Rival da Tesla mal entrou na Bolsa e já vale mais que Chevrolet e Ford

Marca californiana Rivian promoveu sua oferta pública de ações nesta semana e acumulou R$ 65 bilhões em poucas horas, maior cifra desde o Facebook
JC
Por
11.11.2021 às 13:36 • Atualizado em 29.05.2024
Compartilhe:
Marca californiana Rivian promoveu sua oferta pública de ações nesta semana e acumulou R$ 65 bilhões em poucas horas, maior cifra desde o Facebook

Por Homero Gottardello

A última quarta-feira (10) entrou para a história do setor automotivo global com a oferta pública inicial (IPO) das ações da Rivian na Bolsa de Nova York. 

Para quem não sabe o que é a IPO e também desconhece a marca californiana de veículos elétricos, que promete rivalizar com ninguém menos que a Tesla, façamos uma introdução, começando pela parte burocrática.

A oferta pública inicial corresponde à estreia de uma companhia no mercado de valores. Com a IPO, uma empresa como a Rivian, fundada em 2009, abre seu capital para novos sócios, que adquirem seus papéis – suas ações – nos pregões. 

Anuncie seu carro sem pagar na Mobiauto

A venda de ações – que nada mais são do que a propriedade fatiada da companhia – permite uma enorme captação de recursos e são estes recursos que vão financiar o crescimento do negócio, gerando ganhos para os investidores na medida em que eles passam a negociar esses papéis na bolsa. 

Se as ações valorizam, eles os donos geralmente as revendem e embolsam o lucro. Como se trata de uma operação de risco, a eventual desvalorização destes títulos implica em prejuízo. 

Posto isso, agora é hora de falarmos sobre a Rivian, fabricante que completa 13 anos de vida em 2022 e que acaba de lançar a picape elétrica R1T. 

Leia também: Carros elétricos vão para segunda geração e Brasil mal viu a primeira

Marca californiana Rivian promoveu sua oferta pública de ações nesta semana e acumulou R$ 65 bilhões em poucas horas, maior cifra desde o Facebook
Rivian promete movimentar mercado de carros elétricos com picape R1T e SUV R1S

Trata-se do primeiro utilitário nos moldes daquilo que o mercado americano consolidou como “preferência nacional”, ou seja, uma picape grande, maior que a Ford Ranger e do mesmo porte da Série F, que há anos é o veículo automotor mais vendido dos Estados Unidos. 

O modelo é equipado com quatro motores elétricos que, somados, desenvolvem o equivalente a 810 cv, e possui tração integral – aceleração de 0 a 100 km/h em 3,0 segundos. 

Sua autonomia é de 505 quilômetros sem necessidade de recarga das baterias, e não lhe falta capacitação: promete atravessar áreas alagadas com até 91 cm de lâmina d’água e superar rampas com até 45 graus de inclinação.

Visualmente, traz linhas futuristas, mas é no seu assoalho, digamos assim, que esconde seu maior atributo: a R1T é montada sobre uma base tipo “skateboard”, que pode dar vida a outros modelos, como a van da Amazon e um SUV da própria Rivian, o R1S, além de ser usada por outras marcas. 

Leia também: Como a BYD venderá carros que usam energia gerada pelo próprio dono 

Valorização meteórica

Marca californiana Rivian promoveu sua oferta pública de ações nesta semana e acumulou R$ 65 bilhões em poucas horas, maior cifra desde o Facebook
Picape R1T será rival direta da Tesla Cybertruck

Fato é que na tarde de quarta a Rivian se tornou, poucas horas após a abertura de sua IPO, a segunda montadora mais valiosa dos Estados Unidos – pode acreditar. 

Antes de pregão de Wall Street ser fechado, sua aquisição (termo do mercado financeiro que significa o volume negociado do capital aberto), já tinha alcançado US$ 11,9 bilhões (o equivalente a R$ 65,3 bilhões), maior cifra alcançada nos Estados Unidos desde que as ações do Facebook bateram US$ 16 bilhões, em 2012. 

Pode parecer difícil de entender, mas isso se traduz no seguinte: neste exato instante, a Rivian tem um valor de mercado de US$ 86 bilhões, respectivamente 1,5% e 8% maior do que as centenárias General Motors e Ford. Só no seu primeiro dia na Bolsa de Nova York, as ações da marca subiram 29%. 

Leia também: Empresa recicla caminhões velhos a diesel e os converte em elétricos 

“A IPO da Rivian demonstrou que os investidores têm grande entusiasmo sobre a eletromobilidade”, avaliou o analista sênior da fornecedora de dados de mercado PitchBook, Asad Hussain, em entrevista à agência Reuters. 

A Amazon, que ficou com 20% dos papéis da Rivian, tornou-se sua maior acionista. Bom, a gigante do varejo tem um pedido de nada menos do que 100 mil unidades da futura van da marca até 2025. 

“Sem dúvida, um pedido dessa magnitude e o apoio financeiro da Amazon são um sinal de validação para os investidores", acrescentou Hussain. 

Leia também: Mundo está acordando para o etanol. Entenda como isso afeta o Brasil

Metas otimistas demais?

Marca californiana Rivian promoveu sua oferta pública de ações nesta semana e acumulou R$ 65 bilhões em poucas horas, maior cifra desde o Facebook
Picape se notabiliza pelos mais de 800 cv de potência e pelos módulos de bateria ao estilo skateboard

Mas há quem olhe este movimento com ceticismo: “O mercado avalia que a Rivian alcance uma capacidade de produção de 1 milhão de veículos em apenas dez anos, e isso é ridículo”, ponderou o presidente-executivo (CEO) da New Constructs, David Trainer. 

“A Tesla demorou mais de uma década para chegar a 500 mil unidades, um marco que a Rivian precisaria dobrar”, acrescentou.

Mas a análise mais bombástica de Trainer se refere às atuais gigantes do setor automotivo, como a GM e a Volkswagen. “Estas companhias irão todas à falência, mesmo que consigam se estabelecer no mercado de EVs”, prevê o analista, citando que, em outubro, a Tesla se tornou a primeira montadora a valer mais de US$ 1 trilhão.

Leia também: VW ID.4: um carrão elétrico que deve custar mais de R$ 320.000

Já a Rivian foi esperta o bastante para fazer sua IPO em uma data próxima da Cúpula do Clima das Nações Unidas. “Na minha visão, este é um momento de grandes oportunidades, mas a GM está muito subestimada pelo mercado”, reconheceu a presidente-executiva da General Motors, Mary Barra, em evento promovido pelo jornal The New York Times.

O leitor que me acompanha neste prestigiado espaço se lembra de outro artigo publicado pela Mobiauto, sobre as marcas que atraem investimentos antes mesmo de produzirem um único veículo elétrico

Marca californiana Rivian promoveu sua oferta pública de ações nesta semana e acumulou R$ 65 bilhões em poucas horas, maior cifra desde o Facebook
SUV R1S quer encarar o Jeep Grand Cherokee usando motorização 100% elétrica

Bom, parece que o aspecto “táctil” da Rivian também fez a diferença para o mercado. “A marca já iniciou as entregas de seus primeiros veículos e isso passa um recado positivo para os investidores, de que seu produto é real e não uma mera imagem, um modelo em 3D projetado no telão”, destacou o analista da DA Davidson & Co, Michael Shlisky.

Leia também: Cinco maneiras em que o 5G vai revolucionar o uso do seu carro

“Este é um fator que, queiramos ou não, limita a atração de recursos para outros fabricantes de elétricos”, seguiu. O relatório final do pregão mostrou que, além da Amazon, o fundo Blackstone e a gestora Capital Research ficaram com uma fatia de US$ 5 bilhões da Rivian.

Já no Brasil, onde as grandes montadoras seguem desovando a tecnologia da década passada a preço de ouro, há tempos que não temos notícias atualizadas da Bravo Motor, que prometia investir R$ 25 bilhões – só rindo, mesmo – em sua fábrica mineira de elétricos, e a paranaense Movi Eletric, que chegou a apresentar três modelos diferentes, afirmando que iniciaria vendas para pessoas físicas ainda neste ano. 

Pelo visto, a turma aqui segue apostando firme em um futuro com o velho motor a combustão puxando a procissão. É como se, na virada do século XIX para o XX, seguíssemos investindo em charretes quando todo o mundo caminhava para os veículos motorizados. Vai entender…

Imagens: Divulgação e Reprodução

Você também pode se interessar por:

Fabricante do iPhone agora faz carros e apresentou SUV e sedan elétricos
Como a chegada do 5G vai transformar os carros no Brasil
Toyota: como marca deixará todos os carros híbridos no Brasil até 2025
Etanol pode salvar nossa indústria mesmo quando vier o carro elétrico
Por que Nissan tentará extrair hidrogênio do etanol e Fiat desistiu

Comentários