Como a banda A-ha ajudou Noruega a ser líder na venda de carros elétricos
Você provavelmente leu este título duas ou três vezes para ter certeza de que entendeu certo. Mas é isso mesmo: a banda de rock norueguesa a-há, que marcou a geração new wave dos anos 1980, foi uma das grandes responsáveis por tornar a Noruega o país que mais vende carros elétricos no mundo.
Se você é um pouco mais novo, ou não é tão conectado com o universo da música, te garanto que, apesar de talvez não se recordar do nome A-ha, provavelmente você já balançou a cabeça ouvindo Take On Me, uma das canções mais conhecidas da banda e um sucesso mundial.
Magne Furuholmen (tecladista), Morten Harket (vocalista) e Paul Waaktaar (guitarrista): o trio do A-ha
Pois é, o A-ha não deixou sua contribuição para a sociedade apenas no âmbito musical, mas lá, por volta dos anos 1980, eles começaram uma revolução no mundo automotivo no mercado norueguês, defendendo a eletrificação quando a palavra sustentabilidade nem sequer era muito difundida.
Parece exagero, mas o conceito de sustentabilidade começou a ganhar forma na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em 1972, e foi cunhada justamente pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Brundtland, no Relatório “Nosso Futuro Comum”, em 1987.
Alguns anos antes, no início da década de 80, dois ativistas noruegueses, Frederic Hauge e Harald Rostvik, tentavam atrair atenção para a necessidade da eletrificação, mas não conseguiram atrair os holofotes da mídia ou o interesse do público.
Na época, o A-ha já era a maior banda de pop rock do país, e então eles tiveram a brilhante ideia de convidá-los para fazer parte do movimento e, assim, dar mais visibilidade à causa.
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Podia não parecer a melhor das estratégias, mas a banda fez tanto barulho que o carro elétrico explodiu no país. Para se ter ideia, hoje a Noruega tem uma população de um pouco mais 5,4 milhões de habitantes, e mais de 500 mil carros elétricos nas ruas! Isso equivale a quase um carro elétrico para cada dez pessoas.
Em 2021, 72% dos veículos novos vendidos no país nórdico eram elétricos, conforme dados divulgados pela consultoria S&P Global Platts Analytics. Enquanto isso, no Brasil os veículos elétricos tentam alcançar 1% das vendas...
Voltando para a Noruega, a primeira iniciativa da banda foi acompanhar os ativistas em um rali de carros movidos a energia solar que aconteceria em Berna, na Suíça, em 1989. Lá, eles encontraram um incrível Fiat Panda convertido para elétrico.
Daí veio a ideia de importar um carro similar para começar as reivindicações na Noruega, para que o governo promovesse uma alternativa aos carros movidos a combustíveis fósseis, além de oferecer incentivos para quem aderisse aos carros eletrificados. Afinal, de nada adiantaria ter veículos elétricos se não houvesse incentivos para os consumidores.
O pequeno Panda movido a baterias tinha 45 km de autonomia e demorava 48 horas para recarregar. O grupo acumulou dezenas de multas por ultrapassar pedágios sem pagar, estacionar em locais proibidos ou não pagar os impostos do automóvel. Tudo propositalmente, a fim de chamar a atenção da mídia e do público.
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Frederic Hauge e Harald Rostvik dirigem um Panda elétrico na Noruega
Os membros da banda contam que o carro foi apreendido mais de dez vezes e recuperado por apoiadores do movimento.
Cerca de um ano depois, o governo começou a ceder e a realmente criar incentivos. Veículos elétricos passaram a ter isenção de impostos, permissão para trafegar em faixa de ônibus, gratuidade no transporte de balsas e até estacionamento grátis.
Foram cerca de sete anos até que todos os incentivos fossem adotados no país. Magne Furuholmen, tecladista da banda, conta que a Noruega, como um dos maiores produtores de petróleo do mundo, fez com que eles sentissem a necessidade de serem os precursores da eletrificação:
"Aquele carrinho abriu o caminho para o estacionamento grátis para os carros elétricos na cidade, com estações de carregamento, e para o não pagamento de pedágio”, afirma Furuholmen.
E não para por aí: a Noruega tem a ambiciosa meta de proibir a venda de carros novos movidos a gasolina e a diesel até 2025. Ou seja, em menos de três anos, o país deixará os combustíveis fósseis poluentes no passado e irá começar uma nova era. E tudo isso começou com uma banda de rock.
Imagens: Arquivo pessoal/Harald Rostvik e Divulgação
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A faculdade me fez jornalista, a vida me fez aficionada por carros esportivos e adrenalina. Unindo paixão e profissão, realizo a missão de conectar pessoas com o universo automotivo, mas confesso que já tentei pilotar um kart e não deu muito certo.