Avaliação: Renault Kwid Zen, o que tem o carro mais barato do Brasil?
Por R$ 60.000, subcompacto une desempenho esperto na cidade a doses homeopáticas de conforto e tecnologia e a itens que parecem vindos dos anos 90
Entusiastas de carros antigos costumam dizer que um veículo do passado, sem direção assistida, vidros elétricos ou qualquer um desses itens de comodidade, é “formador de caráter”. Se há algum modelo do presente que mais se aproxime dessa proposta, é o Renault Kwid Zen 2023. Que, por sinal, é o atual carro mais barato do Brasil.
Por pouco mais de R$ 60.000, se incluirmos na conta a pintura metálica de R$ 1.500 presente na unidade que avaliamos, o Kwid Zen surpreende com um desempenho muito esperto para uso na cidade. Instaladores de serviços de internet e TV por assinatura não terão do que reclamar nesse sentido.
Possui, ainda, doses homeopáticas de conforto e tecnologia, mas também carrega alguns itens que parecem nos fazer viajar no tempo de volta aos anos 1990. Sim, sabemos que os preços de todos os carros no país estão caros, e pagar R$ 60.000 em um subcompacto de entrada não está nos sonhos de nenhum cidadão brasileiro.
Mas, sem querer bancar os advogados do diabo, já bancando, não focaremos nossas impressões sobre o Kwid Zen nessa questão. Até porque ele pode custar caro, mas ainda tem um custo-benefício interessante se observarmos que um VW Gol 1.0 MPI com lista similar de equipamentos sai por mais de R$ 70.000.
Aqui, o objetivo será mais leve: que tipos de equipamentos o carro mais barato de nosso mercado em 2022, único que ainda resiste com uma etiqueta mínima abaixo de R$ 60.000, é capaz de oferecer? Se você está tão curioso quanto a gente para saber essa resposta, basta seguir os parágrafos abaixo.
Renault Kwid Zen 2023 – Preço: R$ 59.090. Pintura Prata Étoile: R$ 1.500. Total: R$ 60.590.
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Design, conforto, acabamento e espaço interno
Já discorremos detalhadamente sobre como é o Kwid 2023 visualmente e em termos de acabamento interno e espaço para os ocupantes nesta avaliação de lançamento, quando rodamos com a versão intermediária, Intense.
Lá, apontamos que o pequenino SUV – uma reestilização das linhas anteriores, portanto sem mudança de carroceria ou dimensões – proporciona vãos para pernas e cabeças maiores que os de Gol e Fiat Mobi. Outra vantagem está no porta-malas, com ótimos 290 litros de volume.
Ainda assim, o espaço num geral é acanhado, mais ainda para os ombros. Afinal, o Kwid é um carro muito estreito. Esbarrar os braços nas portas ou as pernas no console central é algo comum, mesmo para uma pessoa de 1,70 m de altura, caso deste escriba. Por isso mesmo, os apoiadores e puxadores das portas laterais são demasiadamente curtos.
Esteticamente, a versão Zen perde adereços que deixam as opções mais caras da gama um pouco mais requintadas. À frente, a grade é toda em preto fosco, sem as barras cromadas encravadas no topo. Pelo menos o DRL segue de LED na parte superior do conjunto óptico.
Nas laterais, não há pintura bicolor de teto nem adesivos nos “gomos” que se desenham na base das portas. Os quatro conjuntos roda-pneu possuem as mesmas especificações das versões superiores (165/70 R14), incluindo rodagem com apenas três furos, mas as rodas são sempre de aço com calota escurecida.
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Atrás, o Kwid Zen ganhou refletores entranhados no para-choque, como no restante da linha 2023, mas as lanternas têm o mesmo arranjo interno pré-facelift, o que significa que não possuem guias de LED.
Por fora, a abertura do porta-malas se dá apenas pelo encaixe e giro da chave, sem nenhum tipo de auxílio elétrico. Pelo menos é possível abrir o compartimento de dentro do habitáculo, através de uma alavanca à esquerda do banco do motorista (junto com o bocal do tanque de combustível).
Felizmente, a tampa do bagageiro já possui braços por mola a gás para amortecimento. Os contornos da chapa metálica expõem a simplicidade do projeto, com soldas e parafusos aparentes. Pelo menos o compartimento, em si, é todo forrado, mesmo na versão de entrada. Só que o triângulo de sinalização ocupa um cantinho do bagageiro, pois faltou espaço para ele no local do estepe.
Abrindo o capô, vemos manta acústica e diversos enxertos de espumas para conter vibrações da própria tampa e a invasão de ruídos do motor na cabine. Ao mesmo tempo, a bateria é surpreendentemente revestida por um conjunto de forros unidos por velcro, enquanto o cabeçote é vedado por uma peça de... isopor.
Internamente, o Kwid Zen perde os elementos em cromo e preto brilhante nas maçanetas, manopla de câmbio (que é igual à dos anos-modelos anteriores), console central e painel. Tudo isso deixa a cabine do Kwid Zen 2023 com predominância de um tom preto fosco, sem contrastes e com cara de carro de entrada.
Por outro lado, é preciso dizer que as peças são aparentemente bem encaixadas. Há alguns vãos pelo painel, mas sem desalinhamentos grosseiros como o do porta-luvas do Fiat Pulse, por exemplo. Se as peças não se soltarem ao longo do tempo, como alguns clientes reclamam em unidades de anos-modelos anteriores, será um bom avanço.
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Há, ainda, rádio com tela monocromática de luz azul no lugar de central multimídia, pinos nas quatro portas (apesar de as travas serem elétricas), manivelas para abertura manual dos vidros traseiros e chave com pantógrafo fixo. Tudo isso cria a já referida conexão com a década de 90.
Falando em bancos, os traseiros não são bipartidos e sim inteiriços, mas possuem rebatimento. O do motorista não oferece regulagem de altura, assim como o volante não é multifuncional nem dispõe de qualquer tipo de ajuste. Pelo menos o revestimento em tecido, embora simples, é de bom gosto, com costuras vermelhas e miolo xadrez.
O Kwid Zen conta ainda com direção elétrica (bem leve, por sinal) e ar-condicionado, mas há apenas um limpador de para-brisa e os retrovisores externos são manuais – ou seja, mudar a angulação do espelho direito dependerá de braços longos ou da boa vontade do passageiro.
Dimensões: comprimento, 3.680 mm; largura, 1.579 mm; altura, 1.479 mm; entre-eixos, 2.423 mm. Porta-malas: 290 litros.
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Desempenho, consumo e dirigibilidade
Pudemos dirigir o Kwid Zen ao longo de uma semana pelo trânsito sempre caótico de São Paulo (SP), e constatamos que o modelo ficou mesmo mais esperto na linha 2023. As mudanças aplicadas pela Renault no motor 1.0 SCe, já explicadas aqui, foram pontuais: sensor de fase e central eletrônica recalibrados.
Todavia, o subcompacto desenvolve muito bem nas arrancadas e retomadas, sem demandar muitas reduções de marcha mesmo a giros mais baixos. Com a vantagem de ter dimensões muito compactas, sendo extremamente fácil de manobrar. Só não conte com nenhum tipo de sensor de estacionamento ou câmera: a baliza terá que ser mesurada no velho “olhômetro”.
Motor: 1.0, dianteiro, transversal, três cilindros em linha, 12V, aspirado, flex, comando único de válvulas, injeção eletrônica multiponto, taxa de compressão 11,5:1
Potência: 68/71 cv (G/E) a 5.500 rpm
Torque: 9,4/10 kgfm (G/E) a 4.250 rpm
Peso/potência: 12,1/11,6 kg/cv (G/E)
Peso/torque: 87,8/82,5 kg/kgfm (G/E
Câmbio: manual, 5 marchas
Tração: dianteira
0 a 100 km/h: 13,5/13,2 segundos (G/E)
Velocidade máxima: 159 km/h (E) e 160 km/h (G)
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Até 90 km/h, máxima permitida nas marginais expressas da maior cidade do país, tudo transcorre com positiva agilidade. A partir disso, o propulsor de apenas 71 cv com etanol começa a demonstrar falta de elasticidade, mostrando que rodar com o Kwid em rodovias continuará sendo um exercício de resiliência.
A velocidades mais altas, a carroceria extremamente leve, com pouco menos de 800 kg – constata-se isso pela leveza e finura das portas –, os pneus com banda de rodagem estreita e as suspensões demasiadamente permissivas em termos de inclinação comprometem a estabilidade e a sensação de segurança.
O câmbio manual de cinco marchas segue o mesmo de outrora, assim como as suspensões (tipo McPherson na dianteira e eixo rígido na traseira) e os freios (por discos ventilados à frente desde a linha 2020 e tambores atrás), conforme explicamos na avaliação da versão Intense. Lá, também discorremos sobre o isolamento acústico precário do modelo.
Dados técnicos: direção elétrica; suspensão McPherson (dianteira) e eixo rígido com molas helicoidais (traseira); freios a disco ventilados (dianteira) e tambor (traseira); peso em ordem de marcha, 818 kg; carga útil, não divulgada; diâmetro de giro, 10 m; vão livre do solo, 185 mm; ângulo de ataque, 24,1°; ângulo central não divulgado; ângulo de saída, 41,7°. Tanque de combustível: 38 litros; pneus 165/70 R14.
Talvez a maior vantagem do Kwid esteja no consumo de combustível. Em nossa avaliação, obtivemos 9,9 km/l com etanol em perímetro urbano. Pode parecer pouco, mas a verdade é que rodamos sem nenhuma preocupação com economia, tentando extrair ao máximo sua agilidade nas retomadas, e com o ar-condicionado o tempo todo ligado.
Só não gostamos da atuação do start-stop, pois o processo de desligue e religue automático do motor em paradas breves se dá de modo abrupto, com trancos, o que chega a irritar. Ainda assim, mantivemos o sistema ligado o tempo todo, o que contribuiu para o número alcançado.
Consumo Inmetro: 10,8 km/l (E) e 15,3 km/l (G) na cidade / 11 km/l (E) e 15,7 km/l (G) na estrada.
Consumo Mobiauto: 9,9 km/l na cidade com etanol.
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Segurança e tecnologia
Segurança e tecnologia são oferecidas de forma comedida pelo Kwid Zen 2023. Mas há pontos positivos, como os quatro airbags, o controle eletrônico de estabilidade, o monitoramento de pressão dos pneus, o aviso de não afivelamento dos cintos em todas as posições e os indicadores de temperatura externa e de troca de marchas no quadro de instrumentos.
Este último possui o mesmo desenho das versões mais caras, com grafismos agradáveis nos mostradores analógicos e uma boa tela digital monocromática de LED ao centro – melhor até que a do primo maior Captur.
Só não espere encontrar comandos satélites para o sistema de som à direita da coluna de direção, ausente na versão Zen. O rádio possui pareamento via Bluetooth, mas conseguir fazê-lo conectar é exercício de paciência, pois os comandos são todos muito pouco intuitivos, mesmo para a troca de estações.
Há, ainda, direção assistida, travas elétricas e vidros elétricos só dianteiros, mas fica só nisso. De resto, o Kwid Zen 2023 é um carro simples como já se esperaria da versão de entrada do carro mais barato do Brasil, mesmo que ele custe R$ 60.000.
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Renault Kwid Zen 2023 – Itens de série
Além dos obrigatórios airbags frontais, freios dianteiros com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição eletrônica de frenagem), cintos de segurança de três pontos em todas as posições, encostos de cabeça em todas as posições e ganchos Isofix para cadeirinhas infantis, o Kwid Zen 2023 vem de série com:
Visual: Luzes de circulação diurna em LED (DRL),
Conforto: direção elétrica, ar-condicionado, travas elétricas das portas, vidros dianteiros elétricos; abertura interne de porta-malas e tanque de combustível; retrovisores com regulagem manual; banco traseiro inteiriço rebatível.
Tecnologia: painel de instrumentos com mostradores em LED; Stop/Start; monitoramento da pressão dos pneus (TPMS); indicador de temperatura externa; rádio Continental 2DIN (Bluetooth, USB, AUX) com dois alto-falantes.
Segurança: 4 airbags (2 frontais e 2 laterais), controle eletrônico de estabilidade (ESP), assistente de partida em rampa (HSA), aviso de cintos de segurança não afivelados no banco traseiro.
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Conclusão
Se carro simples forma caráter, o Kwid Zen 2023 faz isso com louvor em detalhes como os vidros traseiros por manivela, os retrovisores manuais, o rádio arcaico, a abertura externa do porta-malas só pela chave, o espaço acanhado para os ombros e a impossibilidade de se promover qualquer mudança na altura do banco do motorista ou na posição do volante.
Por outro lado, ele até surpreende com agrados como a direção elétrica levinha, o câmbio de engates longos, mas justinhos, as travas elétricas, os airbags laterais, o controle de estabilidade e o start-stop, além de um desempenho satisfatório para uso em ambiente urbano.
É caro? Sim, como qualquer carro zero-quilômetro hoje. Replicará as mesmas fragilidades de projeto das linhas anteriores do Kwid? Isso só o tempo dirá. Mas, como versão com foco em vendas para frotas, aparentemente os instaladores de internet e TV por assinatura poderão até andar apertados, mas não terão desculpa para não chegar a tempo ao local do serviço.
Imagens: Murilo Góes/Mobiauto
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