10 maneiras de usar os números de um carro para te iludir
Para vender carro, vale tudo. Muitas fabricantes adoram usar números como argumento irrefutáveis de vend, mas até esses números podem estar distorcidos.
1. Carro mais vendido pode não ser o mais comprado
O modelo é anunciado como o mais vendido do mercado, forte argumento estatístico para convencer o freguês. Foi o caso da Fiat Strada em 2021.
Mas é apenas meia-verdade: o campeão de vendas engloba não apenas o número de unidades adquiridas pelo consumidor final, mas também as chamadas vendas diretas, centenas de milhares de carros vendidos para frotistas e locadoras. Explico melhor no vídeo abaixo:
2. IPI reduzido, preços aumentados
“Aproveite a redução do imposto para levar seu zero-km”. Muitas vezes não passa de “conversa para boi dormir”. O governo reduziu recentemente a alíquota em 18,5%, na média, mas o preço do carro aumentou.
Como assim? A explicação marota do fabricante: “Já estava previsto um aumento de 7% na tabela. Com a redução do imposto, nós aumentamos apenas 3%”…
3. Consumos irreais de carros híbridos e elétricos
Aferir consumo num motor a combustão não é tarefa simples. No Brasil, já existe uma padronização, implantada pelo Inmetro. Mas as coisas se complicam com a entrada de modelos híbridos e elétricos no mercado.
Até porque, existem diferentes padrões de medição. O mais usado hoje é o WLTP, muito usado na Europa, mas o primeiro foi o NEDC, menos rigoroso, bem comum na China (e que resulta em números absurdos, como 100, 200 km/l, ou alcances de 600 km que nunca se concretizam na prática). Nos EUA, usa-se o EPA, o mais rigoroso de todos.
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4. A capacidade de carga das picapes
Fundamental no caso de picapes, as fábricas costumam praticar verdadeiro malabarismo nas mensagens publicitárias.
Caso famoso foi no lançamento da Ford Courier: a fábrica exibiu um vídeo com um caixotão (“700 kg” pintado em corpo garrafal) sendo colocado na caçamba. Sim, este era realmente o peso admitido pela Courier. Mas o total, incluindo motorista e passageiro…
5. As “marchas virtuais” do câmbio CVT
Uma das caixas automáticas mais comuns aplicadas atualmente é a CVT, cuja sigla significa, em inglês, “transmissão continuamente variável”. Como o nome diz, ela não tem marchas definidas, pois a relação varia continuamente.
Mas o motorista pode bloquear o sistema em alguns pontos, o que passou a ser chamado de “marchas virtuais” ou “marchas simuladas”. A fábrica pode decidir quantas: três, quatro, nove, dez, 20, 30…
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6. Garantia de muitos anos, mas não para tudo
Marcas adoram anunciar carros com garantias de três, cinco e até seis anos. O que a fábrica não explica é que vários componentes não estão incluídos neste prazo.
Em alguns outros, recorre-se ao nebuloso argumento do “mau uso” para se isentar de responsabilidade. E sobra sempre para o dono do carro, que imaginava dormir tranquilo ao comprar um “0 km na garantia”.
7. O percentual de escurecimento da película
Há uma regulamentação do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) que limita o escurecimento dos filmes que se aplicam sobre os vidros. O que não fica bem explicado para o dono do carro é que, além do percentual gravado na película, deve-se somar o do próprio vidro.
Se o filme tem 28% e o vidro sai de fábrica com 10%, passa a valer a soma: 38%. Se o policial estiver munido do aparelho de medição, chamado luxímetro, é possível configurar a infração e o motorista pode ser autuado.
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8. O golpe da redução da dívida
Novo golpe na praça é anunciar a possibilidade de se obter um bom desconto na dívida por atraso nas prestações do financiamento: “50% de redução” é o que anuncia a quadrilha que entra em contato com o dono do carro sem que a instituição financeira credora saiba como os marginais obtiveram o valor, nome, endereço e telefone da vítima.
Cobra uma taxa para reduzir a dívida e o dono do carro só percebe que caiu no “conto do vigário” quando o oficial de justiça bate à porta.
9. Carro de entrada fantasma
Algumas fábricas sequer enrubescem ao anunciar um modelo que jamais existirá: é o tal “básico dos básicos”, desprovido de qualquer equipamento ou acessório e oferecido por um valor bem atrativo.
Mas é uma versão que só existe na lista de preços, jamais será produzida, e apenas cumpre o papel de atrair o interessado à concessionária. Lá, só encontrará versões mais equipadas e caras.
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10. O método de medição do porta-malas
Volume de bagagem admitida no porta-malas é uma característica importante para o motorista que viaja com frequência e carrega uma razoável tralha. Mas há diversas formas de se medir (e anunciar) este volume.
A mais mentirosa é a que se utiliza de saquinhos de água para avaliar quantos litros ele comporta. Só que estes saquinhos se acomodam em qualquer espaço que, a rigor, jamais terá utilidade para coisa alguma. Existe uma norma (VDA) para aferir este volume mais precisamente, preenchendo o porta-malas com blocos de um litro (1 dm³).
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Imagens: Divulgação e Murilo Góes/Mobiauto
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Jornalista Automotivo