Felipe Drugovich na Fórmula 1: estão deixando a gente sonhar
Talvez nem todos se deem conta, mas de 1970 até 2017, ano em que Felipe Massa pilotou pela última vez uma Williams, tínhamos pelo menos um brasileiro por temporada cheia no grid da Fórmula 1 — um feito considerável para um país emergente dentro de um esporte de acesso limitado a tão poucos por questões financeiras.
Depois de rompida essa tradição, entretanto, o que se viu no automobilismo brasileiro foi uma seca de pilotos de vários anos, que se estende até hoje, e que só deu trégua quando Pietro Fittipaldi substituiu um recém acidentado Romain Grosjean pela Haas por uma única corrida em 2020.
Sim, é isso mesmo que você leu. O país de Senna e companhia, nos últimos cinco anos, só teve a oportunidade de ver um brasileiro correr, uma única vez, e com o pior carro do grid.
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E com tantos pilotos jovens e qualificados, como Georger Russell e Max Verstappen, a expectativa brasileira foi diminuindo a cada ano de carência que passava. Algo completamente normal se levarmos em conta que só existe decepção quando há expectativa.
O povo brasileiro pareceu escolher se proteger da frustração que mal sucedidas campanhas de Twitter em prol de mãos verde-amarelas guiando um carro de Fórmula 1 novamente poderiam causar.
Estávamos largados às traças tal qual Charles Leclerc após bater sozinho no “imbatível” GP da França de 2022. Olhando para os céus e pensando que só o acaso seria capaz de nos dar uma nova chance de sermos felizes. E foi justamente por aí, no ano passado, que as coisas começaram a mudar.
Longe de mim, nesta humilde coluna, querer clamar que o acaso joga a favor dos brasileiros na Fórmula 1. Até porque seria uma grande heresia da minha parte ignorar as desventuras de Rubens Barrichello nos seus GPs da casa ou a sádica derrota de Felipe Massa na última volta daquele fatídico GP do Brasil de 2008.
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Mas a verdade é que, desde o ano passado, coisas estranhas acontecem na Fórmula 1. Primeiro, em 2022, uma guerra causa a demissão de um piloto numa equipe que conta com um reserva imediato brasileiro dias antes da temporada começar… e agora, em 2023, um piloto, que também tem um reserva dos nossos, cai de bicicleta e se machuca a pouco tempo da primeira corrida.
Como diria o sábio Ronaldinho Gaúcho: “Estão deixando a gente sonhar”. E nesse exato momento eu tenho até medo do que os torcedores que comemoraram crianças caindo de skate nas Olímpiadas por uma medalha para a nossa fadinha Rayssa Leal estão pensando sobre o atleta Lance Stroll.
Independente disso, fato é que, obra do acaso ou não, a maré começou a virar. Fora as peças pregadas pelo destino, a competência de Felipe Drugovich ao vencer a Fórmula 2 o colocou no mesmo patamar que os últimos campeões da categoria de base final da FIA: Charles Leclerc (2017), George Russell (2018), Nyck De Vries (2019), Mick Schumacher (2020) e Oscar Piastri (2021).
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E sabem o que esses nomes têm em comum além de serem intermináveis geradores de edits de adolescentes no Tik Tok? Mais cedo ou mais tarde, absolutamente todos eles tiveram suas chances como titulares de uma equipe de Fórmula 1.
Sim, eu sei que esse fato por si só não garante nada para nós. Mas o que eu posso dizer para vocês é que eu já estou pronto para me iludir novamente.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Caio Diniz é relações públicas e ama todo tipo de esporte. É host do podcast Cronômetro Zerado, espaço no qual aborda a Fórmula 1 sempre de maneira leve e bem humorada.
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