Ford Ecosport XL 1.0 Supercharger foi SUV pioneiro e fracasso de vendas

Apesar do compressor mecânico, configuração era inferior em desempenho e economia de combustível aos demais motores do EcoSport
LA
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21.08.2024 às 19:45 • Atualizado em 12.11.2024
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Apesar do compressor mecânico, configuração era inferior em desempenho e economia de combustível aos demais motores do EcoSport

Primeiro SUV compacto feito no Brasil, e precursor de uma moda que dura até hoje, o Ford Ecosport foi o queridinho da classe média e sonho de consumo de muita gente. Estrela do Salão do Automóvel de 2002, o jipinho impressionou seu público como um utilitário esportivo e ao mesmo tempo pequeno, afinal, era fabricado sobre a plataforma do Fiesta.

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Seu design, atraente para a época, tinha foco na aventura, reforçado pelo estepe fixado na tampa do porta-malas, com dirigibilidade exemplar, direção e suspensão firmes. O conjunto, montado em um sub-chassis, vinha do Ford Fiesta, onde, na suspensão dianteira, o Eco recebeu molas recalibradas e barra estabilizadora mais resistente, com 18 mm de diâmetro. Na parte traseira, trazia reforços estruturais nas longarinas. O modelo foi pensado para receber tração nas 4 rodas, por isso, além de elevado do solo, tinha bons ângulos de entrada (28º) e saída (34º).

 

O SUVzinho tinha por missão resolver um problema dos carros off-road, que na época eram ruins na estrada e bons fora dela, ou vice-versa se falássemos de um pseudo-aventureiro. De fato, o Eco resolvia essa questão com um conjunto mecânico suave e afinado, transmitindo baixíssimas vibrações e pouco ruído, associados a competência para rodar em pisos ruins.

 

Foi lançado em cinco versões: XL 1.0 Supercharger, XL 1.6, XLS 1.6, XLT 1.6, até a topo de linha XLT 2.0. No fim do mesmo ano, ainda seria lançada uma sexta versão, com tração integral (4WD) e o mesmo motor 2.0 Duratec. Confortável de guiar, agradava em cheio seus proprietários pela posição de dirigir alta, que apesar dos bancos curtos, transmitia sensação de domínio na estrada, até então encontrada em utilitários maiores, e mais caros, como GM Blazer ou Ford Explorer, e seu espaço interno era amplo para os padrões da época, também bastante elogiado.

 

Toda a linha trazia os mesmos equipamentos básicos, sendo: alça de segurança dianteira com porta-casacos, fiação para som com antena, aquecedor, aviso sonoro de faróis acesos, banco traseiro bipartido, banco do motorista com regulagem de altura, direção hidráulica, volante com regulagem de altura, vidros verdes, limpador/desembaçador do vidro traseiro, espelho de cortesia no para-sol para motorista e passageiro, luz de leitura dianteira, luz no porta-malas, relógio digital, conta-giros e pneus 205/65R15. Suas cores podiam ser as sólidas Branco Ártico, Vermelho Bari ou Preto Ebony, metálicas Prata Geada ou Cinza Trancoso e perolizadas Azul Ilhéus, Vermelho Milão ou Verde Sauípe.

 

A versão XL 1.0 Supercharger, mais barata da gama, oferecia uma lista magra de opcionais, com não muito mais que rádio AM/FM, airbag para o motorista e ar-condicionado. Simplória a ponto de vir com manivelas para abrir as janelas das quatro portas, não tinha pintura nas maçanetas, capas de retrovisores ou para-choques, e suas rodas de aço eram cobertas por calotas plásticas. Como grande atrativo, a versão era boa de custo X benefício, muito por conta do menor imposto cobrado sobre seu pequeno motor de 998 cm³: em abril de 2003 eram R$ 31.190,00 sem extras, ou R$ 121.796,76 atuais (IGPM/FGV).

 

Em pretensão esportiva ou foco no melhor desempenho, o Eco “milzinho” usava a então moderna (e inédita) solução da superalimentação por compressor mecânico, em um mesmo conjunto mecânico encontrado no Fiesta. O competente motor de 1.0 litro, com quatro cilindros, oito válvulas e 95 cv de potência a 6.000 rpm com 12,64 kgfm de torque a 4.250 rpm, bebia só gasolina e casava bem com a transmissão IB5, manual de cinco marchas, que tinha a 1ª, 2ª e 3ª encurtadas a fim de um maior fôlego no uso urbano (4ª e 5ª usavam a mesma relação do motor 1.6, embora com diferencial final mais curto). O conjunto, moroso, era capaz de levar o jipinho de 0 a 100 km/h em 14,8 s e o fazia correr até os 157 km/h de velocidade máxima.

Devido ao peso da versão XL com Supercharger (1.200 kg, maior até que o da XL 1.6), economia não era uma virtude: fazia 7,4 km/l de gasolina na cidade e 13,6 km/l na estrada segundo testes da época. Um caso complicado…Até porque versão XL 1.6, mais cara (R$ 35.590,00 da época, ou R$ 138.978,73 hoje), era melhor.

 

A 1.6 tinha 98 cv a 5.250 rpm e 14,3 kgfm de torque a 4250 rpm, permitindo um 0 a 100 km/h em 13,4s e aceleração máxima de 160 km/h. Como pesava cerca de 15 kg a menos, contava com mais potência e força, o motor 1.6 era um pouco mais econômico que o 1.0 superalimentado, chegando aos 8,7 km/l na cidade e 15,2 km/l na estrada com gasolina, seu único combustível possível. De quebra, o 1.6 ainda conseguia ainda ser mais silencioso, alcançando 70,2 dB a 120 por hora em 5ª marcha, ante 70,3 dB da 1.0 Supercharger.

 

Como desvantagem, em ambos os casos o alcance máximo sem reabastecer era ruim, já que seus tanques de combustível comportavam apenas 45 litros, tornando-se um incômodo por conta das constantes visitas aos postos de combustíveis, principalmente nas (sofridas e lentas) viagens com um XL 1.0 Supercharger. A tal versão 1.0 agradou alguns consumidores no preço de aquisição, mas estes logo se depararam com custo de manutenção mais alto (por conta da maior complexidade da superalimentação por compressor mecânico frente a aspiração natural), e uma desvalorização, em média, 8% maior se comparada a XL 1.6.

 

Muitos que dirigiram um Eco 1.0 Supercharger e outro 1.6, diziam que a versão superalimentada era mais áspera, produzia maior vibração em seu funcionamento, e trabalhava em maior rotação (por conta do câmbio encurtado), sem contar o constante ruído do funcionamento do compressor mecânico, ocasionando viagens ou passeios menos confortáveis a bordo do Eco “mil”. Os modelos 1.6, além de serem mais silenciosos e suaves, eram mais econômicos em todas as situações.

Outro ponto que se tornou posteriormente polêmico no Supercharger foi com relação ao fluído de lubrificação do compressor, que deveria ser trocado periodicamente, mas que poucos proprietários eram informados desta necessidade. Isso resultava, a longo prazo, em danos irreparáveis à maioria dos compressores, já que, por falta da manutenção correta, tiveram sua vida-útil reduzida. Eles perdiam em desempenho e ganhavam ainda mais barulhos de funcionamento.

 

Ao contrário das demais versões da gama, que logo se tornaram as queridinhas do mercado, a versão XL 1.0 Supercharger foi um fiasco de vendas, emplacando bem menos que seus irmãos Fiesta e Fiesta Sedan também superalimentados. Em meados 2006, o Ecosport 1.0 se despediu do mercado nacional pela porta dos fundos, sem fazer alarde nem deixar saudades, findando de vez a trajetória do primeiro e único SUV 1.0 com compressor mecânico. Como curiosidade, hoje existem cerca de 3.800 unidades do Eco “mil” registradas segundo registros da Frota Nacional pelo Denatran. Mais raros que muita série limitada…

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência.  Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.

https://www.instagram.com/autosoriginais

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