiro de estatura mediana. Ou seja: dá até para dar aquela esparramada nas pernas a bordo.

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Da mesma forma, o Territory ganha pontos por ser um SUV largo e, assim, garantir uma boa folga aos ombros de ocupantes adultos na fileira traseira. Só não sobra tanto espaço assim para a cabeça. Não que ele seja ruim, mas não é tão generoso quanto para os outros dois membros do corpo.

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Já o porta-malas tem volume de SUV compacto, o que o deixa muito aquém de Compass e Tiguan nesse quesito. Confira abaixo um comparativo entre as dimensões dos três modelos:

Ford Territory: 4.580 mm comprimento, 2.716 mm entre-eixos, 1.936 mm largura, 1.674 mm altura, 348 litros de porta-malas, 52 litros do tanque de combustível, 1.632 kg de peso.

Jeep Compass: 4.416 mm comprimento, 2.636 mm entre-eixos, 1.819 mm largura, 1.638 mm altura, 410 litros de porta-malas, 60 litros do tanque de combustível, 1.541 kg de peso (versão Longitude).

VW Tiguan Allspace: 4.701 mm comprimento, 2.787 mm entre-eixos, 1.839 mm largura, 1.674 mm altura, 686 litros de porta-malas, 58 litros do tanque de combustível, 1.570 kg de peso (versão Comfortline).

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Desempenho: empolgante... até terminar o primeiro segundo

O motor 1.5 quatro-cilindros turbo a gasolina é vendido pela Ford como sendo da família EcoBoost, mas isso é mera formalidade. Na verdade, sua origem remonta à Mitsubishi, tendo sido há alguns anos aproveitado pela JMC na China.

Ele tem ciclo Miller (mesmo conceito do Atkinson, mas com turbocompressor), o que significa que tende mais à eficiência energética do que necessariamente a uma cavalaria elevada. São 150 cv de potência e 22,9 kgfm de torque.

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A relação curta das primeiras faixas de marcha do câmbio CVT (que simula oito marchas, mas, como toda caixa continuamente variável, possui relações infinitas) e a resposta agressivamente direta do acelerador (até um pouco demais) passam a sensação de que o novo Territory tem fôlego de sobra. 

Porém, se na cidade o desempenho é até suficiente, embora passe longe de encantar, basta entrar numa rodovia para sentir sua falta de elasticidade, além do esforço provocado pelos mais de 1.600 kg de peso. 

Não à toa, o 0 a 100 km/h do Territory é cumprido oficialmente em quase 12 segundos, bem acima dos 9,5 segundos anunciados para o VW Tiguan Allspace 250 TSI e dos 10,6 s alcançados pelo Jeep Compass 2.0 flex. Nessa hora, o encanto do SUV de luxo começa a arrefecer.

Motorização: 1.5 turbo a gasolina, 150 cv (a 5.300 rpm) e 22,9 kgfm (a 1.500 rpm). Câmbio CVT, simulação de 8 marchas. 0 a 100 km/h em 11,8 s.

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Dirigibilidade: muito silêncio, nem tanta ergonomia

O Ford Territory tem como grande trunfo o silêncio a bordo. Ruídos de motor, rolamento das rodas, vento e suspensões são muito bem contidos. Por falar em suspensões, estas fazem um ótimo trabalho para conter inclinações em curvas, assim como para vencer valetas a velocidades mais baixas.

Conforme o ponteiro do velocímetro digital sobe, a maciez dá lugar a pancadas um pouco mais secas, frutos do uso de uma suspensão traseira multilink com bandejas demasiadamente largas, além de rodas de liga leve aro 18 calçadas por pneus de perfil baixo (235/50 R18).

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Lembra que comentamos da resposta excessivamente direta do acelerador? Ela contrasta com um pedal de freio mais anestesiado, demandando pisadas firmes a cada frenagem. Chega a ser curioso ter que usar um pedal “na ponta dos cascos” e usar o outro com muito mais veemência.

Outro ponto que desagradou foi a ergonomia dos bancos dianteiros. Apesar de largos, grossos e com opção de aquecimento ou refrigeração, eles não “abraçam” o corpo como se esperaria. Além disso, os encostos de cabeça possuem ajustes de altura duros e não tão amigáveis, enquanto a regulagem elétrica fica só para o motorista.

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Consumo: amigão do frentista

O motor de ciclo Miller prioriza eficiência em detrimento ao desempenho, conforme já explicamos. Mas isso não foi capaz de tornar o Territory um SUV necessariamente econômico. Seu porte largo e bojudo, além do coeficiente de arrasto na casa de 0,365 Cx e o já mencionado peso elevado, prejudica os resultados nesse aspecto. 

São 9,2 km/litro registrados na cidade e 10 km/l na estrada, segundo o Inmetro. Como comparação, o Tiguan 250 TSI alcança 10,1 e 11,7 km/l, respectivamente, nos mesmos ciclos de uso com o combustível derivado do petróleo. Mesmo o Compass flex, que perde no teste urbano (8,1 km/l), apresenta um consumo ligeiramente melhor em uso rodoviário (10,5 km/l). 

Ou seja: com o novo Territory, o contato com o frentista do posto deve ser frequente. Além, seu tanque de combustível é um dos menores do segmento, o que compromete sua autonomia frente à concorrência.

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Tecnologia: ele freia sozinho, e reacelera também

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Um dos dispositivos mais legais do novo Ford Territory é o controle de cruzeiro adaptativo. Isso porque ele não apenas respeita uma distância contínua (em quatro níveis) para o veículo à frente, reduzindo a velocidade ou freando conforme este outro reduz ou freia. 

Ele também é capaz de retomar para a velocidade determinada conforme a velocidade do tráfego à volta também aumenta, mesmo quando o Territory freia até a imobilidade em um engarrafamento. Para tanto, o trânsito precisa voltar a andar em até três segundos após a parada. Caso contrário, será necessário acionar o pedal do acelerador.

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O SUV conta, ainda, com alerta de mudança involuntária de faixa, mas este não atua ativamente para corrigir a trajetória no volante. Na verdade, emite sinais apenas sonoros e visuais.

O quadro de instrumentos 100% digital de 10 polegadas é chamativo, mas suas funções são basicamente as mesmas que um computador de bordo digital comum aliado a mostradores analógicos traria. E, durante nosso teste, o sistema falhou algumas vezes quando tentamos mudar o desenho entre os três arranjos disponíveis (clássico, fashion e esportivo).

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Já a central multimídia Sync Touch, de 10,1 polegadas, é até rápida e conta com tela de boa resolução. Ela impressiona em um primeiro contato, com o carro parado, mas os comandos se tornam confusos no uso em movimento. 

É preciso fazer caminhos longos para acessar comandos de primeira necessidade no uso diário, como o ar-condicionado, e a divisão da tela em quatro mais confunde do que ajuda em meio ao trânsito. 

Além disso, a projeção via Android Auto travou algumas vezes em nosso uso. Em uma dela, o som da música continuou insistentemente saindo pelo celular, e não pelo sistema de áudio do veículo. Foi preciso desligar e religar o carro para resolver a questão.

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Por outro lado, o Territory Titanium dispõe de uma câmera de 360 graus muito bem-vinda em manobras (afinal, são quase 12 metros de diâmetro de giro), além dos seguintes equipamentos de segurança e tecnologia:

· Seis airbags

· Controles de estabilidade e tração

· Assistente de partida em rampas

· Monitoramento de pressão dos pneus

· Retrovisor interno antiofuscante

· Faróis, luzes diurnas e lanternas traseiras em LED

· Faróis com acendimento automático

· Ar-condicionado automático com saídas para o banco traseiro

· Alerta de colisão e frenagem autônoma de emergência

· Monitoramento de ponto cego

· Assistente de estacionamento automático

· Sensores de estacionamento traseiros e dianteiros

· Carregador sem fio de celular

· Sensor de chuva

· Teto solar panorâmico

Comprar ou não comprar?

O Territory é um SUV que marca presença e impõe respeito. Disso não restaram dúvidas. Tem visual chamativo, interior atraente, isolamento acústico impressionante e algumas tecnologias capazes de seduzir quem tem quase R$ 190 mil sobrando para comprar um carro novo. 

Por outro lado, para quem se importa mais com desempenho, uma dinâmica mais instigante e homogênea, além de conforto de carro de luxo, de fato, talvez seja melhor investir em outro modelo.

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