VW Gol escapou do fracasso e da morte muitas vezes antes de sair de linha

Histórico de vendas pode indicar uma trajetória apenas de sucesso, mas o carro mais popular do Brasil teve que ralar muito ao longo de 42 anos

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23.11.2022 às 12:46 • Atualizado em 29.05.2024

Histórico de vendas pode indicar uma trajetória apenas de sucesso, mas o carro mais popular do Brasil teve que ralar muito ao longo de 42 anos

Quem vê o volume de vendas e produção do Volkswagen Gol no Brasil, cerca de 8,5 milhões de unidades fabricadas e 7 milhões vendidas em nosso mercado ao longo de 42 anos, acreditará que o carro mais popular de nossa indústria automobilística sempre teve uma trajetória de sucesso no país.

Mas, como já diria o adágio popular, quem vê as pingas que se toma não vê os tombos que se leva. É o caso do Gol. Apesar de ter sido líder inconteste e de forma ininterrupta no Brasil por 27 anos, entre 1987 e 2014, o compacto que se despede ao fim de 2022 para dar lugar ao Polo Track quase foi um grande mico nacional.

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Mesmo em seu auge, encarou momentos de descrédito e desprestígio por parte da própria VW, que tentou de diversas formas encontrar um substituto para ele, tentando de todas as formas estar preparada para o seu ocaso e não ficar dependente apenas dele em sua gama de produtos.


A história do VW Gol no Brasil

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A jornada do Gol começa efetivamente em 1976, quando a marca alemã já pensava em um sucessor para o Fusca no Brasil. Inspirada em novos projetos europeus como o Polo e o Golf, a fabricante decidiu simplificar a plataforma do Polo de primeira geração para adaptá-la às condições de nosso mercado.


O projeto BX

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Nascia o projeto BX, liderado pelo engenheiro Phillip Schmidt, o pai do Polo Mk1 europeu. Em maio de 76 foram feitos os primeiros esquetes e, no fim de 77, o primeiro protótipo. 

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Inicialmente, o hatch era uma cópia quase escarrada do Polo, incluindo faróis redondos e uma dianteira que também lembrava muito o Passat nacional, como mostram estas primeiras imagens do protótipo feitas pela VW em meados de 78.

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A escolha do nome Gol

O nome Gol foi sugerido por um jornalista, Nehemias Vassão, mantendo a recente tradição da marca em nomear modelos com o nome de esportes, caso de Golf e Polo. Para batizá-lo em menção ao futebol, com o qual o brasileiro tem mais conexão, sem adotar o nome “futebol” – que, convenhamos, soaria bizarro –, veio a ideia de criar o... Gol, momento mais sublime dessa modalidade.


O Gol “batedeira” com motor de Fusca e o risco de fracasso

Lançado em 1980, o Gol de produção tinha diferenças em relação ao primeiro protótipo, como faróis retangulares, linhas mais retilíneas e área envidraçada enorme. Isso conferia a ele um ar de carro moderno, pronto para as tendências da década que se iniciava. 

Por outro lado, seguia à risca a premissa de ser um modelo de baixíssimo custo, trazendo sob o capô o motor 1300 refrigerado a ar de apenas 42 cv do próprio Fusca, só que montado à frente e com tração dianteira.

O barulho típico dos motores a ar, charmoso em clássicos como Kombi e Fusca, virou motivo de chacote em um carro com traços tão mais modernos quanto o Gol. Logo veio o apelido “batedeira”. Além disso, a falta de desempenho (o 0 a 100 km/h era feito em quase 25 segundos!) desagradou sobremodo os consumidores.

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A ameaça do projeto BY

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Nem mesmo a aplicação de um propulsor ligeiramente maior e mais potente (o 1600 de 51 cv, que ia de 0 a 100 km/h em mais de 15 segundos) no ano seguinte aliviou a barra. Tanto que em meados dos anos 80 a VW criou o “Projeto BY”, que teria uma traseira mais curta e a missão de encarar o Fiat Uno.

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Assim, enquanto seus irmãos de plataforma, Voyage e Saveiro, além do próprio Passat, já apostavam em propulsores a água, o Gol insistia nos obsoletos boxer arrefecidos, que quase o fizeram se tornar um fracasso completo até 1984, quando enfim a Volkswagen resolveu virar a chave e fazer as mudanças necessárias para seu sucesso.

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A era dos Gol AP, GT, GTS e GTi (agora sim!)

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Naquele ano, o Gol recebeu a versão esportiva GT, com o valente 1.8 AP de 99 cv declarados (diz-se que a potência real era maior, porém subdimensionada por questões tributárias). Ele ia de 0 a 100 km/h em menos de 10 segundos e chegava como forte rival do Ford Escort XR3. Agora sim!

Nos anos seguintes, o hatch ganhou versões mais simples com motores 1.5 (78 cv) e 1.6 (81 cv) da mesma família. Além disso, a VW promoveu outras mudanças, como luzes de seta separadas dos faróis, como no sedan Voyage, e o estepe realocado do cofre do motor para o porta-malas. Foi aí que o Gol deslanchou de vez no mercado.

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Em 1987, o modelo virou líder anual de vendas pela primeira vez, posição que não deixaria até o final de 2014. Naquele mesmo ano, a versão GTS substituía a GT com mais toques de requinte. Já em 89, surgia o icônico Gol GTi, com motor 2.0 AP de 120 cv, o primeiro carro nacional com injeção eletrônica monoponto no lugar do carburador.

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Gol 1000, o mais popular de todos

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No esteio da Autolatina, já com o facelift de dois anos antes, apelidado de “Gol chinesinho”, em 93 surge o Gol 1000, com o contestado motor 1.0 CHT de 50 cv de origem Ford. Sua meta era brigar com o Uno Mille.


Gol G2 “bolinha”

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O Gol de segunda geração, nascido do projeto AB9 e popularmente chamado de “Bolinha”, chegou em 1994 com ar disruptivo. Aproveitava elementos da plataforma BX, porém com uma carroceria totalmente nova e com estamparia muito mais curvilínea, daí o apodo. 

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Foi ele quem trouxe elementos como: versão GTi 2.0 16V de 145 cv (1996); motores 1.6 e 1.8 AP com injeção eletrônica multiponto; motor 1.0 16V da família EA111 (97).


Gol G3: turbo e Total Flex

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Em 1999, o modelo foi reestilizado, em uma atualização que erroneamente ficou conhecida como “G3”, como se fosse uma terceira geração.

Foi nela que o Gol recebeu, em 2000, a controversa versão Turbo 1.0 16V, assim como, em 2003, a versão Total Flex, com o propulsor AP 1.6 8V preparado para receber tanto gasolina quanto etanol no tanque, simultaneamente e em qualquer proporção. Era o início da era dos carros flexíveis no Brasil.

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As ameaças de Polo e Fox

Já naquele momento, porém, a VW quebrava a cabeça para entender o futuro do Gol e do mercado automotivo nacional. Em 2000, apostara na fabricação nacional do Polo de quarta geração, incluindo versões com motor 1.0 16V, que chegava para conquistar clientes que antes comprariam as versões mais caras do Gol.

Na época, a fabricante também atuava no “projeto Tupi”, que originou o Fox em outubro de 2003, com o objetivo inicial de ser um sucessor do Gol. Porém, da mesma forma que o Fusca sobreviveu por anos em linha mesmo com a chegada do Gol, este seguiu vivo e firme na liderança do ranking de vendas mesmo com o nascimento do primo.

O Fox usava a plataforma PQ24 do Polo Mk4 e motores transversais da família EA111, que davam a ele uma estrutura mais rígida, moderna e alta, além de um maior aproveitamento de espaço. Nada disso abalou a liderança do Gol, que seguia vendendo como pão quente.

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Gol G4, um cabra simples

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Em 2004, a Volkswagen atualizou novamente seu best seller, outro facelift tratado como troca de geração e que recebeu a alcunha G4. Aqui, o projeto foi simplificado ao extremo, a fim de ser posicionado abaixo de Fox e Polo com mais clareza na gama, e até como uma manobra para acelerar seu fim de linha.

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Entretanto, no esteio de uma Economia que vivia tempos de crescimento, o que levou a uma corrida de classes emergentes por seu primeiro carro zero-quilômetro, nem que fossem modelos pelados como o próprio Gol e o Chevrolet Celta, o Gol G4 seguiu líder de mercado como sempre, vendendo como nunca.


Gol G5: despedida dos AP e início da era transversal

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Aí não teve jeito: a Volkswagen teve que preparar uma terceira geração de fato do Gol, nascida em 2008 a partir da base PQ24 de Polo e Fox. A grande novidade estava na adoção dos motores EA111, rebatizados como VHT, em toda a gama, montados transversalmente. Era o fim do Gol com propulsores longitudinais.

Conhecido como G5, esse Gol teve direito até a comercial com Giselle Bündchen e Sylvester Stallone.

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O início do declínio

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As vendas seguiram de vento em popa até 2013, ano em que a Economia brasileira e o mercado num geral começaram a passar por crises e transformações. Uma delas foi a proibição da venda de automóveis 0 km sem airbags frontais nem freios ABS, o que promoveu a morte do Gol G4, que seguia vivo até então como opção de entrada para frotistas.


Gol G6: tentando ser um “mini-Golf”

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Àquela altura, a marca já aplicara um facelift ao modelo, com ares de mini-Golf, que ficou conhecido como G6. A liderança no ranking de emplacamentos foi perdida em 2014 para o Fiat Palio e, no ano seguinte, para o Chevrolet Onix, que passou a ser o novo rei da indústria automobilística no Brasil de modo mais perene.

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Gol G7: ameaça do Up! e o motor três-cilindros

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A Volkswagen, àquela altura, havia apostado suas fichas no Up!, que chegou a ser chamado de “Fusca do século 21” por executivos da empresa e seria o responsável (mais um) por enterrar o Gol.

O subcompacto nunca chegou perto do sucesso esperado e o veterano sobreviveu de novo. Foi atualizado mais uma vez em 2016, o chamado Gol G7, recebendo o motor 1.0 três-cilindros 12V flex da família EA211, com 82 cv, sem trocar a plataforma PQ24.

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Gol G8: o primeiro automático

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Outra mudança veio em 2018, com grade mais robusta, faróis alargados e uma inédita configuração 1.6 16V MSi com câmbio automático de seis marchas. Não houve o sucesso esperado entre o público do varejo, mas o Gol 1.0 continuou sendo figura forte no mercado de frotas. Tanto que Fox e Up!, nascidos para mata-lo, se foram antes dele.

Outro fim de linha do Gol estava marcado para o final de 2021, quando a VW deixaria de produzi-lo para começar a fabricação do projeto 246, um SUV de entrada que chegaria para substitui-lo. Veio a pandemia de covid-19, o projeto foi congelado e o Gol sobreviveu de novo, pelo menos por mais um ano.

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Polo Track chega para enfim matar o Gol

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Agora, o Gol sai de linha para dar lugar ao Polo Track como novo carro de entrada da Volkswagen no Brasil, enquanto o 246 chegará só no início de 2025. Para isso, terá uma série limitada de despedida, a Last Edition, inicialmente limitada a 1.000 unidades. 

Jogou bem, enquanto esteve em linha ao longo de 42 anos, mas desta vez não conseguiu se esquivar da morte.

Muitas vezes por acertos ou correções da VW, outras quase sem querer, até contrariando as expectativas da companhia, o Gol foi o carro mais resiliente e icônico a ter sido criado e fabricado em terras brasileiras.

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