A febre dos carros nucleares que prometiam até 8.000 km de autonomia sem poluir
A busca por carros mais eficientes remonta ao início da produção em massa de veículos. Atualmente, a variante que mostra os melhores resultados nesse sentido são os carros elétricos. No entanto, ao longo das décadas, muitas soluções foram testadas.
No entanto, na década seguinte é que as coisas ficam malucas. Até por conta do uso da bomba atômica ao fim da guerra, o mundo começou uma corrida nuclear, mas para outro caminho, o de uso da energia gerada.
E o mundo automotivo não fugiu disso. Sim, no fim dos anos 1950, surgiram projetos que pretendiam fazer carros movidos a energia nuclear. O mais famoso deles é o Ford Nucleon.
Autonomia de 8.000 km
Antes de mais nada, precisamos dizer que o Ford Nucleon nunca foi produzido. O projeto teve apenas um protótipo, sem toda a parte mecânica. Apesar disso, alguns detalhes do projeto foram divulgados com entusiasmo pela marca.
A fonte de energia seria uma espécie de “cápsula de energia”, que na verdade se tratava de um reator nuclear, que poderia ser facilmente reparado e reabastecido graças a conversores eletrônicos de torque.
As grandes vantagens seriam a autonomia e baixa poluição. Um reator nuclear seria capaz de durar por cerca de 8.000 km sem a necessidade de troca. Só que o Nucleon não foi o único.
A própria Ford, em 1962, apresentou o Seattle-ite XXI, que tinha seis rodas, sendo quatro esterçantes e uma carroceria modular, capaz de se converter em um carro familiar, como era apresentado, ou separar a parte traseira e transformá-lo em um carro urbano.
Arbel-Symétric quase produzido
Projetado como um carro híbrido, o Arbel-Symétric usava um motor a gasolina que gerava eletricidade para quatro motores elétricos, um em cada roda. O protótipo foi desenvolvido e apresentado no Salão do Automóvel de Genebra, em 1958.
O projeto previa fontes alternativas, como uma turbina de 40 Kw, além de uma bateria atômica de mesma potência, com direito a usa de lixo nuclear na construção. No entanto, o governo francês nunca autorizou o uso e o projeto foi abandonado.
Carros dos Jetsons
Simca Fulgur, apresentado em 1958
Outros dois projetos em destaque foram os Studebaker-Packard Astral, de 1957, e Simca Fulgur, de 1958. Ambos seguiam a tendência de utilizar o design futurista com muita inspiração de jatos, foguetes e naves espaciais.
Studebaker-Packard Astral, de 1957
Curiosamente, para proteger os ocupantes, ambos adotavam uma espécie de escudo, similar ao que acontece no desenho dos Jetsons. Aliás, o Simca estava muito a frente do seu tempo, já que poderia ser controlado por voz e guiado por radar.
Problema não é o reator
As propostas não foram para frente por alguns motivos, mas nenhum deles em relação ao reator. Os cientistas acreditavam que em algum momento seria possível reduzir o tamanho do reator para caber em um carro de passeio – veremos mais a frente que é verdade.
"O próprio núcleo do reator (incluindo a blindagem) para um pequeno reator nuclear poderia de fato caber no compartimento do motor de um veículo pessoal, o que geraria ampla energia para alimentar um veículo pessoal", Dr. L. Dale Thomas, vice-diretor do Propulsion Research Center da Universidade do Alabama em Huntsville, em entrevista ao The Drive.
Os maiores problemas são a segurança, a dissipação de calor e os gases radioativos
No entanto, um reator demandaria diversas etapas para converter a energia térmica em energia mecânica. Se em um motor a combustão interna, o calor residual é removido através dos gases do escape, além do radiador, com um reator isso não funcionaria.
Primeiro que os gases não podem ser simplesmente jogados na atmosfera, já que são radioativos. Portanto, precisaria de um sistema fechado, similar ao do ar-condicionado, adicionando peso extra e perda de eficiência.
E no futuro? Será possível um carro nuclear?
A indústria ainda não descartou totalmente essa ideia, o projeto mais recente apresentado é de 2009, trata-se do Cadillac World Thorium Fueled Concept Car, mostrado ao mundo no Salão do Automóvel de Chicago.
Segundo os engenheiros, ele poderia rodar mais de 100 anos com pouca ou nenhuma manutenção. O reator, que não estava de fato presente no conceito, trabalharia com tório, que é consideravelmente menos radioativo que o urânio.
O tório também é a chave para a Laser Power Systems, empresa estadunidense que vê na energia nuclear a saída para um mundo mais sustentável. Segundo Charles Stevens, CEO da empresa, apenas uma grama de tório consegue gerar mais energia do que 28 mil litros de gasolina.
A proposta da empresa é um laser de tório utilizado para aquecer água e gerar vapor, que por sua vez move diversas miniturbinas, gerando energia.
Por fim, a NDB Technology está procurando formas de melhorar o conceito de “nano-bateria nuclear”, que utiliza lixo nuclear reciclado, cobertor por várias camadas de diamante sintético para proteger as baterias nucleares e proteger os usuários da radiação.
A energia é gerada através do espalhamento inelástico, portanto, o encontro do fóton incidente com uma molécula em estado vibracional.
Essa tecnologia tem sido testada até para dispositivos como smartphones, portanto, não seriam um problema para um carro. Segundo a NDB, uma bateria dessa pode durar até 28 mil anos.
Porém, todas essas esbarram na desconfiança da população em geral com a radiação emitida, na própria proteção do usuário em relação a essa radiação e, por fim, considerando se tratar de um automóvel, não há estudos sobre as consequências de um grave acidente entre carros movidos a energia nuclear.
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Editor de conteúdo
Prefere os hatches com vocação esportiva, ainda que com um Renegade na garagem. Formado em jornalismo na Fiam-Faam, há 10 anos trabalha no setor automotivo com passagens pelo pioneiro Carsale, além de Webmotors e KBB.