Película (quase) invisível promete aumentar autonomia de carros elétricos
As dúvidas sobre a viabilidade de carros movidos a eletricidade já fazem parte do passado. Seja no Brasil ou no exterior, os veículos elétricos já são uma realidade há um bom tempo. Um grande ponto ainda em discussão é a autonomia desses veículos, mas já há empresas criando soluções a fim de expandir o alcance dos carros entre uma recarga e outra.
O instituto alemão Fraunhofer, por exemplo, criou uma película fotovoltaica praticamente invisível, feita da cor do próprio carro, como agente de captação de energia solar para o ganho de autonomia para o tráfego de veículos elétricos em até 10%.
Você também pode se interessar:
- Por que carros elétricos e híbridos perderam 30% de autonomia no Brasil
- Carro elétrico: por que andar mais rápido ajuda na autonomia?
- Como funciona um carro elétrico: manutenção, recarga e baterias
- É possível recarregar um carro elétrico só com energia solar?
- Estes Fiat usam luz solar para poupar combustível, e não são híbridos!
A película ficaria localizada no capô do veículo e seguiria sempre a paleta de cor correspondente à do carro. A tecnologia foi apresentada neste ano durante o Salão do Automóvel de Frankfurt, na Alemanha.
“Aplicamos as células solares no painel do capô de um modelo de carro frequentemente vendido na Alemanha, interconectamos e laminamos com filme”, explica o Martin Heinrich, coordenador de mobilidade fotovoltaica do Fraunhofer ISE.
“Para conseguir isso, o processo de laminação foi otimizado cuidadosamente para minimizar bolsas de ar, evitar o enrugamento do módulo do filme, que pode ocorrer devido à área de superfície curva, e para manter a integridade geral da estrutura da cobertura”, completa.
Os protótipos são equipados com células solares de silício
monocristalino, utilizando uma tecnologia batizada de MorphoColor. Segundo Heinrich,
o material também entrega um bom resultado estético, sem comprometer o visual
do automóvel. Para isso, a película fica escondida por um revestimento
colorido.
Além da colorização, a película solar prometer ter uma potência de 210 W/m² (Watts por metro quadrado), o que pode aumentar a autonomia de um carro elétrico em até 10 km em um dia ensolarado. O instituto alemão afirma que a economia no uso de energia pode chegar a 10% da quilometragem total em um ano.
Outro ponto positivo indicado pelo instituto é a questão da temperatura do carro. A radiação solar é convertida em eletricidade após incidir sobre a película solar. Com isso, a tecnologia ajuda a diminuir o superaquecimento do veículo. Essa energia gerada pela luz solar ainda pode promover a economia durante o uso de outros itens como o ar-condicionado.
Os testes do Fraunhofer também foram estendidos para caminhões. Uma parceria entre o instituto e empresas de transporte utilizou seis caminhões equipados com a película solar. Os veículos de grande porte rodaram pela região leste dos Estados Unidos e na Europa. Os resultados divulgados indicaram um ganho de 5.000 km a 7.000 km por ano. Isso, claro, sempre em locais com muita incidência de sol.
Tecnologia em larga escala já deu errado
O caso mais recente de uma empresa que investiu em energia solar para carros e se deu mal foi a Lighyear. A startup holandesa chegou ao mercado com força ao anunciar o Lightyear 0, elétrico equipado com painéis solares no teto e com a promessa de rodar até sete meses sem descarregar toda a bateria.
Vale ressaltar que esses resultados são para um deslocamento diário de 35 km por dia, em local ensolarado, e com o carro continuamente exposto ao sol. Nos testes realizados pela empresa holandesa, o Lighyear 0 chegou a garantir 625 km de autonomia. Isso equipado com uma bateria de 60 kWh, menor do que concorrentes como a Tesla.
Entretanto, a falta de luz no fim do túnel, ou melhor, a luminosidade esperada, não se realizou como o esperado. Menos de um ano após os anúncios de produção, a startup holandesa anunciou falência em janeiro de 2023 da subsidiária Atlas Technologies. Na prática, o braço da empresa era responsável por fabricar seu primeiro e, até então, único modelo o Lighyear 0.
“A Lightyear lamenta ter que fazer este anúncio a todos os empregados, clientes, investidores e fornecedores”, disse a empresa em nota na época.
Nesse cenário, o uso de energia solar para alimentar os carros elétricos ainda parece incerto. Por outro lado, assim como um dia os veículos elétricos foram considerados uma utopia, o imparável avanço da tecnologia pode ajudar a transformar os raios solares em mais um condutor sustentável para o setor automotivo.
Repórter
Encontrou no jornalismo uma forma de aplicar o que mais gosta de fazer: aprender. Passou por Alesp, Band e IstoÉ, e hoje na Mobiauto escreve sobre carros, que é uma grande paixão. Como todo brasileiro, ainda dedica parte do tempo em samba e futebol.