Por que há tantos cemitérios de carros elétricos abandonados na China
Nas últimas semanas, alegações e vídeos de um cemitério de carros elétricos tomou conta das redes sociais. Entre as acusações, há quem diga que montadoras chinesas estavam produzindo carros elétricos em excesso para obter subsídios. Só que essa história não é bem verdade e, ao que tudo indica, está relacionada ao fim do serviço de compartilhamento de carros e fracas vendas de marcas tradicionais.
Em um dos principais materiais veiculados nos últimos dias, Mark Rinford, especialista em automóveis residente de Xangai, visitou um “cemitério de veículos elétricos”. Sua ideia era saber se as reportagens baseadas em um vídeo de Winston Sterzel, no canal Spertanza, que afirmavam que havia 10.000 modelos Neta V no local, era verdade.
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Rinford constatou que há apenas 146 unidades do Neta V por lá. Porém, na parte mais distante do campo, há vários modelos da Volkswagen, Audi, Toyota, Hyundai e Peugeot parados. Neste caso, são veículos novos que estão aguardando a venda, que é uma primeira explicação para o volume do tal cemitério de carros.
Segundo o vídeo, as vendas dessas marcas em termos de elétricos não empolgam e o estoque fica desregulado, precisando de local para aguardar o emplacamento. No campo ainda é possível ver carros que sofreram acidentes e outros usados com até lixo dentro, o que derruba a teoria de Sterzel sobre as montadoras produzirem carros adicionais para ganhar subsídios do governo.
Para enterrar de vez esssa narrativa, além dos carros usados, boa parte dos veículos são da marca BAIC, mais precisamente um BJEV EC3, que é um pequeno hatchback usado como carros compartilhados, como as bicicletas da Yellow que fizeram relativo sucesso no Brasil. E aqui está a segunda e principal explicação para os carros estocados.
Cemitérios gigantes e carros compartilhados
Em julho de 2021, a Mobiauto já havia contado sobre umcemitério gigante de carros elétricos. O problema começou com o fim trágico da Lifan, marca que esteve no Brasil e foi marcada por um hatch bem parecido com os Mini. A empresa chinesa saiu de nosso mercado pela porta dos fundos e logo abriu recuperação judicial na China.
Como consequência, aconteceu também a queda da Pand-Auto, parceira da montadora no sistema de compartilhamento de carros elétricos. A frota contava com cerca de 20 mil veículos, nem todos eram Lifan, embora a maioria seja 330 EV. Havia 820 EV também, entre outros modelos.
A falência fez a empresa tentar vender as unidades de carros elétricos que tinha domínio, mas não teve sucesso. Tanto que foi “obrigada” a abandonar um bom número de exemplares em um pátio gigantesco de Chongqing, na China, metrópole em que ficavam as sedes de Lifan e Pand-Auto.
E não só essa empresa sofreu nos últimos anos, a verdade é que o mercado todo de compartilhamento foi afetado. Na última década, uma série de empresas com esse tipo de serviço surgiu na China. No entanto, com o corte dos incentivos para a modalidade, o negócio ficou mais complicado.
Unindo isso à nova leva de carros elétricos tecnológicos, que tornou os mais antigos ainda mais obsoletos, várias startups faliram e os carros foram parar em espaços como esses das fotos, e é por isso que temos esse crescimento de cemitérios de carros elétricos no país.
Imagem abertura: Reprodução/Carscoops
Editor de conteúdo
Prefere os hatches com vocação esportiva, ainda que com um Renegade na garagem. Formado em jornalismo na Fiam-Faam, há 10 anos trabalha no setor automotivo com passagens pelo pioneiro Carsale, além de Webmotors e KBB.