Peugeot 206 1.0 16v: como era o moderno hatch com mecânica Renault
Lançado em nosso mercado em março de 1999 nas versões Soleil, Passion e Rallye, o Peugeot 206 vinha importado da França e causou um rebuliço com seu design inovador e proposta marcante. Pudera, em um mundo de VW, Fiat, Ford e GM dominando o nosso mercado, e com uma competição tão acirrada àquele tempo, os modelos populares de outras marcas faziam muito sucesso, vide o também recém-lançado Renault Clio.
A marca francesa do leão sabia que nosso mercado era promissor, e investiu na ocasião 600 milhões de dólares em uma fábrica, situada em Porto Real (RJ). E enquanto a construção carioca seguia a todo vapor, o 206 veio importado apenas com motor 1.6 8v de 90 cv de potência a 5.500 rpm e 14,0 kgfm de torque a 3.000 rpm, permitindo que o belo hatch acelerasse de 0 a 100 km/h em 11,7s e atingisse os 185 km/h de velocidade máxima. Dados muito bons para aquela época, vale falar.
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Além de bonito e com bom desempenho, o hatch francês agradava por seus bons números de consumo, percorrendo em média 10,6 km/l de gasolina na cidade e 16,6 km/l na estrada. Estes números eram trunfo de seu projeto feito inteiramente por computadores, onde design e eficiência aerodinâmica foram muito levados em consideração. Seu Cx era baixo, de 0,32.
A posição de dirigir do 206 encantava seus proprietários, que podiam contar com alguns equipamentos só encontrados em carros de categorias superiores. Na versão Soleil, trazia vidros verdes, aquecimento, volante de três raios regulável em altura, imobilizador por chave codificada, conta-giros, ajuste elétrico da altura do facho dos faróis, luz de neblina traseira, brake light, direção hidráulica, ajuste de altura do banco do motorista, tampa do porta-luvas revestida em tecido e o acendedor de cigarros. Como opcionais, podia receber ar-condicionado, controle elétrico dos vidros e travas, além de airbag duplo, com possibilidade de desativar o do passageiro (!).
Na Passion, já eram padrão ar-condicionado, vidros elétricos, travas elétricas, alarme antifurto, encostos de cabeça traseiros, banco traseiro bipartido, brake-light, cintos dianteiros com regulagem de altura, cintos traseiros de três pontos, conta-giros, controle elétrico dos retrovisores, além de para-choques na cor do veículo. Também tinha o duplo airbag como opcional. Sabemos que hoje a maioria destes recursos são encontrados nos modelos de entrada, mas em tempos de Fiat Mille EX e VW Gol Special no time dos populares, isso era muita coisa.
Sua suspensão traseira era muito moderna, com barras de torção que faziam o papel de uma mola, com um funcionamento simplificado e preciso. Mais macia, possibilitava pressão de 34 libras nos pneus, diminuindo também o seu arrasto e melhorando consideravelmente o consumo de combustível. Porém, nosso solo castigava os carros, e com o tempo a mesma suspensão seria um dos pontos críticos do 206, que sofria com problemas crônicos nas bieletas e uma conhecida folga no eixo traseiro após alguns anos de uso.
Ainda assim, com o ar da novidade, o hatch da Peugeot chamou a atenção dos motoristas, registrando 657 unidades emplacadas logo no seu 1º mês completo de vendas, sem contar uma fila de espera que superava a casa dos 60 dias para receber o carro, que na versão Soleil custava R$16.870,00 sem opcionais, equivalentes hoje a R$79.639,13 pelo INPC (IBGE). Ela era a única a ter a opção da carroceria de três portas. Passion e Rallye traziam sempre cinco.
Em 2001, a fábrica do Rio de Janeiro ficou pronta, e a partir do final de junho daquele ano o Brasil conhecia os primeiros 206 nacionais. Dentre as novidades, a marca lançou um motor exclusivo para nosso mercado, que não era propriamente um projeto Peugeot: o 1.0 16v. Mesmo sem este motor no portfólio, já que o 206 só era fabricado em versões 1.1, 1.4 e 1.6 mundo afora, a marca do leão fez uma parceria com a também francesa Renault, comprando dela o propulsor que, na época, também movia os Clio.
Com 70 cv de potência a 5500 rpm e 9,5 kgfm de torque a 4.200 rpm, o 206 1.0 16v era capaz de ir de 0 a 100 km/h em 14,4s, correndo até os 160 km/h (versão básica 3p). A Peugeot refez o mapeamento da central eletrônica do motor, mudando também seu cárter, coxins e sistema de arrefecimento. A transmissão manual de cinco marchas era a mesma dos 206 1.6 franceses, porém com relação encurtada, para garantir melhor desempenho ao hatch, que não era tão leve (950 kg).
Seu consumo real era parecido com o da versão 1.6 (ainda que a fabricante divulgasse presunçosos 14,7 km/l na cidade e 21,7 km/l na estrada, com gasolina), com médias urbanas sensivelmente melhores e rodoviárias semelhantes. Mas isso pouco importava, afinal o 1.0 16v era mais barato, igualmente seguro, tinha um design que ainda impressionava e era moda na época. Sim, carro 1.0 foi moda no Brasil, certo, Chevette Junior?
Ele era idêntico às versões 1.6 por fora, dos para-choques na cor da carroceria às rodas aro 14 e pneus 175/65, passando pela tomada de ar no capô. Ganhava apenas um emblema “16v” na tampa traseira. Para os 1.0, eram apenas as versões Selection (R$ 17.990 pela 3p ou R$ 900 a mais pela 5p, algo em torno dos R$ 75 mil atuais) e Soleil (R$ 19.440 pela 3p ou R$ 900 a mais pela 5p, algo em torno dos R$ 85 mil atuais).
A Selection Pack oferecia alguns itens extras por R$ 350 extras (3p ou 5p). Valores da época, claro. Já no interior, o 206 nacional trocava os tons cinzas pelo preto, e, dependendo da configuração, trazia um volante próprio de dois raios.
Ah, e para tentar resolver os problemas de suspensão das primeiras unidades francesas, a Peugeot alegou que recalibrou as suspensões do 206 1.0 para o mercado brasileiro, com reforços de borracha para tentar reduzir os ruídos nos pisos ruins e aprimoramentos no conjunto traseiro. Ainda na mecânica, outra diferença importante estava nos freios, já que os carros “milzinhos” tinham freio a disco sólido na dianteira, enquanto nas unidades francesas ele era ventilado. Os tambores traseiros eram padrão, assim como os pneus Pirelli P6000 nacionais.
O 206 Selection de entrada trazia como itens de série o odômetro digital (total e parcial), parassóis com espelhos de cortesia, tomada 12V, vidros traseiros basculantes (carros 3p), vidros verdes, apoios de cabeça traseiros, brake-light, faróis com regulagem interna de altura, indicador de manutenção, trava infantil para as portas traseiras (carros de 5p), protetor de cárter, alerta sonoro para esquecimento da chave no contato e para luzes acesas, ar quente, cinzeiro dianteiro, coluna de direção regulável em altura e supercalotas 14”. Mais uma vez, em tempos de hatches de entrada totalmente “pelados”, o Peugeot trazia itens muito bem-vindos.
Caso preferisse, dava para equipá-lo ainda com CD Player ou rádio toca-fitas, disqueteira para 10 CDs, vidros dianteiros e travas elétricas, retrovisores na cor da carroceria, faróis de neblina dianteiros, ar-condicionado (que vinha junto de limpador e desembaçador traseiro), além do airbag frontal duplo, em um pacote com a função de corte de combustível em caso de acidentes, e da pintura metálica/perolizada. Alguns desses itens eram vendidos e instalados diretamente nas concessionárias. Curiosamente, a direção hidráulica não estava disponível nem na lista de equipamentos extras.
A Selection Pack acrescentava a preparação para som (antena no teto, fiação e dois alto-falantes), o relógio digital no painel, retrovisores externos com ajuste interno, enquanto limpador e desembaçador traseiros aqui eram de série. Além dos opcionais da Selection, a Pack, ao menos, já tinha a direção assistida como um item opcional.
A mais cara Soleil já tinha a direção hidráulica de série, além de iluminação no porta-malas, tampa do porta-luvas em tecido, apoios de cabeça dianteiros com regulagem de inclinação (luxo!), quatro alças de teto, fixação ISOFIX para cadeirinhas (!), acendedor de cigarros, banco do motorista com regulagem de altura e um novo tecido para a forração interna. Para ela havia os mesmos opcionais das outras duas versões (menos o que já era de série, claro).
A configuração 1.0 16v do 206, que era uma grande aposta da Peugeot na época (queriam emplacar 17 mil carros até dezembro de 2001, contando até com um reforço de produção argentina, e triplicar as concessionárias em pouco tempo), foi perdendo mercado após a chegada do 206 1.4 em 2004, que andava um pouco mais sem sacrificar o consumo, por uma diferença de preço pequena. Desta versão eu falarei em outra oportunidade com mais detalhes. O Peugeot 1.0 saiu do mercado brasileiro definitivamente em 2006, quando era vendido apenas na versão Sensation.
Atualmente a Peugeot faz parte do grupo Stellantis e usa motor Fiat 1.0 6v 3 cilindros Firefly. O 208, atual hatch compacto da marca, tem muito mais conteúdo, além de uma plataforma bastante moderna e segura. Mas nem sempre a vida dos “populares” da Peugeot foi fácil: na história do modelo que se chamou 206 até 2009 e 207 até 2015, muitos problemas mecânicos e de pós-vendas mancharam a imagem do carro, e da marca, ao longo dos anos. O tempo anda fazendo bem à Peugeot, e este mesmo tempo será responsável por uma esperada mudança de imagem da marca no Brasil, afinal o 208 é, hoje, um dos melhores do seu segmento.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
"Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como Consultor Organizacional na FS-França Serviços, e há 21 anos, também como consultor automotivo, ajudando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação."