Primeira rua que carrega veículos elétricos automaticamente é inaugurada
A criação de uma rede de recarregamento para veículos elétricos é o desafio que países mais avançados economicamente começaram a enfrentar, com investimentos públicos milionários. Até julho deste ano, a China liderava o ranking global de pontos de recarga, com mais de 1,8 milhão, sendo que mais de 380 mil deles foram instalados só no ano passado.
O gigante asiático é seguido pela Coreia do Sul, com mais de 200 mil pontos. Na sequência, aparecem Estados Unidos (cerca de 140 mil), Holanda (mais de 125 mil), França (mais de 75 mil) e Alemanha (menos de 70 mil). O Brasil conta com modestíssimos 3,5 mil pontos.
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Mas a startup israelense Electreon tem uma abordagem diferente para a infraestrutura de recarga. Na semana passada, inaugurou em Detroit, no Estado americano do Michigan, o primeiro trecho urbano capaz do carregamento sem fio (wireless) das baterias de veículos elétricos.
Para construção da pista, que fica na 14th Street e tem apenas 400 metros de extensão, a empresa contou com o aporte de US$ 1,9 milhão (o equivalente a R$ 9,3 milhões) do Departamento de Transportes Estadual do Michigan (MDoT).
“Se fosse fácil, já teria sido feito”, disse o vice-prefeito de Detroit, Todd Bettison, durante a abertura oficial do trecho. “Estamos competindo, buscando soluções práticas para a virada da eletromobilidade. Este será nosso ‘campo de provas’. Simboliza nosso compromisso em construir uma infraestrutura de carregamento efetivos para veículos elétricos, nos colocando à frente de outras metrópoles”, completou Bettison.
Para quem conhece a Capital Mundial do Automóvel, sede da General Motors, da Ford e, até 2014, da Chrysler, a pista para recarga fica perto do Newlab, o antigo edifício reformado do Book Depository, ao lado da antiga estação ferroviária Central de Michigan (que a Ford está restaurando como um centro de mobilidade avançada) e sua inauguração atrasou dois anos em relação ao programado.
“Nossa tecnologia será, agora, testada num ambiente real e aperfeiçoado, antes de a disponibilizarmos para outras cidades e países”, disse o vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Electreon, Stefan Tongur.
“Por mais futurista e potencialmente revolucionárias que as ruas e rodovias com recarregamento wireless possam parecer, estamos falando de uma tecnologia que não é tão nova assim e demonstraremos que o carregamento sem fio pode acelerar a virada da eletromobilidade, pondo fim às limitações infraestruturais e de alcance dos EVs”, completou.
“Este projeto abre caminho para um transporte com emissões zero, onde os veículos elétricos serão a regra e não a exceção”, seguiu.
Estacionado ou em movimento
O princípio de funcionamento da rua que recarrega baterias é simples: a eletricidade é transferida sem fio, por indução (através de um campo magnético), para os elétricos equipados com um receptor específico – no caso, desenvolvido pela Electreon.
A corrente é transferida por meio indutivo para veículos estacionados ou em movimento. As bobinas instaladas no trecho só são acionadas quando um desses EVs passa sobre o piso, controlando o fornecimento de energia apenas para os veículos que, realmente, necessitam de carga.
“Nunca é demais lembrar que a indústria, como um todo, terá de avançar para implementar este sistema em rodovias e, obviamente, ter uma cobrança eficaz pela eletricidade”, pontua o diretor do MDoT, Brad Wieferich.
“A ideia de incorporar essa tecnologia nas estradas estaduais e nosso plano contempla um ‘corredor conectado’ de 40 milhas (o equivalente a 64 quilômetros) de Detroit a Ann Arbor, cobrindo a ‘Great Lakes megalopolis’, que é a maior área urbana dos Estados Unidos”, continua.
Em 2024, parte da Michigan Avenue, a principal avenida de Detroit, será reconstruída já com a tecnologia de carregamento sem fio. “Como estamos na América, nada é de graça”, lembra o editor associado da revista “Autoweek”, Emett White, que cobriu ‘in loco’ a inauguração.
“Os custos estimados para instalar o receptor de indução especializado partem de US$ 3.500 (o equivalente a R$ 17.200), embora a Electreon prometa reduzir este custo para cerca de US$ 1.500, eventualmente (R$ 7.400). Então, se comprar um veículo elétrico já é caro, instalar este receptor só vale a pena para alguns motoristas locais, pelo menos por enquanto”, avalia White.
“A Electreon e o MDoT também não especificaram quanta energia estará disponível para este trecho, embora as taxas de carregamento indutivo sejam normalmente semelhantes às de plug-in”, completa.
O motorista que passa pela 14th Street, hoje, não tem custos para recarga, mas é muito pouco provável que a infraestrutura de carregamento pública seja gratuita para sempre. Como ela requer magnetismo das bobinas subterrâneas, o fornecimento será otimizado nos períodos de descanso.
Pontos de ônibus e semáforos de tempo mais longo de espera foram mencionados como locais potenciais para expansão do serviço, que tem velocidade de carregamento de 19 kW. Já a Electreon, fundada em 2013, segue com outros 18 projetos do tipo em oito países, incluindo Suécia, Israel e Itália.
“Não estamos gerando receita, em Detroit, mas pretendemos expandir e monetizar esta tecnologia como já ocorre na Alemanha, através de um modelo de serviço voltado para frotas públicas, comerciais e autônomas”, finaliza Tongur.
Não há planos para a oferta deste ou qualquer serviço parecido no Brasil.
Jornalista Automotivo