A raríssima VW Saveiro diesel criada por concessionários que virou lenda
Existem muitas lendas em torno do VW Saveiro Diesel. Muitos afirmam categoricamente que o modelo foi fabricado pela Volkswagen do Brasil para nosso mercado. Mas na verdade, era uma adaptação de alguns concessionários, e vamos contar melhor esta história.
Lançado em 1982, o Saveiro trazia motor Boxer de 1,6 litro de 50 cv a 4.600 rpm e 12 kgfm de torque a 3.600 rpm, logo fez fama por sua robustez e charme, conquistando não só trabalhadores, mas também os jovens. Usando gasolina, ia de 0 a 100 km/h em 16,9 segundos, e atingia 142km/h de velocidade máxima. O consumo era de 10,1 km/l na cidade e 14,2 km/l na estrada.
No final de 1984 para dar mais agilidade, o modelo foi equipado com um motor refrigerado a água 1.6 MD-270 de 72 cv a 5.200 rpm e 12,2 kgfm de torque a 2.600 rpm com gasolina. Seus números de desempenho eram: 0 a 100km/h em 15,5 segundos, 153 km/h de velocidade máxima. Já em termos de consumo, a picape fazia 10,5km/l na cidade e 14,4 km/l na estrada.
No final de 1985, era lançado o então moderno e hoje cultuado motor 1.6 AP-600, uma evolução em todos os sentidos. Também usando gasolina, tinha 80 cv a 5.600 rpm e 12,7 kgfm de torque a 2.600 rpm, ia de 0 a 100km/h em 13,2 segundos e chegava a 153 km/h. O consumo era de 9,3 km/l na cidade e 13,4 km/l na estrada.
Em 1989 foi apresentada a linha 1990, com o motor 1.6 AE-1600 (de origem Ford), com 76 cv a 5.600 rpm e 13,3 kgfm de torque a 3.200 rpm. Para ir de 0 a 100 km/h eram necessários 13,1 segundos e a velocidade máxima era de 151 km/h. O consumo ficava em 10,3 km/litro na cidade e 14,4 km/litro na estrada.
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O que garantiu sua fama, foi a gama maior a partir de 1989, com a chegada da versão 1.8 de 95 cv a 5.400 rpm e 15,6 kgfm de torque a 3.200 rpm. Este ia de 0 a 100km/h em 11,7 segundos e atingia até 159 km/h. O consumo na cidade ficava em 10,1 km/l e na estrada em 13 km/l.
A história das versões a diesel da VW Saveiro
A maioria dos modelos diesel que estão no mercado datam entre 1985 e 1991, então, como estes veículos começaram? Desde 1976, o uso de óleo diesel em veículos de passeio era proibido pela Portaria nº 346, de 19/11/1976, do extinto Ministério da Indústria e do Comércio.
Na ocasião, o país registrava expressivos déficits na sua balança de pagamentos e dependia fortemente de importações desse derivado de petróleo, já que o Brasil precisava importar 78% do petróleo consumido. Ficava assegurado o uso de diesel em geradores e máquinas agrícolas e transporte de carga rodoviário, vital para o país, desde que foram abandonados os investimentos nas linhas férreas, um retrocesso sem precedentes.
Outro argumento usado, foi o da poluição gerada pelo enxofre presente no diesel, algo que tinha sentido à época.
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Houve várias tentativas de derrubar esse veto, e algumas portarias que possibilitaram o surgimento de alguns veículos a diesel, seja por fabricação em série, ou mesmo por adaptações de concessionários ou oficinas mecânicas, com a possível legalização junto ao Detran.
Eis que em 1985, a Resolução n. 655/1985 do CONATRAN afrouxou os limites até então vigentes, permitindo o uso do Diesel em furgões, além de veículos que comportassem 15 passageiros e os utilitários que levassem mais de 545 kg de carga.
Alguns concessionários da VW e oficinas independentes viram uma oportunidade e passaram a instalar o motor a diesel da antiga Kombi (um 1.6 de 50 cv a 4.500 rpm e 9,5 kgfm de torque a 3.000 rpm, com médias de consumo de 15,2 km/l na cidade e até 22,4 km/l na estrada), tanto em veículos novos ou usados, já que sua capacidade de carga era de 570 kg. No caso de veículos novos, os concessionários mantinham a garantia para todo o veículo, e não só para o motor.
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Revistas especializadas explicavam na época sobre como instalar o motor a Diesel em uma VW Saveiro, e sobre as vantagens desta modificação, como na matéria de Jane Lopes e Ricardo Caruso da edição nº19 da Revista Oficina Mecânica, ou mesmo a matéria de Luiz Bartolomais Jr. publicada na edição nº 330 da Revista Quatro Rodas.
Em dezembro de 1987, um motor diesel novo do VW Kombi custava Cz$ 245.000, equivalentes a R$ 43.540, de acordo com índice INPC (IBGE) no site do Banco Central. O câmbio de 5 marchas, geralmente usado, tinha o custo de Cz$ 35.000, equivalentes a R$ 6.220 em valores atuais, mais Cz$ 35.000 entre mão de obra, Cz$ 15.000 em peças extras como filtro duplo de combustível e Cz$ 20.000,00 com suporte de alternador, somavam mais R$ 6.220 à conversão, totalizando Cz$ 315.000, ou R$ 55.980 se fosse hoje.
Para documentar o veículo, bastava levá-lo à delegacia, onde um técnico emitia o laudo de “vistoria técnica de verificação de segurança” ao custo de Cz$ 3.000, ou R$ 533 corrigidos. Esse laudo era entregue junto à nota fiscal do motor e câmbio e aos documentos originais do Saveiro, e por mais Cz$ 3.000, o certificado RENAVAM era emitido com “Diesel” como combustível.
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Podia-se reduzir o custo vendendo o seu motor a gasolina ou etanol como usado por Cz$ 50.000, ou R$ 8.885, totalizando assim um investimento de Cz$ 271.000, ou R$ 48.160 hoje, sem contar é claro o preço do próprio veículo. Os gastos eram similares se o veículo fosse novo, onde os concessionários já incluíam os valores da conversão e documentação ao preço da versão escolhida.
A resolução do CONATRAN foi revogada pela resolução 727/1989, mesmo assim, graças ao sistema pouco informatizado do Brasil na época, alguns veículos ainda foram legalizados até meados de 1993, quando em 1994 entrou em vigor a portaria n° 23, de 6 de junho de 1994, do extinto Departamento Nacional de Combustíveis (DNC), substituída pelo art. 5° da Resolução n° 292, de 29 de agosto de 2008, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
Atualmente, somente caminhões, ônibus e picapes com carga útil superior a 1.000 kg e utilitários com tração 4×4 e reduzida podem usar esses motores.
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Nos anos 90, o Saveiro recebeu evoluções técnicas, injeção eletrônica multiponto nas versões com motor AP (com direito a versão TSi 2.0), e nos anos 2000, o motor EA-111 1.6 8v, que saiu de linha em março de 2022.
O VW Saveiro, então com 33 anos de mercado, teve sua versão cabine dupla de série lançada apenas em 2015, na sua terceira geração (reconhecida no mercado como a sexta).
Com 41 anos de produção, usa hoje o motor EA-211 1.6 16v, e nesta longa história, uma coisa é certa: nunca teve de série uma versão a Diesel no Brasil. Quem ainda contestar, peça para ver o manual de instruções de um exemplar diesel que contenha as informações técnicas de seu motor, desempenho e manutenção.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Imagens: VW/divulgação / Hamilton Penna Filho - Revista Oficina Mecânica / Antigos SP Classificados / Val Carfe Veículos
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