Chevrolet Kadett: ícone dos anos 90 tem muito mais tradição do que parece
Se você tem 30 anos ou mais é bem provável que o nome Chevrolet Kadett traga à sua mente palavras como desempenho, potência ou, como os mais antigos costumavam chamar carros rápidos: um avião!
Exageros à parte, o hatch médio produzido por aqui pela General Motors entre 1989 e 1998 tinha diversas qualidades. E embora a maioria das pessoas possa achar que se tratava de um hatchback derivado do Monza, a origem do Kadett é bem mais antiga que a de seu irmão.
Opel Kadett I, o início da marca
A origem no período entreguerras
O primeiro Kadett foi o Opel Kadett I, e foi apresentado ao público em 1936. Isso mesmo: 53 anos antes de chegar por aqui. O modelo entreguerras foi lançado como um carro ultramoderno, já construído com estrutura monobloco e possuindo freios hidráulicos.
Com a Segunda Guerra Mundial, a produção foi interrompida em 1940, trazendo um hiato de mais de duas décadas para a vida do Kadett. Curiosamente, o Kadett I teve uma vida paralela na União Soviética, como o Moskvitch 400-420.
Moskvitch 400-420, o Kadett soviético
Surge a linhagem Kadett
Somente em 1962 o nome voltou ao portfólio da Opel, com o Kadett A. O modelo, que inaugurou a classificação com letras que duraria até o fim da vida do modelo, era oferecido como sedan, cupê e perua, sempre com duas portas, e com o motor Opel OHV de quatro cilindros e 993 cm³.
Opel Kadett A
Em 1965, a Opel lançou o Kadett B, fazendo o carro crescer em todas as dimensões, além de ampliar também a família, que agora contava com sedan, fastback e perua, todos com duas ou quatro portas, e o cupê de duas portas. Essa geração ainda deu origem ao Opel GT, um esportivo de dois lugares.
Opel GT: o mini-Corvette derivado do Kadett B
De sua costela, nasceu o Chevette
Em 1973, chegou o Kadett C, o primeiro Opel a fazer parte de um projeto global do grupo General Motors. A GM desenvolveu a plataforma T, ou ainda Tcar, que deu origem ao primeiro produto compacto global do grupo, gerando diversos modelos vendidos pelas suas subsidiárias ao redor do globo.
Um deles você deve conhecer como Chevrolet Chevette. Da Plataforma T ainda nasceram carros como: Isuzu Gemini, Daewoo Maepsy e Pontiac T1000.
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Opel Kadett C
Isuzu Gemini
Pontiac T1000
Falando um pouco no Chevette, o corpo de engenheiros da Chevrolet do Brasil participou ativamente no desenvolvimento de melhorias no motor Opel OHV. Entretanto, o grupo General Motors focou no desenvolvimento de novos motores, como o Família 2.
O nacional Chevrolet Chevette, derivado do Kadett C
Então o OHV acabou sendo substituído. Nosso Chevette carrega o OHC, que nada mais é do que o OHV com algumas dessas melhorias, entre elas o comando de válvulas no cabeçote com acionamento por correia dentada.
Pai do Astra
Opel Kadett D
Em 1979, foi lançado o Opel Kadett D. O primeiro Kadett a usar o Família 2, inclusive na versão a diesel. Esse foi também o primeiro Kadett a utilizar o nome Astra no Reino Unido, com o emblema da Vauxhall.
O Kadett D era parecido com o primeiro Monza, mas ambos não compartilhavam a plataforma. O modelo era oferecido nas versões hatchback, notchback e perua, com duas ou quatro portas, ou ainda na versão “de firma” furgão com duas portas. As opções de motores iam do antigo OHV ao novo Família 2, passando ainda pelo Família 1.
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Kadett E, aquele que o brasileiro aprendeu a amar
Opel Kadett E em seu lançamento na Europa
Com isso, chegamos ao nosso tão amado Chevrolet Kadett, que foi lançado como Opel Kadett E na Europa em 1984. Ele aposentou o nome Kadett também e é conhecido em alguns mercados como a segunda geração do Vauxhall ou Opel Astra.
A terceira geração do Astra é a primeira que tivemos aqui, apelidada pelos entusiastas de Astra Belga. Nosso Kadett foi eleito pela mídia europeia como o carro europeu do ano em 1985.
Vauxhall Astra mk2 GTE, equipado com 2.0 de 130 hp.
Por lá o modelo foi oferecido nas versões hatch e perua com duas ou quatro portas, sedã somente com quatro portas e conversível. O Kadett E também chegou a usar o antigo OHV, além do Família 1 e Família 2, esse último sendo o único motor oferecido por aqui.
Em 1989 o Kadett chegou nas terras brasileiras, quatro anos depois de ser lançado na Europa e só dois anos antes de ser aposentado e substituído pelo Opel Astra F por lá.
Kadett brasileiro já na clássica série Turim, lançada por conta da Copa do Mundo de 1990 na Itália
Com o Kadett brasileiro, a Chevrolet conseguiu estranhos equilíbrios. Tratava-se de um carro de plataforma antiga, com origens comuns ao nosso Chevette, mas que apresentava modernidades, principalmente comparado ao nosso mercado no fim dos anos 1980.
Seu motor, à época fruto de um projeto de dez anos de idade, fazia frente ao VW AP em desempenho, dando ao Kadett e ao Monza a fama de “aviões”. Mas ao mesmo tempo ambos tinham também a fama de superconfortáveis, devido ao acerto mais macio de suspensão.
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Ícone de desempenho e versatilidade
O Kadett povoou nossa mente durante os anos 1990, seja com o esportivo GSi, o conversível de mesmo nome ou a perua Ipanema, completa e com quatro portas.
Seu visual com linha de cintura baixa e caixa de roda traseira de topo reto, à lá Omega, não o deixavam passar despercebido pelas ruas. Num mercado onde o Gol reinava absoluto, o Kadett nunca conseguiu fazer frente nas vendas, mas se sobressaia nas vistas.
Minhas experiências com o Kadett
O icônico Kadett GSi
Eu tive duas experiências com o Chevrolet Kadett. A primeira foi em 1994. Eu era criança, mas já tinha minhas memórias sendo riscadas no HD. Quando nasci, meu pai tinha um Ford Corcel II, que foi o primeiro carro que conheci. Após algum tempo sem carro, ele comprou um Kadett 1.8 EFI vinho.
O primeiro zero-quilômetro da família desde o Fusca 1300 L 1978. O primeiro 0 km que conheci. Acredito que por isso, até hoje, quando entro em um Chevrolet 0 km, reconheço o cheiro.
Fui eu quem tirou os plásticos dos bancos, que na época vinham cobrindo por completo o assento e encosto. Para mim, acostumado com um Corcel, o Kadett parecia uma nave espacial. Era mais ou menos essa sensação que o carro trouxe ao nosso mercado ainda sem importações.
A segunda experiência foi mais breve. Em 2010, vendi meu Fusca 1995 e comprei um Kadett 1997 1.8 EFI GL azul. Apesar de o Kadett ser só dois anos mais novo que o Fusca, foi uma baita viagem no tempo.
Tive esse carro por exatamente um mês, até que a trizeta se soltou e, durante a investigação, eu descobri que o carro estava com o agregado rachado, deixando a suspensão dianteira trabalhar além do que devia. Como comprei o carro em uma agência, o devolvi e peguei outro modelo. Durante esse mês eu não desliguei o excelente ar-condicionado do carro.
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O Kadett com a “cara” de seu último facelift, em 1996
Era inverno no Rio de Janeiro, alguns dias eu não precisava do ar ligado. Mas eu não estava nem aí: não passei calor durante três anos em um Fusca para desperdiçar um Kadett. Além disso, usei bem o Família 2 1.8 EFI.
O carro tinha potência e torque suficientes e em baixas rpm. De incômodo mesmo, só o câmbio mal escalonado, com um belo “buraco” entre a segunda e a terceira marchas.
Hoje o Kadett ainda é um usado a preço razoável, com exceção das séries especiais e versões esportivas. Um Kadett 2.0 1998 GLS é um excelente carro de baixo custo para o dia a dia, fazendo tudo o que um Astra 1.8 faz, com um apelo mais vintage.
Se você busca ter um carro antigo, mas não tem dinheiro para brincar na liga principal, sugiro colocar o Kadett na sua lista. Pois para mim ele lidera com folga a segunda divisão.
Imagens: Divulgação/Chevrolet e Divulgação/Opel
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.
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Jornalista Automotivo