EUA quase quadruplicam imposto de importação para carros elétricos
A virada da eletromobilidade vem tirando o sono do Tio Sam, que já não consegue esconder a hipocrisia do liberalismo econômico norte-americano. Com o eixo geoeconômico mundial deslocado para Ásia, onde já são ofertados veículos elétricos “made in China” pelo equivalente a R$ 20,6 mil (ou menos de US$ 5 mil) não lhe resta outra alternativa, a não ser a intervenção estatal – isso mesmo; o amigo não está lendo errado, não.
E foi exatamente isso que, movido pelo desespero, o
presidente Joe Biden fez, na última terça-feira, anunciando um pacote
tributário que, com a desculpa de estimular a indústria doméstica, tenta
reforçar sua posição na corrida pela reeleição de outubro, aumentando tarifas
sobre uma vasta gama de importações chinesas, incluindo semicondutores,
baterias automotivas, células fotovoltaicas e minerais críticos.
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A lista, obviamente, também amplia a taxação sobre carros elétricos, além do aço, alumínio, guindastes portuários e até produtos médicos, numa manobra da Casa Branca que promete aliviar a balança comercial em US$ 18 bilhões (o equivalente a R$ 92,4 bilhões).
As mudanças serão escalonadas a partir deste ano, até 2026, e têm alíquotas dedicadas para cada setor, sendo mais específicas do que a tarifa única de 60%, proposta por Donald Trump – concorrente de Biden na corrida presidencial. A maior carga será suportada pelos carros elétricos que verão sua alíquota atual de 27,5% quase ser quadruplicada até 102,5%, nos próximos quatro anos – seringas e agulhas, por exemplo, que não tinham sua importação tributada, pagarão 50% e luvas cirúrgicas, que hoje pagam 7,5%, terão tarifa de 25%.
No segmento automotivo, por exemplo, isso faria com que o novíssimo L6, da IM Motors, um sedã do mesmo porte do Tesla Model S, mas que roda até 850 km sem necessidade de recarga das baterias e custa 45% menos, desembarcasse por lá mais caro com o modelo “de casa”, digamos assim.
“A China está usando a mesma tática que usou, três décadas atrás, para impulsionar seu crescimento à custa de outros países, continuando a investir na sua capacidade industrial instalada e inundando os mercados globais com exportações que estão subvalorizadas, devido a práticas econômicas injustas”, acusa a diretora do Conselho Econômico Nacional (NEC) norte-americano, Lael Brainard. “A China é, simplesmente, grande demais”, acrescentou Lael, como que reconhecendo a perda da hegemonia para um gigante que, hoje, acumula 10% dos títulos do Tesouro dos EUA, o equivalente a US$ 797,7 bilhões ou mais de R$ 4 trilhões!
Dilúvio de importações
A taxação sobre semicondutores duplicará até 2025, de 25% para 50%, mirando um setor industrial que Biden tornou numa peça central da sua agenda política. Minerais críticos, como o grafite natural, terão uma nova tarifa de 25%, já neste ano, enquanto os elétricos saltarão dos 27,5% atuais para nada menos que 102,5%, em quatro anos.
Elementarmente, são medidas que irão desencadear tarifas retaliatórias por parte da China, mas o regime tarifário atual já se aplica a cerca de US$ 226 bilhões (o equivalente a R$ 1,16 trilhão) em bens, de acordo com dados de 2023. “Esperamos que não ocorra uma resposta chinesa significativa, neste sentido, mas isso é sempre uma possibilidade”, disse a secretária do Tesouro, Janet Yellen, em entrevista à “Bloomberg Television”.
De acordo com ela, o presidente Biden notou certas importações chinesas, artificialmente baratas, inundando o mercado norte-americano. “Não toleraremos mais isso. Estes problemas vêm se acumulando, ao longo do tempo, não serão resolvidos num único dia”, acrescentou Janet.
A verdade é que, lá como cá, a revisão “obrigatória” de tarifas não passa de demagogia eleitoral contra Pequim, já que Trump promete enfrentar a China de igual para igual, se for eleito – o que qualquer estudante secundário europeu sabe que, diante do desmonte dos Estados Unidos, é impossível. O novo BYD Sea Lion 07, por exemplo, parte de US$ 26.250, contra US$ 44.650 do Modelo Y, da Tesla.
Biden, por sua vez, vem alardeando um ‘boom’ industrial doméstico que, na prática, não existe. O que existe de concreto é uma tentativa desesperada de, combinando os investimentos domésticos da Lei Bipartidária de Infraestrutura e da Lei de Chips e Ciência com as novas tarifas, nivelar o campo de jogo com a China. Mas foi-se o tempo e, após surfarem a onda do neoliberalismo, os norte-americanos não têm como evitar um dilúvio de importações chinesas, entre os carros elétricos.
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Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto
Jornalista Automotivo