Jeep Compass 4xe: o que a Stellantis aprendeu com fracasso de seu 1º híbrido

SUV chegou antes do “time” e com preço nada competitivo, mas nem tudo está perdido
Diego Dias
Por
12.07.2024 às 15:03 • Atualizado em 17.07.2024
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SUV chegou antes do “time” e com preço nada competitivo, mas nem tudo está perdido

Presente no mercado brasileiro há pouco mais de dois anos, o Jeep Compass 4Xe foi o primeiro carro híbrido comercializado pela Stellantis no país. Vale lembrar também que o modelo chegou para compor a gama do SUV médio mais vendido do Brasil, o que em tese se traduziria em boas vendas, mesmo vindo importado.

A questão é que a estratégia de trazer o Jeep Compass 4Xe importado da Itália não parece ter dado certo, já que desde o início o SUV híbirdo plug-in foi criticado por seu preço mais elevado perante as demais versões. Na época de lançamento, em março de 2022, o Compass híbrido estreou por R$ 349.990. Hoje o SUV é vendido por R$ 347.300 e chegou a ter promoções que davam desconto de quase R$ 70.000, com seu preço caindo para R$ 279.546.

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Quando pegamos o ano de 2024, até o momento, o Compass ainda é um dos carros de maior volume de vendas da Jeep, sendo o segundo modelo mais emplacado com 22.791 unidades até junho de 2024, dados estes indicados pela Fenabrave. Esse montante é considerável e faz o Compass ficar atrás somente do Renegade em vendas (23.492). Mas quando pegamos a versão híbrida, o desempenho é pífio.

Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Compass 4xe teve apenas 70 unidades vendidas entre janeiro e junho deste ano, volume que representa apenas 0,3% do total de emplacamentos do SUV médio da Jeep. É um desempenho que mostra que a variante híbrida plug-in do utilitário não caiu no gosto do consumidor.

Atualmente o Compass 4xe é a versão mais cara do SUV, ficando posicionado acima até das versões Overland e Blackhawk com motor turbo 2.0 Hurricane de 272 cv de potência. Para efeito de comparação, o Compass 4xe vem equipado com propulsor turbo 1.3 GSE a gasolina de 180 cv e 27,5 kgfm de torque associado a um motor elétrico traseiro, que rende 60 cv e 25,5 kgfm. A potência combinada fica em 240 cv, enquanto o câmbio é automático de seis marchas. Confira a avaliação completa dele aqui.

Embora o desempenho fique abaixo das recém-lançadas versões com motor 2.0 Hurricane, o foco do Compass 4xe é consumo. As médias atuais do Inmetro apontam consumo de 26,1 km/l na cidade e 24,7 km/l na estrada, mas que podem cair para algo na casa dos 11 km/l quando a bateria de 11,4 kWh acaba.

A questão de mercado é que o Compass 4xe talvez tenha feito sua estreia um pouco antes do chamado “bonde dos SUVs híbridos plug-in”, que foi puxado com sucesso pelo GWM Haval H6 e o BYD Song Plus a partir de 2023, e que “popularizam” a tecnologia e fizeram o brasileiro perder o receio de ter um veículo do tipo. O preço de tabela de R$ 349.990 do Jeep lá atrás também corroborou para o SUV não ter emplacado, já que os rivais chineses desembarcaram no Brasil tudo com valor abaixo da faixa dos R$ 280.000.

Atualmente, a briga ainda está mais acirrada, tanto que a GWM lançou recentemente o novo Haval H6 PHEV19, que hoje está à venda por R$ 239.000. Nesta semana a BYD já lançou outro SUV híbrido plug-in, o Song Pro, que chegou com preços ainda mais competitivos, que vão de R$ 189.800 a R$ 199.800. O Toyota Corolla Cross também é um concorrente de peso, apesar de se tratar de um SUV com motor híbrido pleno, mas ainda assim é o único nacional até o momento – e único flex também.

Todo esse cenário serviu de aprendizado para a Stellantis, que já está se mexendo para preparar carros híbridos com produção brasileira. Em fevereiro deste ano o grupo anunciou um investimento de nada menos do que R$ 30 bilhões, que serão distribuídos entre as marcas Citroën, Fiat, Jeep e Peugeot no Brasil.

De acordo com Carlos Tavares, CEO mundial da Stellantis, o principal foco será a implantação do projeto Bio Hybrid no mercado nacional. Tal nome se refere aos sistemas híbridos da empresa, que vai incluir os sistemas híbrido leve de 48V, híbrido pleno e híbrido plug-in. Vale dizer que elétricos também estão no radar.

Ou seja, tornar o Compass híbrido um produto local, com tecnologia híbrida flex e com as armas necessárias para ter preço competitivo, é a lição que fica. Não só para o SUV compacto-médio, mas para todos os outros lançamentos híbridos e elétricos do conglomerado nos próximos anos por aqui.

Ainda não há confirmação de qual será o primeiro carro híbrido produzido no Brasil, mas podemos arriscar que o Jeep Compass está entre os primeiros produtos a ganhar tal tecnologia. Isso pode ocorrer ainda com esta geração, cuja plataforma Small Wide ainda é compatível com sistemas híbridos, vide as versões 4xe e híbrida-leve (chamadas de e-hybrid) disponíveis para o Compass e Renegade na Europa.

Vale lembrar que o Compass recebeu a motorização 2.0 turbo Hurricane que veio da Ram Rampage, mas seu estilo é o mesmo desde 2021, e o modelo se agarrará no híbrido como principal atualização até a chegada de sua nova geração.

Vale lembrar que a próxima geração do Compass será feita com base na plataforma SLTA Medium – a mesma do novo Peugeot 3008 europeu, e está prevista para estrear globalmente em 2027. O novo SUV também será produzido em Goiana (PE), já que a Stellantis começou a cotar as peças com seus fornecedores locais, o que reafirma a continuação da sua produção local. Com esse cenário, tudo indica que o Compass híbrido aprenderá com os erros do passado para brigar com os chineses, esses mais fortes do que nunca entre os SUVs PHEV.

Projeções: Kleber Silva/KDesignAG

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