Como a Fiat Titano será posicionada em meio a tantas picapes Stellantis
A cada movimento que a Stellantis faz no mundo das picapes ela demonstra que existe uma sincronia diria quase maquiavélica. E por que? Porque ela criou uma energia que está presente hoje na soma da gama Fiat, RAM e não esqueçamos, Jeep. E um novo capítulo está prestes a ser escrito: Fiat Titano.
Mas antes de falar da Fiat Titano especificamente, vamos pontuar outros movimentos da Stellantis:
- Em junho passado a marca reduziu os preços da Fiat Toro Diesel em R$20.000. Todos falaram que este movimento seria para ajustar a gama e assim receber melhor a Fiat Titano e RAM Rampage. Ok, mas calma que no caso da Titano não é tão simples assim.
- No caso da Ram Rampage, ao vermos seus preços de lançamento, a sua versão de entrada Rebel Diesel é cerca de R$33.000 mais cara que a Fiat Toro Ultra. Foi fácil concluir que R$13.000 não era uma diferença aceitável. Ponto para a Stellantis!
- Em breve a Strada, sua incontestável líder de vendas, receberá o motor 1.0 Turbo FireFly. Isso dará ainda mais gás para as versões topo de gama, onde certamente as margens são bem interessantes. Ponto para a Fiat!
Bem, chegamos ao cenário atual. Fiat Toro reposicionada, Ram Rampage lançada, Strada ainda sem o motor Turbo e Titano batendo a nossa porta. O quadro abaixo mostra este cenário onde olhando para os modelos e seus posicionamentos de preços, chegamos ao que chamo de Stellantis - A fantástica fábrica de picapes! De cair o queixo, não?
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Mas ainda tem peças para se mexer neste tabuleiro. Primeiro, a Nova Fiat Titano.
Para começar a falar de estratégia de posicionamento e lançamento, quero lembrar de um belo exemplo do que não fazer. Voltamos a 2008. Lançamento do Fiat Linea. Estávamos na fase de apuração de custos atualizados, validação de margens e propostas finais de preço e posicionamento. Para fazer uma longa história curta, nossa proposta de posicionamento colocava o Linea frente a frente com Chevrolet Astra Sedan e Ford Focus Sedan, o que o deixava em uma posição muito competitiva com um produto muito mais moderno.
Queríamos assim atacar e fazer volume indo a guerra contra a faixa baixa/média do segmento. Fomos vencidos. E o Linea foi lançado com preços próximos a Toyota Corolla e Honda Civic. O resto da história eu não preciso contar. Vocês sabem.
Bem, voltemos a Fiat Titano. Inicialmente, vale lembrar que ela é um rebadge da Peugeot Landtrek, um modelo desenvolvido pela PSA em parceria com a chinesa Changan e lançada na China como Changan Kaicheng F70.
Claro que a Stellantis e seu time de engenharia, após a decisão de lançá-la com a marca Fiat, se debruçou em um longo trabalho para adequá-la ao mercado brasileiro e mais importante, aos objetivos que a Fiat tem para entregar um modelo que fortaleça a marca e atenda os consumidores.
Teremos com certeza o melhor acerto possível, com a adição de um motor que consiga disputar com as maiores do mercado, que tem usinas sempre próximos ou até acima dos 200 cv.
O design externo terá o devido rebadge e certamente alguns refinamentos e rodas exclusivas. Já o design interno terá com certeza boas novidades que adicionarão fartas doses de tecnologia no modelo.
Somando tudo isso, chegamos ao valor da marca. E este é o maior desafio da Fiat. Se levarmos em consideração o que a Strada e a Toro representam, a marca pode, sim, bater no peito com orgulho e se chamar de: “uma marca de valor e respeito no mundo das picapes.
Se pegarmos carona na marca RAM e suas picapes e respingarmos isso na irmã Fiat, isso só trará ainda mais força para a marca Stellantis e claro, Fiat. Mas isso é suficiente para enfrentar as tradicionais marcas presentes na faixa de picapes médias?
A Fiat Titano será a única picape na gama Stellantis que não foi feita 100% por ela. E isso conta. Sua herança de ter nascido em outro berço e ter sido, digamos, adotada pode sim ser um ponto que precisará ser muito bem trabalhado na apresentação do modelo, tentando assim vencer algumas objeções.
Chega de teoria, concordam? Agora, o vale tudo. Quem deverá ser o maior concorrente da Fiat Titano? Tenho lido muito o termo anti-Hilux, o que eu acho uma covardia. E não porque a Fiat Titano seja ruim, de forma alguma, mas porque nenhuma nova picape merece nascer com esta difícil missão.
Se fosse fácil, Ford, Chevrolet, Mitsubishi e Nissan já o teriam feito. Lembrando que no maior mercado do mundo de picapes, o americano, a Toyota vende menos que as marcas Ford, Chevrolet/GM e RAM.
Porém, no Brasil, a Toyota tem uma imagem de confiabilidade e valor residual que, sendo franco, chega a ser irritante. Basta ver sua liderança com um produto precificado nas alturas quando comparados à concorrência. Mas sejamos justos, né, ela fez o papel de casa e há um bom tempo colhe os frutos.
O que fazer com a Fiat Titano, então? Bela missão para o time de Brand da Fiat. Olhando para o quadro abaixo temos a gama Fiat, somada a RAM Rampage e, abaixo, as picapes médias presentes no mercado.
Quando olhamos as concorrentes, confirmamos o posicionamento premium da Toyota. A Chevrolet com as tradicionais versões, a Ford com seu lançamento parcial da nova geração da Ranger e a Mitsubishi, Nissan e VW com as suas gamas tradicionais.
Pensando até onde a Titano pode ir como preço, vejo claramente um balizador: a nova Ford Ranger XLT com seu motor V6 com 258 cv. Modelo totalmente renovado e muito bem avaliado pela imprensa, ela é definitivamente um entrave.
Quem atacar, então? A resposta certa é: todo mundo. E está certo. A Fiat quer que compradores, inclusive de versões mais caras dos concorrentes. Olhem para a Titano e vejam nela uma excelente opção.
Mas na minha visão não cabe precificar a Titano nas faixas altas de preço para que ela, ao invés de ser vista como a melhor opção, seja vista como “legal mas cara demais”.
O que fazer então? Bem, eu coloquei um ponto de partida e chegada, de R$240.000 a R$279.000, usando todo o racional que falei acima. A Fiat Titano estaria na mesma faixa da RAM Rampage, mas com uma proposta de produto diferente.
Ela tem todos os predicados para roubar clientes dos seus concorrentes e de modelos de outros segmentos. Mas tem que ter o pé no chão, não entrando na disputa da faixa alta, mas sim na parte baixa/média. Seu confronto seria especialmente com as versões de entrada da Nova Ford Ranger, ChevroletS-10, Mitsubishi L200 e Nissan Frontier.
Desta forma tenho a certeza de que a Stellantis, junto a sua fantástica fábrica de picapes, superou até mesmo Willy Wonka e sua Fantástica Fábrica de Chocolates! Concordam?
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Adriano Castello Branco Resende, casado com a Renata e pai do Diego. Formado em Administração e MBA em Marketing. Apaixonado por carros e com mais de 25 anos de experiência no mercado, com passagens nas áreas de Marketing, Produto e Comunicação em marcas como Fiat, Chrysler, Jeep, Nissan, Jaguar Land Rover e Renault.
Projeção: Kleber Silva/@KDesignAG
Especialista Automotivo