Por que chefe da Stellantis no Brasil virou CEO global da Jeep
Antonio Filosa não é brasileiro, é italiano. Mas daqueles que fizeram a vida no Brasil. Fez tanto sucesso, comandando inicialmente a FCA (Fiat Chrysler) e depois a Stellantis América do Sul (Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën, Ram e Abarth), que acabou sendo chamado para ser o CEO global da Jeep.
Curiosamente, Filosa vai para os Estados Unidos na sequência de seu colega Pablo Di Si, que também brilhou na Volkswagen América do Sul e agora cuida da Volkswagen America. Di Si foi com a missão de transformar a Volks numa marca elétrica nos EUA. A missão de Filosa com a Jeep não será menos espinhosa, porém mais focada.
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Ao contrário da Volkswagen, a Jeep não é uma marca generalista. Ela atua apenas no segmento de SUVs. Não tem picapes (com exceção à Gladiator, picape do Wrangler, não tem sedans, não tem veículos comerciais. A Jeep é 100% SUV e logo será também 100% elétrica.
Eis o que se coloca diante de Antonio Filosa, que mostrou seu valor para Carlos Tavares, CEO global da Stellantis. Mas por que Filosa sai de seu posto à frente da Stellantis no Brasil para ser o CEO global da Jeep? A resposta mais direta é: por que Tavares gosta de lucros; e Filosa entrega lucros como ninguém. Porém há mais, como veremos mais abaixo.
Na dança das cadeiras da Stellantis, Filosa ocupa o lugar de Christian Meunier. No Brasil, o comando da montadora passará a ser de Emanuele Cappellano, que foi designado como Chief Operating Officer (COO) da Stellantis na América do Sul.
Foi exatamente como COO que Antonio Filosa entrou na FCA, em março de 2018, substituindo Stefan Ketter, que comandou a fusão da Fiat e da Chrysler na América do Sul, em 2014. Quando Filosa chegou, a FCA já produzia o Jeep Renegade, o Jeep Compass e a Fiat Toro na fábrica de Goiana (PE).
Fiat e Jeep antes de Filosa
Quando Filosa assumiu, a FCA tinha três carros entre os 11 mais vendidos no Brasil: Fiat Strada em sétimo lugar, Jeep Compass em décimo e Fiat Argo em 11º. A picape Strada vendia apenas 36% do carro mais vendido da época, o Chevrolet Onix.
A Fiat ocupava o terceiro lugar no mercado, com 12,1% de participação, e tinha a Ford em seu calcanhar, com 9,4%. A Jeep era apenas a décima colocada, com 4,2% de participação. O mercado era comandado pela Chevrolet, com 17,4%, e pela Volkswagen, com 12,1%. Na soma da Fiat e da Jeep, a FCA tinha 16,3% e ainda perdia para a GM.
No segmento SUV, o Jeep Compass era líder, com 11,8%, e o Jeep Renegade estava em quinto lugar, com 8,2%. A base do sucesso já estava formada, porém muito mais viria depois disso.
Filosa fez as marcas subirem como foguetes
Em agosto de 2023, último mês com dados completos sob Antonio Filosa, a situação já era totalmente diferente. Com uma equipe eficiente, lançamentos ousados e produtos bem posicionados, Filosa fez as marcas subirem como foguetes.
Agora com a união das antigas FCA e PSA, a Stellantis tem cinco carros entre os 11 mais vendidos no mercado brasileiro: Fiat Strada (primeira), Fiat Mobi (sétimo), Fiat Argo (oitavo) e Jeep Compass (11º). A situação em relação ao Chevrolet Onix (vice-líder) se inverteu.
A Fiat reformulou totalmente a picape Strada, que ganhou cabine dupla de quatro portas, câmbio automático e motor turbo. A nova Strada se tornou bicampeã nacional de vendas e ruma firme para o tricampeonato. Tornou-se um carro multiuso e aspiracional. Ex-hexacampeão, o Onix consegue vender apenas 85% do volume da nova Strada.
A Fiat se tornou uma marca mais italiana, mais desejada e quase imbatível no país. Ocupa a liderança entre as marcas, com 22% das vendas internas. A Volkswagen e a Chevrolet disputam o segundo lugar, ambas na casa de 15%. A Jeep se tornou a sexta marca mais vendida, com 6,5%, e por algum tempo ficou no top-5, um feito inédito para a marca americana.
Além disso, a Peugeot se recuperou e entrou no top-10, com 1,6%. Tem dois carros elétricos e passou a usar motores da Fiat, tornando-se muito mais competitiva. A Ford, que estava no calcanhar da Fiat, agora é apenas a 12ª colocada, não produz mais no Brasil e está mais próxima de uma marca de picapes de luxo, a Ram, que ocupa o 16º lugar, com 0,5% de participação.
A Jeep teve um novo lançamento, o Commander, que lidera a categoria de SUVs de 7 lugares. Juntos, Compass, Renegade e Commander somam 17,9% do segmento (menos do que os 20% de 2014, porém num mercado muito mais competitivo).
Para além disso, o Jeep Renegade foi reposicionado (perdeu vendas por isso, mas foi um movimento calculado) para abrir espaço a dois novos SUVs da Fiat, o Pulse e o Fastback, e para permitir a sobrevivência de dois modelos que estavam em baixa, o Peugeot 2008 e o Citroën C4 Cactus.
Filosa deixa a Stellantis com as marcas muito bem posicionadas no Brasil. Pela primeira vez na história, a Fiat não tem sua imagem ligada apenas a carros baratos. Pela primeira vez na história, Peugeot e Citroën têm posicionamentos distintos e muito claros no mercado brasileiro. Pela primeira vez na história, a marca esportiva Abarth produz carros fora da Itália, o Pulse Abarth.
Pela primeira vez na história, uma marca de picapes (Ram) é considerada tão ou mais aspiracional do que marcas premium como Mercedes, BMW, Audi, Volvo e Land Rover. Para além disso, a Ram passou a produzir picapes no Brasil, com a Rampage, que usa a mesma plataforma do Fiat Toro.
Por tudo isso, Antonio Filosa deixa o seu posto na Stellantis América do Sul e vai cuidar da transformação da Jeep como CEO global.
Jornalista Automotivo