Será que você precisa mesmo comprar um SUV?
Por Antonio Frauches, do Podcast Perda Total
Você precisa comprar um SUV? Mesmo? Por quê? “Porque eu preciso de espaço! Meu Golf 2015 tá muito apertado para a família viajar para o litoral uma vez por mês…” Ou então: “Nosso segundo filho vai nascer e o Civic 2018 vai ficar pequeno…” Ou ainda: “Passo por muito quebra mola, minha perua tá sofrendo…”
Amigo, sinto te desapontar, mas você não precisa de um SUV. Você pode até querer um, mas não é uma necessidade. Se você saiu ontem da caverna, SUV é uma sigla derivada do inglês Sport Utility Vehicle, ou veículo utilitário esportivo, no português bem claro.
O sentido original de um SUV
Os SUVs nasceram como uma espécie de cruzamento dos jipes com as picapes, nas décadas de 50 e 60. Por definição, SUVs são veículos que possuem boa capacidade off-road, o famoso fora de estrada, lama, barro, etc., além da boa capacidade para acomodar passageiros e carga.
Percebe-se de cara que Jeep Renegade (flex), Jeep Compass (flex), Honda HR-V, Chevrolet Tracker, VW T-Cross, VW Nivus, Renault Captur, Renault Duster, Peugeot 2008, Ford Ecosport, Toyota Corolla Cross e seus outros colegas não atendem tão bem a esses requisitos.
Estes citados acima são menos SUVs e mais crossovers, termo usado para descrever carros que ficam entre dois ou mais tipos de carrocerias, como peruas com capacidade off-road, minivans alongadas e baixas, sedans acupezados com quatro portas ou hatches com suspensão elevada.
Nos últimos 30 anos, as regras de segurança tornaram-se mais rígidas, principalmente na Europa. Com isso os carros ganharam corpo, ficaram mais largos e com a linha de cintura (aquela linha que liga a dianteira à traseira, passando perto das maçanetas) mais alta. Para entender essa evolução, basta comparar a primeira e a última gerações de Corsa, Ka, Uno, Palio…
Isso, aliado à evolução dos materiais e processos de fabricação nas décadas de 80, 90 e 2000, favoreceu o surgimento dos crossovers que hoje chamamos de SUV. Tornou-se mais fácil fabricar um carro com posição de dirigir elevada e considerável altura do solo, mas com construção, suspensão e transmissão similares aos hatches e sedans.
A partir daí surgiram os SUVs modernos, que possuem dirigibilidade bem próxima dos sedans, mas com espaço superior até às peruas, carregando facilmente sete pessoas mais bagagem. Antonio, então você está dizendo que todo mundo deveria ter um SUV? Não, espera aí… Não é bem assim…
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SUVs pequenos com preços de hatches e sedans médios
O que vem acontecendo nos últimos dez anos é uma invasão dos SUVs modernos, e eles chegam quase sempre para substituir hatches e sedans. “Sim, e qual o problema?” O problema, meu amigo, aquilo que as montadoras não te contam na propaganda, é que são lançados SUVs compactos para substituir hatches e sedans médios.
Para a galera do fundão entender, vou dar um exemplo prático: A Volkswagen vendia no Brasil o Golf hatch e perua. As versões mais completas, com motores 1.4 turbo, em 2018, ficavam em torno de R$ 95.000 a R$ 105.000. O Golf é um hatch médio e sua perua é, por consequência, uma perua média.
Para tapar o buraco que a morte da família Golf deixou nas lojas, a VW lançou o T-Cross, na mesma faixa de preço do Golf. O T-Cross é um SUV moderno derivado do Virtus, um sedan compacto, que por sua vez é derivado do Polo, um hatch compacto…
Novamente, no português bem claro: a VW vende um carro compacto, de plataforma menos sofisticada, pelo preço de um carro médio e mais tecnológico, e faz você achar um excelente negócio! E o mercado engoliu, tanto que o T-Cross estreou vendendo dez vezes mais que o Golf!
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Ok, eu concordo: SUVs são práticos. Os modernos são ainda mais, pois têm algumas das qualidades dos SUVs clássicos, como altura do solo e posição de dirigir elevadas, aliadas às qualidades dos carros pequenos modernos, como dirigibilidade mais afável, maior conforto, custo de manutenção menor etc. Por isso, SUVs são uma tendência mundial.
O problema do mercado brasileiro é que eles estão “matando” carros maiores, sem redução no custo. Nosso costume à falta de opções impede a diversidade do mercado e, se as coisas continuarem nesse rumo, daqui a 15 anos a sua dúvida vai acabar sendo se você compra um SUV branco, prata ou preto.
Na hora de comprar seu carro novo, seja ele zero-quilômetro ou seminovo, não se atenha somente aos padrões e modas do mercado, pois eles mudam com frequência (como falamos há algumas semanas, no texto sobre preconceitos automotivos).
Preocupe-se com o tripé “quanto posso pagar – o que preciso – o que quero”. Vá às lojas e ande nos carros. Não compre um hatch altinho apenas para cumprir uma “regra”. Agora, se você curte SUVs de verdade, recomendo que busque um clássico, com suspensão alta e molenga. Posso até vender o meu, se a oferta for boa…
Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.
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Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Imagens: Divulgação
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