Como a Fiat fracassou com inovação que faria sucesso 20 anos depois
Nos anos 90, muitos modelos marcantes foram lançados: GM Corsa em 1994, novo Gol no mesmo ano, Ford Fiesta em 1995 (ainda importado), sem falar em inúmeros modelos importados na época de dólar barato e imposto reduzido.
A Fiat tinha o bem-sucedido Uno Mille, que inaugurou o segmento de luxo nos carros populares com a versão ELX em 1994, oferecendo 4 portas e ar-condicionado opcionais. Àquela época, era travada uma guerra entre as quatro principais montadoras no Brasil, e o objetivo era o favoritismo do público quanto a escolha do carro popular.
A disputa se tornaria ainda mais acirrada em 1996 com a chegada do Fiat Palio. Moderno, confortável, era quase 100 mm mais largo que o Uno, mas oferecia o mesmo entre eixos de 2.360 mm. Na prática, acomodava melhor os passageiros, principalmente quando o carro tinha cinco pessoas a bordo.
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Ainda em 1996, a GM lançava o Corsa Sedan no mesmo ano, e a VW a nova Parati. A Fiat preparava o contra-ataque para o ano seguinte, um dos anos com mais lançamentos no segmento.
Assim, em 1997, a VW trazia a dupla Gol e Parati com motor 1.0 16V, a GM Lançava o Corsa Wagon e a Fiat lançava dois modelos que seriam queridinhos na próxima década: Fiat Palio Weekend e Fiat Siena.
O Palio Weekend apresentava inicialmente quatro versões: 1.5 MPI com 76 cv, 1.6 16V MPI, Stile 1.6 16V MPI e Sport 1.6 16V MPI, todos com 106 cv. Já o Fiat Siena, importado da Argentina, chegava com as versões EL usando motores 1.6 com 8 válvulas e 82 cv ou 16 válvulas com 106 cv, e a HL, luxuosa e com o motor 1.6 16V de 106 cv de série.
De cara, fizeram muito sucesso, e começaram a dar muito trabalho para a concorrência. A Palio Weekend oferecia maior entre eixos ante o Palio e o Siena (2420 mm x 2360 mm), além de um bom porta-malas com 460 litros de capacidade. Já o Siena, contra-atacava com um porta-malas ainda mais generoso, de 488 litros, e um design que agradava um público que via nos sedans compactos boa ergonomia e certo status. Sim meu caro leitor, os tempos eram outros.
A guerra dos motores de 1.000 cilindradas estava no auge, a VW reinava sozinha com seus motores de 8 e 16 válvulas, e em 1999 a GM entrou no páreo com o GM Corsa 16V, ampliando sua gama de populares com o lançamento dos GM Corsa Sedan 1.0 16V e Corsa Wagon 1.0 16V.
Àquela época, a Fiat já preparava o facelift da linha Palio, além de uma nova gama de motores, intitulado motor Fire, mas não queria ficar de fora da disputa tecnológica, já que o lançamento era programado para a linha 2001.
Inovadora como sempre, lançou em 1999 o Fiat Palio Citymatic, o popular com embreagem automática (leia mais aqui), e os Fiat Palio Weekend 1.0 8v e Fiat Siena 1.0 8V, ambos com câmbio manual de seis marchas.
A nova transmissão de seis marchas prometia maior desempenho e agilidade, aproveitando melhor a curva de torque do antigo motor Fiasa 1.0 com injeção multiponto e 61 cv e 8,1 kgfm de torque. Na prática, os pesados modelos (1.040 kg na Weekend e 1.020 kg no Siena) eram lentos, fazendo de 0 a 100km/h em 17s na Weekend e 16,8s no Siena e consumiam muito combustível, com médias na cidade que variavam de 7,8 km/l na Weekend e 8,1 km/l no Siena, fruto da falta de torque e peso elevado do motor.
Na estrada, as médias eram de 12,9 km/l para Weekend e 13,0 km/l para o Siena. Além disso, os modelos eram muito cansativos de se dirigir, pois as marchas eram muito curtas graças à relação de diferencial também curta, e a primeira marcha servia, na prática, apenas para tirar os veículos da inércia quando estivessem com maior peso.
Se estivessem vazios, era possível arrancar em 2ª marcha sem dificuldades. A 40km/h, era possível engatar a 5ª marcha e com bom torque, em 6ª marcha, a 100km/h, a rotação era praticamente a mesma dos Fiat Palio equipados com 5 marchas, o que os tornavam também barulhentos.
Fabricados por dois anos, as vendas foram ínfimas. Em 1999 foram registradas apenas 9.497 unidades da Palio Weekend e 6.022 no ano 2000, totalizando 15.519 unidades. Já o Siena teve 15.875 unidades registradas na linha 1999 e 7620 na linha 2000, totalizando 23.495 unidades. Muitas destas unidades não possuem mais o câmbio original, dada a dificuldade de se encontrar peças para manutenção, sendo substituídas por caixas de 5 marchas do Fiat Palio.
Anos mais tarde, o câmbio manual de seis marchas voltaria a ser utilizado pelas marcas como GM Ônix/Prisma, VW Fox 1.6 16v, VW Golf TSI, entre outros, porém, os motores de hoje possuem mais potência e torque, e os estudos tornaram as relações de marcha mais adequadas, já que a relação de diferencial, neste caso, costuma ser mais longa.
A verdade é que a Fiat inaugurou um conceito no Brasil muito utilizado hoje nas caixas de câmbio manuais, onde o Fiat Palio Weekend e Siena de 6 marchas foram modelos que entraram para a história, mesmo de forma lenta.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em Comunicação Empresarial e Marketing Digital, e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua há 18 anos com gestão e consultoria automotiva, auxiliando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. É criador dos canais Autos Originais e Auto e Autos…
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