Ford Escort Hobby usava motor 1.0 do VW Gol contra o Fiat Uno

Modelo inovou na manutenção, mas versão com motor 1.0 durou poucos anos
LA
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06.12.2023 às 19:20 • Atualizado em 12.11.2024
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Modelo inovou na manutenção, mas versão com motor 1.0 durou poucos anos

O Ford Escort foi lançado no Brasil em agosto de 1983 e causou frisson quando chegou aos concessionários da marca por seu estilo moderno “2 volumes e meio”, por seu acabamento esmerado, sua mecânica moderna e principalmente por ser o primeiro carro mundial da marca fabricado no Brasil, argumento em alta nos anos 80.

Com carroceria de 2 ou 4 portas e nas versões Standart, L, GL e Ghia, o carro mundial da Ford oferecia 3 anos de garantia contra corrosão, 1 ano de garantia sem limite de quilometragem para motor e câmbio, além de ar-condicionado e teto solar opcionais para as versões GL e Ghia, opcionais bastante raros na categoria até então.

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Com motores 1.3 de 4 marchas para a versão Standart (com a 5ª opcional) e 1.6 de 5 marchas para as versões L, GL e Ghia (opcional no Standart), inaugurou no Brasil o motor CHT, uma evolução dos motores Cléon-Fonte dos Ford Corcel e Del Rey, com melhor rendimento e maior torque em baixa rotação.

O Escort desbancava até mesmo o Ford Corcel no quesito manutenção, com trocas de óleo realizadas a cada 10.000 km (até então o padrão era 5.000 km), e sem a necessidade de troca de óleo do câmbio, que usava óleo do tipo long-life. Seus pneus eram exclusivos do Ford na pedida 165SR13, que garantiam o conforto em sua rodagem.

Em 1986 foi apresentada a linha 87, com uma remodelação completa na dianteira, traseira e interior, muito mais modernos. Considerada uma nova geração, consolidou-se como um carro de categoria superior, sendo visto nas garagens das residências de classe média e alta. Com o novo modelo, a versão 1.3 foi extinta, e permaneceram apenas as versões 1.6 “civis” e o esportivo XR3, este com mais potência.

Além de ter sido pioneiro no Brasil por adotar o moderno sistema de ajuste automático da folga da embreagem nos idos de 1983, o Escort foi também o primeiro modelo a usar o reservatório de combustível fundido em plástico, com bons 65 litros de capacidade.

Em 1989, as versões intermediárias e topo de linha ganharam o motor VW AP-1800, com melhor torque em baixa rotação e maior desempenho geral. O XR3 tinha exatamente o mesmo comando de válvulas do VW Gol GTS, e encarava os modelos de sua cilindrada de frente a frente.

Em 1990, uma simples redução de 40% para 20% na alíquota do IPI vigente viabilizou o lançamento do primeiro carro popular dos novos tempos, e algumas semanas depois, era lançado o Fiat Uno Mille, o primeiro dos 1.0 modernos.

Todas as marcas começaram a apresentar seus concorrentes, e em 1992, a GM foi a segunda marca a lançar o seu carro popular: o Chevette Junior. Bastante espartano e dotando de um projeto muito antigo em concepção e estilo, a Chevrolet usou de todos os artifícios para o tornar atrativo e barato.

A Volkswagen respondeu com o que tinha na prateleira, e no mesmo ano, lançou VW Gol 1000. Os argumentos eram rasos, mas convenciam os clientes empolgados com o marketing forte e a novidade em si. Trazia um conjunto mecânico bastante antiquado, mas elogiável por sua confiabilidade e suavidade de funcionamento. Batizado de AE-1000, o motor criado a partir do AE-1600, que por sua vez era a evolução do CHT da Ford, superou o projeto original. Tinha 997 cm³, gerava 50 cv a 5.800 rpm e 7,3 kgfm de torque a 3.500 rpm. Sua potência específica era superior à versão 1.6: 50,1 cv/litro ante 46,3 cv/litro do 1.6. Ainda em 1992, a Ford apresentava a nova geração do Escort, muito maior e mais moderno.

A marca entendia que os motores de 1000 cilindradas seriam um modismo, e quando questionada pela impressa da época, afirmava que nenhum motor abaixo de 1600 cilindradas interessava à Ford.

Em 1993, graças a uma nova resolução do governo reduzindo a alíquota de veículos com motor 1.6 boxer e/ou de tração traseira (parece até que alguém foi privilegiado com isso né), os veículos com esses motores passaram a ter a chancela de popular. Com isso, a GM tratou logo de substituir o GM Chevette Junior pelo GM Chevette L, com motor 1.6 e muito mais disposição, e a Ford lançou o Escort Hobby 1.6, usando a carroceria anterior e o classificando como seu carro de entrada.

Mas caro leitor, o mercado consumidor é também modista, e não entendia as vantagens de se ter um carro 1.6 com bom preço, a moda era o 1.0 (!), e Ford entendeu que precisaria se adequar aos novos tempos pois seu Hobby 1.6 não era mais competitivo. No final de 1993 foi apresentado à imprensa o Ford Escort Hobby 1.0, e enfim, a Ford tinha seu representante dos carros de 1.000 cilindradas.

Bastante espartano, ele também usava a carroceria da geração anterior, mas tinha como trunfo seu ótimo acabamento para a categoria, maior espaço interno e o status de ser um Ford Escort, a anos reconhecido como um carro de maior status.

Usava o mesmo motor AE-1000 do VW Gol, porém instalado na transversal e com outras calibragens de carburador. Seu motor à gasolina tinha 997 cm³, gerava 52 cv a 5.800 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3.600 rpm, e com um câmbio bem escalonado, tinha um desempenho bastante adequado à época: chegava a 142 km/h de velocidade máxima, fazia de 0 a 100 km/h em 19,9 segundos e percorria 10,4 km/l na cidade e 14,7 km/l na estrada.

Seu porta-malas de 305 litros esbanjava espaço para a bagagem, e seus 64 litros de capacidade do tanque garantiam uma autonomia de 940,8 km em estrada, possibilitando viagens tranquilas. E eram tranquilas mesmo, pois seu motor limitava as ultrapassagens nos tempos em que poucas estradas eram duplicadas. Seus pneus 155/80S R13 eram confortáveis nas vias esburacadas, mas tinham pouca área de contato no solo, e o Hobby pedia cautela nas frenagens de emergência.

Em 1994 a concorrência lançava novos modelos, como GM Corsa e VW Gol geração 2, e vários importados desembarcaram em nosso solo, graças ao Dólar equiparado ao recém-lançado Real, e com isso, o Ford logo perdeu seu brilho. No mesmo ano, o Escort Hobby 1.6 saia de cena.

Em 1995, a Ford lançou o Ford Fiesta, então importado e com motor 1.3 de 62 cv, e com a relação estremecida com a Autolatina, preparava o Fiesta nacional em uma nova geração, modelo lançado um ano depois.

Em 1996, as últimas unidades do Hobby tinham melhor acabamento e calotas integrais, e tiveram, como opcional,  um pacote especial: rodas aro 14 com pneus 185/60 do antigo Ford Verona GLX, volante do Escort XR3, vidros verdes, para-brisas degradê, setas dianteiras brancas, retrovisor externo do lado direito, retrovisores com comando interno manual, retrovisores e para-choques pintados da cor do veículo e limpador/desembaçador do vidro traseiro, encerrando 10 anos depois a carreira da quarta geração do Escort 3 anos depois do primeiro Ford 1.0 nacional. O modelo deu lugar ao Ford Fiesta nacional, modelo que falarei em breve.

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em Comunicação Empresarial e Marketing Digital, e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua há 18 anos com gestão e consultoria automotiva, auxiliando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. É criador dos canais Autos Originais e Auto e Autos…

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