Fiat Tipo: o polêmico hatch italiano que incendiou o mercado dos anos 90

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3
PT
Por
24.01.2023 às 12:00 • Atualizado em 12.11.2024
Compartilhe:
Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

 Apresentado em 26 de janeiro de 1988 na Europa para substituir o Fiat Ritmo, o Tipo (Type 160) era o hatchback compacto onde a montadora italiana colocava suas fichas para concorrer no segmento. Foi idealizado pelo I.DE.A Institute, e foi o primeiro modelo da linha a ter seus painéis externos em aço galvanizado, o que lhe conferia um salto na proteção contra corrosão, além da larga utilização de painéis em plástico, para redução de peso estrutural.

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

Figura 1 - Fiat Ritmo: o predecessor do Tipo

O modelo, que lembrava bastante o seu irmão menor Uno, tinha uma plataforma inédita, que posteriormente foi compartilhada com outros modelos da Lancia e Alfa Romeo. O design se destacava pelas linhas quadradas, e conferia o excelente coeficiente aerodinâmico de 0.31, que junto com o espaço interno eram os diferenciais do Tipo. Outro ponto de destaque era a área envidraçada, que lhe conferia uma visibilidade diferenciada, e o ângulo de abertura das 4 portas, que facilitava o acesso aos passageiros. As inovações eram tantas na parte estrutural do veículo que lhe renderam o prêmio de carro do ano na Itália, em 1989.

 Anuncie seu carro na Mobiauto 

Em 1993 o Tipo sofreu um facelift, que trazia linhas mais arredondadas, além de mudanças nos para-choques e grade. Em conjunto com as mudanças visuais, foi apresentada a versão duas portas do Tipo e a disponibilização de air bags para motoristas.

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

Figura 2 - A primeira versão do tipo tinha frente semelhante à do Fiat Uno

Nem mesmo a atualização visual foi capaz de alavancar as vendas do Tipo, e o modelo foi descontinuado em 1995, sendo substituído pelo Fiat Bravo.

Durante a sua primeira aparição, o Tipo teve várias motorizações, indo de 1.1 (55 hp) a 2.0 (146 hp) a gasolina, 1.7 (57 hp) a 1.9 (64 hp) a diesel, além do 1.9 turbodiesel de 91 hp.

Curiosamente, o Fiat Tipo teve uma versão equipada com câmbio CVT, casada ao motor 1.6. A exemplo do ocorrido com o Uno, a versão era chamada Selecta. Além da automática, o Tipo também teve uma versão equipada com um enorme teto retrátil, chamada Moonlight, e uma versão aventureira, chamada Mania, com direito a barras no teto, adesivos e calotas especiais, dando ao carro um ar de fora de estrada.

Leia também:  Chevrolet Blazer: história do SUV vai muito além do que você conhece

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

Figura 3 - Fiat Tipo Moonlight

No Brasil, a história do hatch começa em 1993, aproveitando-se da abertura recente das importações, o modelo era disponibilizado pela marca inicialmente na versão 1.6 i.e., com o robusto SEVEL 8v monoponto de 82cv, que empurrava meio que de forma preguiçosa os quase 1150kg do carro.

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

Figura 4 - O primeiro Tipo Nacional

O carro tinha uma aparência moderna, ante aos nossos modelos disponíveis à época, e estabilidade e espaço internos bem superiores a categoria. O sucesso foi tanto que forçou as concorrentes a importarem modelos para concorrer com o italiano, como o Golf e o Astra.

A Fiat lançou, em julho de 1994, a versão SLX com o motor 2.0 8v de 109cv, parente do utilizado no nosso Tempra, e para fechar o portfólio e enlouquecer o gearheads, onde eu me incluo, a versão Sedicivalvole, que apimentava as coisas numa carroceria duas portas, emblemas esportivos, e um motor 2.0 16v de 137cv, que levava o esportivo a 204 km/h.

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

Figura 5 - Fiat Tipo SLX

Essa versão, como de costume, era bem fantasiada com bancos esportivos, volante com aro revestido em couro e painel de instrumentos com manômetro e termômetro de óleo, além de pedaleiras e manoplas de cambio em alumínio

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

Figura 6 - A versão esportiva Sedicivalvole

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

Figura 7 - O interior do Tipo Sedicivalvole

Infelizmente, com uma mudança de alíquota para a importação de veículos, não era mais interessante para as montadoras importarem alguns modelos e, como o Tipo teve sua produção finalizada na Europa em 1995, a fabricante decidiu nacionalizar o modelo que chegou ao mercado em 1996 com a versão 1.6 MPi, rendendo 92cv no motor Sevel, agora com injeção multiponto, semelhante ao utilizado no Uno.

 Anuncie seu carro na Mobiauto 

Esse novo modelo, marcou o mercado por ser o primeiro modelo nacional a ter airbag opcional para motorista. Também no Tipo nacional eram opcionais as rodas de liga leve da versão europeia, o que lhe conferia um charme a mais. 

A nova versão nacional diminuiu os custos de produção e certamente deu margens para a fabricante ter um produto competitivo e atraente perante seus concorrentes. Porém, o número crescente de incidentes e pequenas explosões nas versões importadas 1.6 começava a tomar uma grande proporção, e a imagem do veículo começava a ficar desgastada.

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

Figura 8 - Incêndios na versão 1.6 i.e. mancharam a imagem do Tipo

Doze mil carros foram chamados para um recall de emergência, diversos proprietários acionam a Fiat na justiça, e com os vários relatos de incêndio ganhando os noticiários as vendas do Tipo acabaram despencando. 

Em 1997, após somente um ano de nacionalização, a produção do Tipo é interrompida e o carro sai de linha. Seu sucessor seria o Brava, que só chegaria alguns anos após sua repentina saída da produção. Embora a história dele no Brasil termine por aqui, na Europa, desde 2015 o tipo iniciou um novo capítulo e até hoje segue em vendas por lá.

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

Figura 9 - Fiat Tipo lançado em 2015

Criado para ser o substituto do Fiat Bravo nos mercados Europeus, o modelo foi derivado da conhecida plataforma FCA Small Wide, que deu origem a diversos outros irmãos de tamanhos e formas pelo mundo, inclusive pelo Brasil. 

O modelo é bem versátil, apresentando formas Sedan, hatch, cross e perua, além de uma extensa gama de motores desde o seu lançamento, incluindo nosso conhecido Fire 1.4, 1.4 T-Jet, duas opções de FireFly de 1.0 e 1.5 (que é a opção híbrida do modelo) e, fechando a gama, o E.torQ 1.6. Também são disponibilizadas versões diesel 1.3 e 1.6 Multijet.

Leia também:  Sete dicas para ingressar seu filho no kart com segurança

Também estão disponíveis quatro tipos de câmbios para as diferentes versões, sendo elas :duas opções manuais de cinco e seis marchas, uma automatizada de dupla embreagem de seis marchas e outra automática convencional também de seis velocidades.

Obviamente, é inevitável a comparação do modelo com o nosso Argo, que se assemelha em visual com o irmão importado, porém com dimensões e construção diferentes, além de nas possuir a versão station wagon, infelizmente.

Embora o tipo não tenha uma história encantadora no Brasil, por uma infelicidade do destino e, digamos, um erro que custou a sua reputação, pode-se dizer o quão promissor o modelo foi, e como ele ajudou a movimentar o mercado de hatches importados. 

 Anuncie seu carro na Mobiauto 

O curioso é que a trajetória de hatches médios (ou ditos médios) da montadora italiana em ambos os continentes começa e termina de forma parecida. Por lá o Tipo foi substituído pelo Bravo/Brava, seguido pelo lançamento do Stilo e por fim o Bravo novamente, quando o nome foi resgatado com a geração nova do Tipo 2015. Por aqui, o substituto foi o Brava, seguido do Stilo e por fim o Bravo. Infelizmente não era viável trazer o novo modelo e, certamente, o nome não seria bem aceito pela má fama adquirida nos anos 1990. Então a montadora trouxe a identidade visual do Tipo, lançando o Argo.

Vários modelos foram projetados tendo como base o Fiat Tipo, devido a sua plataforma inédita e moderna para a época. Alguns desses modelos são: Yugo Sana/Zastava Florida, Lancia Dedra sedan, Fiat Tempra, Alfa Romeo 155, Fiat Coupé, Lancia Delta Nuova, Alfa Romeo 145, 146, Alfa Romeo Spider e GTV.

Hatch médio chegou ao Brasil na década de 1990 com visual moderno para brigar com VW Gol GTI, Chevrolet Kadett GSi e Ford Escort XR3

Figura 10 - Yugo Florida: o Tipo fabricado pela estatal iugoslava Zastava

A minha história com Tipo foi curta, mas foi um carro que eu gostei bastante. Meu pai teve um 1.6 MPi 1996 verde, adorava o carro. Aqueles mostradores eram algo que chamavam atenção no modelo. O carro, embora não aparentasse ser grande externamente, tinha um espaço interno muito bom. Por algum motivo o escapamento tinha problemas, e era bem barulhento, o que deixava a experiência mais legal e o carro mais esportivo do que realmente era. Ele foi comprado usado e veio com rodas de liga leve do modelo europeu de 14 polegadas diamantadas.

Infelizmente ficamos pouco tempo com ele, mas eu tive o prazer de dirigir e experimentar o Sevel 8V. Obviamente, minha régua era nula e eu achei o carro um míssil, mas lembro como ele era estável nas curvas, e como os bancos e a externa do carro eram bons e bonitos. Até hoje olho para os Sedicivalvole com bons olhos por conta daquele carrinho.

William Marinho, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto. 

Você pode se interessar por:

O abismo criado entre um SUV raiz do passado e um SUV moderno
Como as luzes do painel podem salvar o seu carro e o seu bolso
2.000 km de Toyota Corolla Cross – Dunas, montanhas e estradas bloqueadas
Simples adaptações no carro que rendem multas e você nem imagina

Comentários