Afinal, quando um carro pode ser considerado um SUV?
A preferência pelos SUVs no mercado de zero-quilômetro é incontestável. No último ano, por exemplo, a categoria foi responsável por 27% ou quase um terço dos mais de 1,9 milhão de veículos emplacados, segundo dados divulgados pela Fenabrave (associação nacional dos concessionários).
Com isso, a categoria finalizou 2020 como a mais vendida do Brasil. O protagonismo do segmento se deve, em grande parte, ao desempenho de vendas dos SUVs compactos, que têm ganhado espaço ano a ano na garagem dos brasileiros.
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Eles surgiram no início dos anos 2000 com o lançamento do Ford EcoSport. Tempos depois veio o Renault Duster e, em meados da década de 2010, as fabricantes lançaram uma enxurrada de modelos para o segmento: Hyundai Creta, Honda HR-V, Jeep Renegade, Chevrolet Tracker, Nissan Kicks e Volkswagen T-Cross.
No último ano ainda veio o Volkswagen Nivus e ainda virão mais opções, como o SUV do Fiat Argo, por exemplo - que você pode conhecer melhor clicando aqui. Já um andar acima, entre os SUVs compactos-médios, temos Jeep Compass, Toyota Corolla Cross e VW Taos.
Mas uma polêmica paira sobre o segmento. O que um modelo precisa ter para ser considerado um SUV? Será que todos esses carros vendidos como SUVs no mercado são realmente SUVs?
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Para fazer parte da categoria não é necessário ter design arrojado, desempenho de supercarro ou a robustez de uma picape. Na verdade, já não é mais necessário também ter uma carroceria construída sobre chassi de longarina nem tração 4x4, atributos inerentes a SUVs considerados “raiz”.
De acordo com a concepção moderna, basta ter uma carroceria mais alta e larga, posição de dirigir elevada e uma razoável altura livre do solo para ser um SUV.
Mas e quando modelos como o pequenino Renault Kwid, com dimensões tão diminutas, ou o VW Nivus, que tem exatamente a mesma cabine de um Polo, só que um pouco mais alta, se denominam SUVs? E um Chevrolet Tracker ou Toyota Corolla Cross da vida, que possuem ângulos e vão livre nem tão generosos assim?
Como o tema é complexo, seguiremos a cartilha da legislação brasileira. Segundo o Inmetro, para um veículo ser considerado SUV, precisa ser destinado ao transporte de passageiros e ter carroceria fechada com menos de 8 m² (+/- 0,10 m²) de habitáculo, sem caçamba. Além disso, deve alcançar ao menos quatro dos cinco requisitos citados abaixo:
- Ângulo de ataque mínimo de 23º, com tolerância de -1º
- Ângulo de saída mínimo de 20º, com tolerância de -1º
- Ângulo de transposição de rampa mínimo de 10º, com tolerância de -1º
- Altura livre do solo, entre os eixos, mínimo de 200 mm, com tolerância de -20 mm;
- Altura livre do solo sob os eixos dianteiro e traseiro mínimo de 180 mm, com tolerância de -20 mm.
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Com as informações acima, já temos a resposta para o primeiro dos questionamentos deste texto - “que tipo de veículo pode ser considerado um SUV”.
Para responder o segundo, a reportagem da Mobiauto reuniu as informações dos modelos mais importantes da categoria nos últimos anos para avaliar quem realmente é um SUV. Confira:
Volkswagen T-Cross
Ângulo de ataque: 20,7º
Ângulo de saída: 30,2º
Ângulo de transposição: (não divulgado)
Altura livre do solo (entre eixos): 191 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): 191 mm
Jeep Renegade*
Ângulo de ataque: 27°
Ângulo de saída: 31º
Ângulo de transposição: 21º
Altura livre do solo (entre eixos): 215 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): 216 mm
*Dados da versão flex
Jeep Compass*
Ângulo de ataque: 15,8º
Ângulo de saída: 30º
Ângulo de transposição: 22,1º
Altura livre do solo (entre eixos): 207 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): 206,8
*Dados da versão flex
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Chevrolet Tracker
Ângulo de ataque: 17º
Ângulo de saída: 28º
Ângulo de transposição: (não divulgado)
Altura livre do solo (entre eixos): 157 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): (não divulgado)
Hyundai Creta
Ângulo de ataque: 21°
Ângulo de saída: 28,4º
Ângulo de transposição: 11,3º
Altura livre do solo (entre eixos): 190 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): 190 mm
Nissan Kicks
Ângulo de ataque: 18º
Ângulo de saída: 28º
Ângulo de transposição: (não divulgado)
Altura livre do solo (entre eixos): 200 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): 200 mm
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Honda HR-V
Ângulo de ataque: 20,1º
Ângulo de saída: 29,7º
Ângulo de transposição: 10º
Altura livre do solo (entre eixos): 177 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): 207,3 mm
Toyota Corolla Cross
Ângulo de ataque: 21º
Ângulo de saída: (não divulgado)
Ângulo de transposição: (não divulgado)
Altura livre do solo (entre eixos): 161 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): (não divulgado)
VW Taos
Ângulo de ataque:19º
Ângulo de saída: 26,3º
Ângulo de transposição: 20,1º
Altura livre do solo (entre eixos): 246 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): 185 mm
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Renault Duster
Ângulo de ataque: 30º
Ângulo de saída: 34,5°
Ângulo de transposição: 22º
Altura livre do solo (entre eixos): 237 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): (não disponível)
Volkswagen Nivus
Ângulo de ataque: 18º
Ângulo de saída: 26,1º
Ângulo de transposição: 20,2º
Altura livre do solo (entre eixos): 176 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): 207 mm
Veredicto
Os dados acima mostram que, de acordo com as especificações do Inmetro, apenas os Jeep Renegade e Compass, o Hyundai Creta, Renault Duster e o VW Taos cumprem com o esperado por um SUV. Deles, quem diria, só o Renegade, tão criticado por ser um falso SUV, gabarita todos os critérios.
Já os Volkswagen T-Cross e Nivus, o Chevrolet Tracker, o Nissan Kicks, o Honda HR-V e até o médio Corolla Cross (de maneira surpreendente) ficam à margem da categoria, se o critério seguido for puramente legal.
O Tracker, por exemplo, não tem o ângulo central e o vão livre entre o solo e o eixo divulgados pela marca. Mesmo com essas informações, ele não se encaixaria como SUV por não ter ângulo de ataque e altura livre do solo até o centro do veículo suficientes. Com isso, só consegue cumprir três dos cinco requisitos.
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O mesmo ocorreu com o Corolla Cross: seus ângulos de transposição de rampa e de saída sequer foram divulgados, assim como o vão livre do solo sob os eixos. Mesmo que tivessem sido, o ângulo de ataque e a altura do solo entre os eixos estão abaixo das especificações e já o desqualificam como SUV perante o Inmetro.
T-Cross e Kicks poderiam ter conquistado o título oficial de SUV, mas saíram da lista porque as marcas não souberam informar até a publicação desta reportagem o ângulo de transposição dos dois. Dos demais quatro itens, eles só se enquadram em três, número insuficiente para que eles sejam nominados SUVs de fato.
Já HR-V e Nivus até possuem as informações completas, mas ainda assim não conseguiram entrar para o clube. Ambos cumpriram com apenas três dos cinco tópicos, ficando com dados abaixo do mínimo em ângulo de ataque e vão livre entre solo e a parte central do veículo.
Achou que a situação estava feia para quem não cumpriu os requisitos do Inmetro? Saiba que ainda pode piorar. Levantando os dados do Renault Kwid, pudemos entender por que a marca francesa chama o modelo de SUV dos compactos. Confira:
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Renault Kwid
Ângulo de ataque: 24º
Ângulo de saída: 40º
Ângulo de transposição: 10º
Altura livre do solo (entre eixos): 180 mm
Altura livre do solo (sob eixos dianteiro e traseiro): (não divulgado)
Mesmo que não tenha a dimensão do vão entre o solo e o eixo divulgado, o modelo somou quatro pontos dos cinco possíveis e, com isso, pode ser considerado um SUV nos critérios do Inmetro. É para deixar muito veículo com mais pinta de utilitário esportivo de para-choque caído...
Observação: não estamos afirmando que o Kwid é um SUV. Outras questões referentes a ele, de cunho mercadológico, como o porte, as dimensões e o espaço interno, são incompatíveis com o que se espera de um utilitário esportivo. Mas que ele atende a requisitos que outros modelos desta lista não atendem, isso é fato.
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Gerente de conteúdo
Formado em mecânica pelo Senai e jornalismo pela Metodista, está no setor há 5 anos. Tem passagens por Quatro Rodas e Autoesporte, e já conquistou três prêmios SAE Brasil de Jornalismo. Na garagem, um Gol 1993 é seu xodó.