A incrível experiência de ter um Viper V10 como “meu” carro por dois dias

Alguns carros só fazem sentido nos EUA, e quando pintou a chance de dirigir a icônica “víbora”, não tive dúvidas: paguei para ver (e não foi barato)
JC
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07.04.2022 às 12:28 • Atualizado em 29.05.2024
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Alguns carros só fazem sentido nos EUA, e quando pintou a chance de dirigir a icônica “víbora”, não tive dúvidas: paguei para ver (e não foi barato)

Passagem aérea, hotel, passeios, compras... São itens normais na planilha de planejamento de viagem de uma pessoa normal. Bom, nós, entusiastas do meio automotivo, não somos normais... Não sei se vocês também são assim, ou se eu sou um pouco mais anormal, mas na minha planilha de viagem há um item que fica acima desses todos: aluguel de carro.

Não em todas as viagens, lógico. Só naquelas onde vou alugar carro. Tudo isso começou em 2016, quando fui ao Chile. Não alugamos nenhum carro, em vez disso usamos vans de turismo. Naquela viagem eu jurei para mim mesmo que jamais visitaria outro país sem dirigir por lá. E assim foi.

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Depois disso, visitei os EUA quando o valor do dólar permitia. Não consegui realizar meu sonho de andar em um V8, estava com a família e a grana era contada... Mas consegui pegar um SUV grande, um Nissan Pathfinder 3.6 V6. Cumpriu seu papel. Porém, ficou aquele gostinho amargo, por ter ido à terra da ignorância automotiva sem tê-la experimentado de fato.

Algum tempo depois, surgiu a oportunidade de fazer outra viagem rápida para os EUA. Então, eu firmei um acordo comigo mesmo de alugar algo realmente americano. No mínimo, um Mustang ou Camaro V8. 

Alguns carros só fazem sentido nos EUA, e quando pintou a chance de dirigir a icônica “víbora”, não tive dúvidas: paguei para ver (e não foi barato)

Corvette C7 era a meta da viagem: na época, era disponibilizado por algumas locadoras

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Em busca de um muscle

Comecei minha pesquisa pelos sites de locadoras e descobri que algumas tinham Corvette em sua frota. Seria o ideal! Mas logo depois descobri que a cidade para onde eu viajaria não tinha essa opção. Bom, acho que vou ficar “só” no Mustang mesmo. Ok, vamos lá!

A duas semanas da viagem, em um almoço com amigos do trabalho, eu ouço: “Fulano está viajando pela Califórnia, andando de Cadillac Escalade.” Minha mente de gearhead perguntou sem hesitar: “Como ele conseguiu alugar um Escalade?” 

A resposta me tremeu na cadeira: “Em um app, tipo um AirBNB de carros.” Na hora, saquei meu celular do bolso, baixei o aplicativo em questão e pesquisei a cidade para onde eu iria. Para minha surpresa, e um pequeno infarto, estava lá disponível um Dodge Viper SRT10 2006 preto conversível.

Para mim, o Viper sempre foi algo além. Comparável a carros com os quais nada tem comparação como Ferrari F40, Lamborghini Countach, DeTomaso Pantera, Shelby Cobra... 

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O indirigível Viper GTS-R do game Grand Turismo 2

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Bom demais para ser verdade?

Meu primeiro contato com o Viper foi em um poster da revista Quatro Rodas na década de 90. Foi assim que me apaixonei por aquele dinossauro. Depois, nos arcades da vida, principalmente Grand Turismo, onde o Viper era sempre um dos carros mais difíceis de pilotar.

Quando minha alma voltou para o corpo, vi que o preço do aluguel era bem salgado. Mandei na hora para um amigo que viajaria comigo e ele, outro gearhead, topou dividir a facada. Então reservei o carro, sem acreditar muito no que tinha acabado de fazer. 

O Viper não tinha registro de aluguel, não tinha opinião de locatários anteriores, reviews, nada... Era recém listado. Entrei em contato com o proprietário e perguntei: “é um Viper mesmo?”. 

Então percebi que o cara estava tão nervoso quanto eu, me perguntou se eu tinha experiência com câmbio manual e carros potentes. Respondi que ele podia ficar tranquilo, pois eu possuía uma Blazer 2009 com o incrível Família 2 de 140 cv.

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O encontro com o Viper com o galpão: era verdade, mesmo! Estava acontecendo

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Hora do encontro com a víbora

Após duas semanas de aflição, chegou a viagem. Chegamos na cidade e fomos até o local onde o carro estava. Um bairro industrial, ermo. Típico cenário onde os filmes de terror de Hollywood começam.

Confesso que entrei na empresa onde, supostamente, o carro estava, ainda desconfiando que era um golpe. Andei pelo labirinto de escritórios imaginando que seríamos sequestrados. Até que chegamos em uma pesada porta de galpão, que se abriu e revelou o Viper. Minha primeira reação foi falar: “Caramba: é um Viper!”

Durante alguns minutos, eu me dividi em tentar acreditar que aquele carro estava ali e escutar as instruções do proprietário. Meu amigo já havia sentado no banco do carona e se trancado no carro. Procurei me acalmar e tratar aquilo como um aluguel normal, então procurei por arranhões, amassados e etc. 

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A traseira de um Viper ainda molhado pela chuva que caiu durante a noite

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Hora de dirigir… Um Viper!

Findada a vistoria, era hora de pegar as chaves. O dono estava bem relutante em me entregar, totalmente compreensível. Por fim, ele venceu essa barreira e eu entrei, sentei no banco do motorista e tentei respirar. “Cara, calma! Não vai bater esse carro!”. Meu amigo falava do meu lado. “Relaxa, tá sossegado!” Devolvi…

A perna esquerda tremia igual vara verde na embreagem. Inseri a chave no contato, virei e o arranque nem se mexeu. Então vi o botão START no console central. Apertei, e o V10 acordou. Amigos... Que sensação. Confesso que um pequeno vazamento lacrimal foi inevitável. 

Eu não queria de maneira nenhuma passar pelo vexame de deixar aquele carro morrer ali, então fui, com todo o cuidado, saindo da inércia. Somente depois de algumas centenas de metros tive coragem de dar uma “catucada” mais forte no acelerador. 

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A chave da diversão. Não basta virá-la no contato, é preciso apertar um botão para despertar o Viper

E a besta responde, como responde! A sensação de torque é instantânea e o motor engole as rotações. Mas, como todo bom muscle car, morre cedo. Acima de 5.000 rpm há uma sensível queda no fôlego disponível, então você engata a próxima marcha e sente a próxima patada.

Como usamos o carro no modo civil, não foi possível extrair todo o potencial do V10 de 8,3 litros, 510 cv e 74 kgfm. Ainda bem. Desconfio que minhas habilidades de piloto não seriam suficientes para domar o Viper em um autódromo. O carro é realmente arisco e o eixo traseiro ganha vida própria a qualquer beliscada no acelerador. 

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O coração da víbora

O câmbio de 6 marchas é bem escalonado, mas vamos combinar: com essa ficha técnica, é preciso um escalonamento de marchas muito ruim para passar alguma sensação de “buraco” entre relações.

Tive um pouco de dificuldade até me acostumar com o trambulador. A posição da alavanca é pouco ergonômica, e é fácil engatar uma quinta ao tentar engatar a terceira ou vice-versa. Os pedais são pesados, como devem ser, e possuem ajuste de distância. Com o toque de um botão, você pode aproximá-los ou afastá-los do banco.

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O interior do Viper: menos luxuoso do que poderia parecer, mas muito confortável

Por falar nos bancos: são excelentes! O couro de boa qualidade estava muito bem cuidado, considerando que o carro tinha dez anos. Eu tenho 1,87 metro de altura e me senti bem acomodado. 

O braço direito do motorista fica sobre o enorme túnel central, que é grande porque o final da caixa de marchas fica entre o motorista e o passageiro. Por isso a posição da alavanca do câmbio é ruim. Se você é alto, como eu, ou está acima do peso, como eu, entrar e sair do Viper é uma luta. Mas tudo passa quando você está lá dentro.

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Acomodado com conforto médio e felicidade extrema

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Um ícone das ruas americanas

Esqueçam os números, esqueçam que o Viper é, talvez, um dos superesportivos mais ineficientes. Para mim ele é, sem dúvida, um dos carros mais incríveis já feitos. Tudo nele é superlativo: o motor, o ronco, os dois escapamentos de 3 polegadas acabando embaixo da orelha do motorista e do passageiro. 

O Viper tem em seu desenvolvimento nomes juntados pelos deuses dos motores para criar a víbora perfeita: Lee Iacocca, Carrol Shelby, Lamborghini... Tudo isso torna o Viper o carro perfeito com a história perfeita.

Como era esperado, na primeira oportunidade baixamos a capota, que é manual. Nada de frescura por aqui. A sensação de acelerar aquele motor sobre rodas e escutar cada decibel gritando é única. Sentir a vibração aumentando a cada marcha, é impagável.

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Na lendária Rota 66 com o Viper 

Dirigi ele pela antiga Rota 66, para completar a experiência transcendental. Uma pena que na época o Perda Total não existia, então foquei totalmente em viver a experiência, e nem um pouco em gerar conteúdo com ela… Felizmente, sobraram algumas fotos!

Cada momento está eternizado na memória. Os americanos em seus Mustangs e Camaros me mandando joinha nos semáforos, perguntando se o carro era meu, gritando “your car is awesome!”... Eu realmente “tive” o carro por dois dias. Fiz tudo que poderia fazer com “meu” carro: peguei estrada, estacionei, fiz baliza, manobrei, tomei sustos, abasteci... 

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Com consumo de 4 km/l, haja disposição para ir ao posto

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Por falar em abastecer, que sensação. Você provavelmente sabe que nos EUA não há frentistas nos postos. Você mesmo abastece seu carro. Parei o Viper em um posto em uma cidadezinha do interior, entrei na loja de conveniências e pedi para desbloquear a bomba. 

No caminho de volta vi uma máquina de Coca-Cola, pedi o copo médio, que tinha, pasmem, 750 ml! Ok, vamos abastecer. Mais à frente, eu vi uma estufa com lindos pedaços de peito de frango frito, comprei um. Agora sim, vamos abastecer. 

Alguns carros só fazem sentido nos EUA, e quando pintou a chance de dirigir a icônica “víbora”, não tive dúvidas: paguei para ver (e não foi barato)

Típico cenário americano: um muscle car estacionado em uma rua larga de mão dupla

No momento seguinte eu estava abastecendo um Dodge Viper enquanto tomava um balde de Coca-Cola e comia meio peito de frango frito, tudo isso às 9 da manhã. Olhei aquela situação e pensei: acho que já posso dar entrada no meu green card... 

Caso você queira saber: o Viper fez 4 km/l de consumo médio! Enfim, mesmo que muscle cars e dinossauros americanos não sejam sua praia, eu recomendo a experiência!

Antonio Frauches é engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

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Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto. 

Imagens: Acervo pessoal

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