Este é o último Troller T4 da História e ele é vendido a R$ 300.000
O dia que muitos fãs de jipes 4x4 temiam chegou: não há mais Troller T4 ou TX4 em produção no Brasil. A fábrica antes administrada pela Ford em Horizonte (CE) deixou de produzir o modelo no fim de setembro.
O complexo seguirá operante por apenas mais dois meses, até o final de novembro, com o intuito de fabricar peças repositórias. Depois disso, fim de linha, sem venda da marca ou sucessão, conforme a Mobiauto já havia antecipado em agosto.
O último Troller T4 exibido em concessionária de Natal (RN) (Andre Marinho/@andremarinho72)
O colega André Marinho, em seu perfil no Instagram, publicou recentemente um vídeo do que seria o último Troller T4 produzidos no Brasil (e provavelmente no mundo) em uma concessionária de Fortaleza, a capital cearense.
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O exemplar era exibido em uma concessionária de Natal (RN) por R$ 299.900. No site oficial da Troller, o T4 3.2 4x4 diesel manual sai por R$ 198.400. Na vitrine da revenda, porém, o preço cobrado pela unidade, com câmbio automático, é R$ 299.900.
Catálogo do último TX4 produzido exibe o preço de R$ 300.000 (Andre Marinho/@andremarinho72)
É mais do que outras lojas do Nordeste vêm cobrando pelo T4 e sua variante TX4. Segundo os colegas da Quatro Rodas, concessionárias de outras capitais de Estados da região vêm oferecendo o jipe a preços entre R$ 240.000 e R$ 280.000.
A revenda natalense sobra mais caro pois jura que aquele é, de fato, o último TX4 saído da linha. A julgar por imagens que vêm viralizando nas redes sociais nos últimos dias, de funcionários da fábrica posando ao lado de um TX4 de mesma pintura azul e branca e com snorkel, anunciando-o como o último Troller da história, pode mesmo ser verdade.
O Troller T4 (manual) e o TX4 (automático) são equipados com um motor 3.2 cinco-cilindros turbodiesel Duratorq herdado da picape Ford Ranger, com turbocompressor de geometria variável, que rende 200 cv de potência e 47,9 kgfm de torque. O câmbio é automático de seis marchas.
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O último T4 recém-saído da linha de produção em Horizonte (CE) (Reprodução/Facebook)
A história da Troller e do T4
Fundada em 1995 pelo empresário Rogério Farias, a Troller nasceu como Troler, com apenas um L, e tinha o objetivo de ser uma marca nacional de relevância no mercado de jipes 4x4, com especial foco em produzir veículos para expedições e competições de rali.
O nome vem do inglês “troll”, que pode receber traduções como provocador, duende ou ser sobrenatural. A ideia era denominar um veículo destemido, desbravador e capaz de fazer mágicas nas trilhas pelos rincões do Brasil.
A fábrica da companhia sempre ficou em Horizonte (CE), mas a operação foi logo vendida, em 1997, para Mário Araripe, investidor local dos ramos têxtil e de construção civil. À época, o jipinho ainda estava em desenvolvimento e tivera 44 protótipos pré-série produzidos, todos destinados ao uso experimental em provas de rali.
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Fachada da fábrica da Troller em Horizonte (CE). Complexo terá atividades definitivamente encerradas em novembro (Divulgação)
Foi sob o comando de Araripe, porém, que a empresa virou Troller e lançou, em 97, o seu primeiro produto para pessoas físicas, chamado RF Sport, com motores 1.8 e 2.0 (lançado no ano seguinte) a gasolina da família VW AP.
O jipe contava com chassi de longarinas de aço, estrutura tubular para a cabine, carroceria em fibra de vidro e vários componentes vindos do Jeep Cherokee, especialmente nas suspensões. Em 99, o nome RF Sport deu lugar ao T4, que seria usado pelo jipinho até os últimos dias de existência do modelo e da marca.
O Troller RF Sport original dos anos 90 (Divulgação)
A partir de 2001, o T4 passaria por mudanças substanciais de projeto, a começar pela troca do propulsor AP 2-litros de 114 cv pelo 2.8 a diesel de 115 cv fornecido pela MWM. O sistema de transmissão era formado por câmbio manual, tração nas quatro rodas e caixa de redução.
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Modelo já com atualizações mecânicas e tendo passado a se chamar T4, no começo dos anos 2000 (Divulgação)
Quatro anos mais tarde, o 2.8 foi substituído pelo propulsor 3.0 NGD turbodiesel da mesma fornecedora, dotado de injeção tipo Common Rail. A atualização elevou a potência para 163 cv. Posteriormente, vieram aperfeiçoamentos em itens como posicionamento das mangueiras e encurtamento nas relações das duas primeiras marchas.
Quando a Ford adquiriu a Troller, em 2007, promoveu profundas modificações na empresa e nos produtos. Primeiro, tirou de linha a picape Pantanal, sob a alegação de que possuía falhas estruturais graves que culminavam em trincas no chassi.
Picape Troller Pantanal foi tirada de linha pela Ford (Divulgação)
Ao mesmo tempo, aperfeiçoou a mecânica do T4 através de atualizações nas mangueiras da direção hidráulica e do radiador, do redimensionamento dos freios traseiros e um reordenamento dos itens mecânicos no cofre, a fim de facilitar a manutenção do jipe.
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Novo Troller T4 com modificações já lideradas pela Ford (Divulgação)
Em 2009, veio à tona uma reestilização que incluiu modificações em mais de 500 componentes, dando ao Troller T4 o aspecto que ele conservou até o fim de seus dias. Muitas peças de carros de passeio da marca, como Fiesta e EcoSport, vieram a tiracolo, assim como um novo painel frontal e melhorias de ergonomia, dirigibilidade, conforto e visibilidade.
Em 2012, o motor 3.0 foi substituído pelo 3.2 TGV (turbo com geometria variável) de quatro cilindros, também fabricado pela MWM. Entretanto, diversos problemas ligados a elementos como turbina, módulo e bicos injetores levaram a marca americana a abandoná-lo depois de apenas dois anos de serviços prestados.
Novo motor estreado em 2012 foi um fracasso e teve vida útil de apenas dois anos na gama (Divulgação)
Para seu lugar, em 2014, veio uma chamada nova geração do T4, dotada de visual mais robusto (mais Hummer, menos Jeep Willys), dimensões incrementadas e uma solução que parecia lógica e frugal desde o princípio: a aplicação do propulsor 3.2 turbodiesel Duratorq, de cinco cilindros e 20 válvulas, usado pela Ranger.
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Segunda geração chegou em 2014 maior, mais robusta e com vários elementos da Ranger (Divulgação)
O jipe também pegou emprestados da picape alguns itens de acabamento interno, mas manteve a plataforma com carroceria de aço e fibra de vidro montada sobre chassi de longarina, com suspensões por eixo rígido e molas helicoidais nas duas pontas, além de direção por esferas recirculantes com assistência hidráulica. Mais raiz que isso, impossível.
Funcionários da Troller posam ao lado do último T4 produzido no final de setembro (Reprodução/Facebook)
A contrapartida é que a Ford usava um subterfúgio legal para não precisar instalar airbags dianteiros no T4, então obrigatórios em veículos de passeio. De qualquer forma, a última grande novidade do jipe chegou no ano passado, com a estreia do TX4, uma variante dotada de caixa automática de seis marchas, a mesma usada, novamente, pela Ranger.
Foi com esse pacote que o T4 se despediu do mercado junto da própria Troller, uma das últimas marcas automotivas de origem brasileira com alguma relevância no mercado, junto da Agrale. Que descanse em paz!
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Jornalista Automotivo