Chevrolet Corsa AutoClutch: o carro manual disfarçado de automático

Opcional quase esquecido foi oferecido no início de ciclo da segunda geração do modelo, no início dos anos 2000. Era inventivo, mas ao mesmo tempo um fiasco
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19.07.2023 às 17:00 • Atualizado em 12.11.2024
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Opcional quase esquecido foi oferecido no início de ciclo da segunda geração do modelo, no início dos anos 2000. Era inventivo, mas ao mesmo tempo um fiasco

Pouca gente lembra, mas o Chevrolet Corsa brasileiro experimentou um sistema de embreagem automática que era uma espécie de embrião dos carros populares automáticos dos dias atuais. Estamos falando do Corsa Autoclutch, lançado no Brasil no começo dos anos 2000.

Lançado na Europa em 1983 e no Brasil em 1994, o Chevrolet Corsa é um dos carros de maior sucesso da marca em território nacional, conforme já abordamos nesta outra coluna. Pudera:  somadas as versões e modelos, foram vendidas mais de 3,1 milhões de unidades, um número respeitável.

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Dentre tantas versões, o Corsa C, de 2002 – segunda geração no Brasil, terceira no mundo –, revolucionou o segmento com um design harmonioso e moderno para seu tempo. A GM lançou simultaneamente as variações hatch e sedan, este com projeto de origem nacional. Àquela época, a carroceria sedan vendia mais que a hatch, o que justificava o lançamento simultâneo.

As revoluções e evoluções do Corsa C

Com linhas limpas, fluidas e ao mesmo tempo equilibradas, o Corsa hatch trazia um conjunto de lanternas traseiras em disposição alta, enquanto o sedan se inspirava no primo médio Vectra. Ambos eram equipados inicialmente com motor VHC 1.0 8V com 71 cv de potência (a 6.400 rpm) e 8,8 kgfm de torque (a 3.000 rpm), e 1.8 com 102 cv (a 5.200 rpm) e 16,8 kgfm (a 2.800rpm).

Seu acabamento era vistoso, com painel moderno e bancos confortáveis. O modelo esbanjava itens de comodidade e segurança, como vidros elétricos com função antiesmagamento e um toque, além de travas automáticas que acionavam quando o carro entrava em movimento e destravavam ao retirar a chave da ignição. Sei que isso hoje é comum, mas em 2002 era um recurso pouco visto no segmento.

O hodômetro era digital e acendia ao abrir a porta do motorista, a fim de ajudar a encontrar a fenda da chave, além do aviso de revisões, com a inscrição INSP. A luz interna tinha temporizador com apagamento gradual e o conta-giros passava a vir de série em qualquer versão.

Como opcional, o Corsa B trazia os seguintes pacotes:

  • Pacote R6A (preparação para som com fiação elétrica e antena de teto, reostato da iluminação dos instrumentos).
  • Pacote R6L (protetor de cárter, aquecimento, desembaçador do vidro traseiro).
  • Pacote R6P (protetor de cárter, ar-condicionado, desembaçador do vidro traseiro).
  • Pacote R6F (Airbag duplo, ar-condicionado, protetor de cárter, direção assistida, volante revestido em couro).
  • Pacote R6M (abertura do porta-malas com controle elétrico; travamento das portas, alarme e fechamento automático dos vidros a distância; banco do motorista com ajuste de altura; banco traseiro com encosto bipartido e dois encostos de cabeça; controle elétrico dos vidros; luzes de leitura dianteiras e traseira; preparação para som com fiação elétrica e antena de teto; reostato da iluminação dos instrumentos).

Além dos pacotes, podia-se adicionar teto solar com acionamento elétrico, rodas de aço de aro 14 e pneus 175/65, direção hidráulica, rádio/toca-CD com mostrador remoto, rádio/toca-CD para 6 discos com mostrador remoto e pintura metálica.

Embreagem automática

Um opcional exclusivo das versões com motor 1.0 era o sistema de embreagem automática, intitulado pela GM de AutoClutch. O sistema, similar ao do Fiat Palio Citymatic (link matéria do Palio) que trazia comodidade para o motorista, já que não era necessário acionar a embreagem para mudar as marchas.

Pai do sistema automatizado, o conjunto era acionado por um sistema servo-eletrônico, composto de sensores no câmbio e na alavanca, além de uma via de comunicação eletrônica (tipo CAN Bus) entre o módulo de controle do motor (ECM), o módulo de controle da carroceria (BCM), o painel de instrumentos e o módulo de atuação da embreagem.

Neste sistema, um sensor de reconhecimento de intenção de troca (IRT) fica na base da alavanca de câmbio, enquanto outros dois estão dispostos na caixa de câmbio, sendo um no comando de engate e outro no comando de seleção.

Quando a alavanca é manuseada de forma a engatar uma marcha, os sensores registram a mudança e transmitem a informação para a central eletrônica. A central aciona o sistema após o comando do motorista e, para isso, dispõe de um programa que analisa todos os sinais recebidos, e assim comanda o atuador, tudo isso, em milésimos de segundo.

Este atuador, por sua vez, aciona a embreagem após receber o comando. Na prática, o manuseio do câmbio é o mesmo do modelo manual, bastando tirar o pé do acelerador para efetuar a troca de marchas.

O painel do Corsa AutoClutch tem um mostrador de marchas e um alerta no painel avisa com um sonoro “bip” quando as trocas são feitas de forma inadequada. Já para se engatar a ré, basta que o condutor pare o carro totalmente e acione o pedal do freio.

O carro só dá a partida com o câmbio em neutro e pode partir da inércia em primeira ou em segunda marcha. Caso o motorista tente sair com o veículo em outra marcha, o veículo produz solavancos e avisos sonoro e visual (no painel). Para se reduzir as marchas, o sistema não é tão suave, forçando o motorista a tocar o acelerador com pé direito para “casar” a rotação do motor, evitando assim os trancos.

Caso o freio de mão ou o pedal do freio estejam acionados, a embreagem permanece desacoplada, poupando todo o sistema. Além disso, o sistema possui modo “creeping” - movimentação do veículo em piso plano sem que o motorista acelere o motor, facilitando as manobras de estacionamento.

Na prática, basta tirar o pé do freio que o carro se movimenta devagar para frente ou para trás, sem a necessidade de acelerar, como em um carro com câmbio automático e conversor de torque. O sistema não possuía auxílio de partida em rampa, forçando o condutor a usar o auxílio do freio de estacionamento ou mesmo o pedal de freio simultaneamente.

Além disso, as trocas de marcha devem ser feitas com suavidade, sob pena de emperrar a alavanca de câmbio e a campainha disparar nos ouvidos do condutor, tornando assim, o modelo bastante lento.

Com isso, desempenho e consumo eram ruins. O Corda AutoClutch fazia de 0 a 100 km/h em 20,6 segundos e chegava a 142km/h de velocidade máxima, com média de 7,7 km/l de gasolina na cidade e 13,5 km/l na estrada.

O sedan era ainda pior, pois ia de 0 a 100 km/h em 22,8 segundos e tinha velocidade máxima de apenas 136 km/h, com médias de 7,5 km/l na cidade e 13 km/l na estrada, sempre com gasolina. Um verdadeiro fiasco.

As vendas do Chevrolet Corsa AutoClutch foram ínfimas e o opcional saiu do catálogo em meados de 2003.  O Corsa B perdeu também o teto solar em 2005, recebeu motor 1.4 em 2008 e foi fabricado até 2012, sendo substituído pelo Chevrolet Onix, outro grande sucesso da GM no Brasil.

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em Comunicação Empresarial e Marketing Digital, e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua há 18 anos com gestão e consultoria automotiva, auxiliando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. É criador dos canais Autos Originais e Auto e Autos…

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Imagens: Leonardo França/Autos Originais


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