Por que carros elétricos e híbridos têm rivalidade de futebol no Brasil
Tudo no Brasil termina em Fla-Flu. Não apenas no futebol, mas também na política e até nos carros. Ou você ama o Flamengo e odeia o Fluminense, ou você ama o Fluminense e odeia o Flamengo. Não há muito espaço para conciliações. O último Fla-Flu envolve o futuro dos carros fabricados no Brasil.
Para entender o que se passa atualmente na indústria automobilística, vamos dizer que o Flamengo representa o povão, o consumidor que faz contas para abastecer seu carro com gasolina ou etanol.
E o Fluminense representa os adeptos das novas tecnologias, o consumidor que já não se satisfaz com o carro híbrido e quer um carro elétrico.
Bem, nesse caso, podemos dizer que a Fiat é o Flamengo, a Chevrolet é o Fluminense e a Renault é dúbia, para começarmos com três exemplos.
Você pode se interessar por:
- VW Saveiro e Fiat Strada: por que as rivais têm estratégias tão diferentes
- Fiat Titano é tacada de mestre da Stellantis contra Toyota Hilux
- Vai mudar? Velha VW Saveiro vende quase o mesmo que Chevrolet Montana
- Como será o carro popular nacional do século 21?
Marcas de volume europeias e japonesas, como Fiat, Volkswagen, Peugeot, Citroën, Renault, Toyota, Nissan, Honda e Mitsubishi, preferem fazer uma longa transição entre os carros com motor a combustão e os elétricos. Por isso, vão investir em modelos híbridos flex e torcer para que os consumidores abasteçam com etanol.
Essas são as montadoras "Flamengo". Podemos acrescentar aí a coreana Hyundai. Elas são rubro-negras no Brasil porque em seus mercados de origem foram obrigadas a serem Fluminense. Ou seja: investiram tanto dinheiro em carros elétricos que agora precisam que países eternamente emergentes, como o Brasil, convivam mais um tempo com as velhas tecnologias e financiem os gastos com os carros de alto padrão que produzem na Europa, no Japão e na Coreia.
Por outro lado, marcas de volume americanas e chinesas, como Chevrolet, Ford e BYD, querem que o Brasil crie rapidamente um mercado de carros elétricos porque simplesmente viraram a página do veículo a combustão interna.
Essas são as montadoras "Fluminense". Podemos acrescentar as montadoras de carro premium da Europa e dos Estados Unidos, como Audi, BMW, Land Rover e Mercedes-Benz. Isso sem contar as que não têm nenhuma intenção de produzir carros no país, como Volvo, Jaguar, Porsche, Kia e JAC.
Por diferentes razões, Jeep, Ram, Caoa Chery e GWM estão do lado do Flamengo, ou seja, preferem que a transição para os carros puramente elétricos seja bem lenta.
Curiosa é a posição da Renault. Foi a marca que liderou a opção pelo carro elétrico na Europa, mas não tem volume de vendas que justifique ser Fluminense também no Brasil. Por isso, é dúbia: Flamengo no Brasil e Fluminense na Europa. Quase um vira-casaca, se considerarmos o linguajar da cultura do futebol.
Leia também: Como as marcas chinesas vão tirar Fiat e Volkswagen da zona de conforto
No fundo, todas essas empresas defendem os seus negócios. Por sorte, o Brasil tem etanol e as montadoras "Flamengo" podem usar esse argumento para retardar a transição. As montadoras "Fluminense" não têm essa opção e argumentam com as grandes reservas de lítio existentes no Brasil e na América do Sul.
Não é difícil saber como terminará este jogo. O primeiro tempo está acabando e o Flamengo está dando uma goleada. O jogo vai para o intervalo em 2026 e o Flamengo quer retardar ao máximo o segundo tempo, que começa em 2035, pois se voltar a campo nesse prazo a goleada vai ser do Fluminense.
E você, neste Fla-Flu dos carros, por qual time torce: pelo Flamengo (carros híbridos até 2050) ou pelo Fluminense (carros elétricos a partir de 2035)?
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Jornalista Automotivo