Exclusivo: Renault Captur deve sair de linha no Brasil
Com vendas baixas e afetado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, SUV tende a dar adeus ao mercado brasileiro antes do programado pela marca francesa
Com Renan Rodrigues
O ano era 2017. O Brasil vivia um boom no segmento de SUVs compactos. O crescimento parecia tamanho, com espaço para tantos concorrentes, que a Renault resolveu apostar em dois produtos construídos sobre a mesma base: o já conhecido Duster, mais simples e robusto; e o estreante Captur, com visual mais elegante.
Só que, apesar das cascas muito diferentes, por dentro os dois produtos ainda se mostravam muito parecidos, seja no padrão de acabamento, cheio de peças compartilhadas, seja pelo uso da mesma mecânica e motorizações. Hoje, com um segmento saturado, não há mais espaço para dois modelos competindo tão próximos entre si dentro de uma mesma marca.
A Mobiauto já havia apontado que, dentro do planejamento de médio prazo da marca francesa no país, consta uma atualização do Duster prevista para 2024, com reestilização visual e adoção de motorização 100% turbo. Já o Captur não teria mais nenhum investimento previsto, ficando fadado à aposentadoria nos próximos anos.
Porém, nossas mais recentes apurações indicam que a fabricante já cogita antecipar o seu fim de linha ainda para este ano. E aproveitaria o foco no lançamento do SUV elétrico Mégane E-Tech, no último trimestre, para tirá-lo do catálogo sem muito alarde.
Um dos motivos é o desempenho nas vendas. Concessionários reclamam que está difícil vender o Captur sem arrochar margens e oferecer descontos, ao passo que o Duster se mostra um produto bem mais atraente e vendável.
Mas há um outro fator que ameaça seriamente acelerar sua morte: a guerra na Ucrânia.
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Kaptur matará o Captur
O projeto do nosso Captur é compartilhado com o Kaptur russo, e há até componentes do SUV produzido em São José dos Pinhais (PR) que vêm do país da Eurásia.
Por causa do ataque russo à Ucrânia, a Renault está entre as dezenas de empresas ocidentais que romperam laços com o país presidido por Vladimir Putin, entregando a propriedade da AvtoVAZ, montadora local que detém a marca Lada, ao governo local.
Por esse motivo, a produção do Captur se encontra suspensa no Brasil já há algum tempo, o que vem se refletindo nos dados de emplacamento: de quase 600 unidades vendidas em maio, o volume caiu para 315 em abril, 240 em maio, 209 em junho e apenas 180 em julho.
No mesmo período, o irmão Duster segue com índices muito mais sólidos de emplacamentos, sempre na faixa de 1.500 a 2.000 unidades mensais.
O mais recente movimento da empresa foi tirar o Captur do catálogo de vendas diretas, para frotas ou locadoras, o que aumentou ainda mais os rumores. Segundo outra fonte, a empresa até cogita nacionalizar componentes para retomar a produção em nível normal, mas, diante de um modelo com pouco apelo nas lojas, essa saída vem se tornando cada vez mais improvável.
Segundo esse mesmo informante, internamente o clima é de total incerteza quanto ao destino do modelo. Em várias lojas, já praticamente não se encontra Captur no showroom de modelos novos, há poucas unidades disponíveis em estoque e algumas concessionárias oferecem até unidades de test-drive para venda.
É possível encomendar um exemplar caso não se encontre disponível a pronta entrega. O tempo de espera passado por lojistas é de cerca de 30 dias. Porém, diferentemente de outros modelos fora de estoque, geralmente vendidos com ágio, o Captur é oferecido com descontos de até R$ 13.000 mesmo nesses casos.
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Renault: “Produção segue”
A Mobiauto consultou a Renault oficialmente sobre o tema. Como resposta, a fabricante apenas resumiu que “o Captur segue em produção no Brasil”.
Imagens: Rodrigo Miele/Mobiauto
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