Jeep Commander 4xe Bio-Hybrid: eis o primeiro híbrido flex da Stellantis?
Após um anúncio formal de que produzirá em Goiana (PE) os primeiros produtos híbridos flex da família Bio-Hybrid, já a partir de 2024, e que também fabricará lá seu primeiro elétrico nacional – que, segundo o Autos Segredos, será a picape Rampage BEV –, a Stellantis reafirmou no fórum Auto Data, nesta semana, que anunciará no ano que vem o “maior investimento” da história da indústria automobilística brasileira.
Durante o evento, Carlos Kitagawa, atual CFO (chefe financeiro) da Stellantis na América Latina, defendeu a renovação dos incentivos fiscais destinados pelo governo brasileiro a fábricas no Nordeste, que será estendido até 2032, incluindo carros flex – e não apenas eletrificados, como inicialmente previsto. A medida gerou uma carta pública de retaliação assinada em conjunto pelas rivais GM, Toyota e Volkswagen.
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É justamente em uma entrelinha desta movimentação que pode estar a resposta à grande pergunta: qual será o primeiro produto híbrido flex da maior fabricante de automóveis instalada no Brasil? É claro que, por ter sua produção confirmada em Goiana, o leque de opções por si se fecha. Mas há bons indícios para estreitar ainda mais a lista.
Isso porque a emenda aplicada ao projeto da Reforma Tributária no Senado Federal, que estende os incentivos a fábricas instaladas fora do eixo Sul-Sudeste por mais sete anos após 2025, amplia a concessão dos benefícios a veículos flex. Porém, não prevê a continuidade no caso de veículos a diesel. E é aí que o cenário começa a clarear.
As plataformas Bio-Hybrid têm três variantes: híbrida leve (MHEV), a ser usada por modelos compactos em conjunto com o motor 1.0 Turbo 200; híbrida plena (HEV), aplicável a produtos compactos e compactos-médios de tração dianteira que usam o propulsor 1.3 Turbo 270; híbrida plug-in (PHEV), basicamente o mesmo conjunto do atual Jeep Compass 4xe, com tração nas quatro rodas e desta vez preparado para beber também etanol.
Sem a continuidade dos benefícios fiscais para veículos a diesel, ficará praticamente inviável para a Stellantis seguir produzindo modelos como Jeep Compass e Commander com esse tipo de motorização. No caso das picapes Fiat Toro e Ram Rampage, a história é um pouco diferente, pois são comerciais leves e dispõem de uma legislação tributária e de emissões à parte. Além disso, o mercado de picapes é mais sensível ao tema diesel.
Já Compass e Commander não têm mais o que esperar. Além da provável mudança nas regras de incentivos tributários para a fábrica de Goiana, as configurações a diesel dos dois SUVs andam encalhadas tanto nas concessionárias quanto nas lojas de seminovos. A recente inversão de pesos entre os preços da gasolina e do diesel contribuíram sobremaneira para isso.
Para completar, GWM e BYD fizeram o “trabalho sujo” de disseminar a tecnologia dos híbridos plug-in (com recarga externa) entre os consumidores brasileiros. Os volumes de emplacamento de Haval H6 e Song Plus demonstram que o brasileiro não só perdeu o medo de comprar SUVs do tipo, como até já o preferem, pois valorizam a economia proporcionada em consumo.
Do ponto de vista produtivo, a adaptação para o sistema Bio-Hybrid PHEV não é tão mais complexa assim do que as demais tecnologias. O conjunto de baterias, que pode chegar a 12 kWh de capacidade - no Compass 4xe, são 11,4 kWh –, fica posicionado no túnel central, em substituição ao eixo cardan. Logo, a adaptação não demanda mudanças estruturais no underbody.
Assim, todo o conjunto do cardan dá lugar a cabos de alta tensão que ligam essas baterias ao trem de força dianteiro e a um motor elétrico traseiro de 60 cv e 27,5 kgfm, responsável único pela tração daquelas rodas. O motor Turbo 270 rende os mesmos 180 cv de potência com gasolina e 185 cv com etanol, sendo 27,5 kgfm de torque com qualquer combustível.
Temos, aí, uma potência combinada estimada em 245 cv e um torque combinado que pode superar os 50 kgfm. É a combinação perfeita para substituir o veterano motor 2.0 Multijet de 170 cv e 35,7 kgfm (no caso do Compass) ou 38,7 kgfm (caso do Commander).
Jornalista Automotivo