Nissan tem queda de lucro líquido e pode falir por não acompanhar BYD
Há exatos cinco anos, a Nissan tinha uma capitalização de mercado de US$ 24,8 bilhões (o equivalente a R$ 142,7 bilhões). Hoje, seu valor de US$ 9,2 bilhões (o equivalente a R$ 53 bilhões) é apenas uma fração dos mais de R$ 54 bilhões (mais de R$ 311 bilhões) que chegou a “beliscar”, no primeiro semestre de 2007.
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“A Nissan é uma marca fraca e a única maneira de incrementar suas vendas é baixando os preços de seus produtos”, avalia o analista James Hond, da Macquarie Securities Korea, comentando a situação calamitosa daquela que, há bem pouco tempo, era uma companhia que rivalizava em alguns segmentos com a giganteToyota.
A montadora vai enxugar 10% do seu quadro, dispensando 9.000 colaboradores, e reduzir 20% de sua capacidade de produção - obviamente, fechando fábricas. A má notícia foi dada pelo próprio presidente-executivo (CEO) da fabricante, Makoto Uchida, depois de o lucro líquido de suas operações cair 94% só nos primeiros seis meses deste ano.
O consumidor brasileiro pode não saber, mas a Nissan pode decretar falência. “As perdas financeiras não foram surpresa para ninguém e, para dizer a verdade, os números de janeiro a junho foram até melhores do que o esperado”, disse o analista Tatsuo Yoshida, da Bloomberg Intelligence.
“O problema é o verdadeiro abismo que, hoje, existe
entre o que a marca precisa alcançar e aquilo que ela, efetiva, consegue
tocar”, complementa Yoshida, destacando que a própria companhia reviu sua
previsão de receitas para baixo, em 9%, o que significa que, na melhor das
hipóteses, ela fechará 2024 estagnada.
Pior ainda, a montadora teve sua classificação de crédito da S&P Global Ratings rebaixada a um status BB+. “Para a agência, uma recuperação nas vendas é ‘improvável’ e praticamente sem lucratividade, a previsão é de que o fabricante sofrerá com aumento nas taxas de juros e interrupções na cadeia de suprimentos”, pontua o jornalista Nicholas Takahashi, setorista automotivo da Bloomberg, na Ásia. “Há uma expectativa de estabilidade para o negócio, mas nada aponta para uma recuperação em curto prazo”, acrescenta Takahashi.
A situação da Nissan é tão complexa que seu CEO, Makoto Uchida, anunciou que cortará 50% do próprio salário. “Não podemos negar que nosso plano estratégico foi esticado, dadas as rápidas mudanças no mercado, e que não demonstramos agilidade para atender às necessidades dos consumidores em tempo hábil”, reconheceu Uchida. “Já que está grande responsabilidade recai sobre nossos ombros, eu e outros executivos da empresa estamos aceitando cortes salariais voluntários a partir de novembro”, disse o chefão.
L’Óreal, hoje, vale 20 vezes mais
A verdade é que, para os investidores, nem a dispensa de 9.000 colaboradores e nem o corte salarial anunciado fazem a menor diferença, porque a eles só importa sua própria remuneração e a valorização das ações que adquiriram e que caíram 40% só neste ano, quando confiaram na gestão de Uchida.
Apenas para o leitor ter uma ideia, a indústria de cosméticos L’Óreal vale, hoje, 20 vezes mais do que a Nissan e se, em 2023, os acionistas tivessem comprado papéis da Droga Raia, teriam ganho 39% – e não perdido 40%. Hoje, a rede de fast food Domino’s Pizza vale 60% mais do que a marca japonesa.
“As medidas de recuperação que vamos adotar não significam que a empresa está encolhendo, mas que seremos mais enxutos e resilientes”, garante Uchida. Só na última sexta-feira, as ações da montadora caíram 6%.
“A Nissan, assim como outras empresas tradicionais do setor automotivo, é muito lenta na eletrificação de sua gama, ao passo que novas marcas chinesas se adiantaram na virada energética e adquiriram um potencial quase ilimitado. Seus resultados – da Nissan – são ruins porque ela, simplesmente, não consegue sequer acompanhar fabricantes como aBYD. Nos Estados Unidos, então, onde a inflação está em alta e as taxas de juros também vêm crescendo, afetando as vendas de modelos zero-quilômetro, as dificuldades são cada vez maiores”, analisa Mark Rainford, criador do guia Inside China Auto.
Na semana passada, a Nissan rifou 10% de sua participação na Mitsubishi, como forma de ganhar fôlego financeiro e se livrou de alguns custos, colocando a bomba no colo de Guillaume Cartier, que agora passa a atender como diretor global de performance (CPO), que pode ser traduzido como diretor comercial para Américas (onde se inclui o Brasil), África, Oriente Médio, Índia, Japão, Europa e Oceania.
Mas como fica o Brasil, nesta ciranda?
A verdade é que se a Nissan repetisse, no além-mar, o mesmo desempenho comercial que vem tendo no Brasil, a falência não seria sequer cogitada. No seu melhor ano por aqui, que foi em 2018, a marca vendeu 97,5 mil unidades (entre carros de passeio e comerciais leves), número que não está longe de repetir em 2024, já que pode fechar o mês de dezembro com um volume anual de 70 mil unidades. O problema é que, mesmo com a tolerância tupiniquim, a desatualização de seu portfólio também será sentida por aqui, mais cedo ou mais tarde. Hoje, sua participação de mercado de 3,4% não está muito longe da fatia de 3,9% que teve, há sete anos, o que pode ser considerado um grande êxito, diante das enormes perdas acumuladas nos principais países do mundo.
O encerramento de um ciclo de investimentos de modestíssimos R$ 2,8 bilhões, em 2025, também dá conta de que seu carro-chefe de vendas, oKicks, manterá sua competitividade com a renovação. Portanto e para quem não faz questão da quintessência tecnológica, aceitando de bom grado pagar oito vezes mais por um Sentra do que um norte-americano só nos resta desejar boa sorte!
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Jornalista Automotivo