Avaliação: Citroën C4 Cactus THP não merecia um adeus
Presente no mercado brasileiro desde 2018, o Citroën C4 Cactus pouco mudou desde então, passando somente por mudanças pontuais. É verdade que seu visual continua até que interessante para os dias de hoje, mas também é fato que o SUV compacto nunca embalou no mercado.
Enquanto em 2021 o C4 Cactus foi o carro que segurou sozinho a onda da marca até a chegada dos novos C3 e C3 Aircross em 2022 e 2023, respectivamente, agora ele passa a ser o modelo mais datado do catálogo da Citroën. São nada menos do que seis anos de presença no Brasil e não há como negar que seu fim está próximo no mercado nacional.
Você também pode se interessar por:
- Citroën C3 Aircross x Chevrolet Spin: qual sete lugares é melhor?
- Citroën Basalt chega no segundo semestre com estratégia para assustar o Pulse
- Motor THP, amado por fãs de Peugeot e Citroën, dará adeus após 20 anos
- Citroën C4 Cactus: os principais problemas, segundo os donos
Apesar dos pesares, o SUV compacto da marca francesa tem seus predicados. Mobiauto avaliou o modelo e agora trazemos quais são seus pontos positivos e quais ele deveria ter melhorado com o passar dos anos – embora já esteja tarde para isso. Confira abaixo.
Citroën C4 Cactus Shine 1.6 THP – Pontos positivos
1. Motor turbo 1.6 THP
É inegável dizer que o motor turbo 1.6 THP foi a menina dos olhos por muitos anos no antigo grupo PSA-Citroen, bem como até do grupo BMW, com quem teve parceria para desenvolvimento deste motor há uns bons anos. Embora o motor 1.6 de até 173 cv de potência fique atrás do moderno 1.3 GSE turbo de 185 cv da Stellantis, podemos dizer que, se não fosse pelas normas de emissões cada vez mais rígidas, ele teria muita lenha para queimar.
Tanto na cidade como na estrada o 1.6 turbo de quatro cilindros garante agilidade para o C4 Cactus Shine THP. Seja em saídas de semáforo ou retomadas mais vigorosas em rodovias, o SUV compacto não faz feio. Surpreende ainda na faixa da esquerda donos de VW T-Cross e Jeep Renegade T270, pois deslancha e ganha velocidade com facilidade, só não é melhor porque o câmbio automático de seis marchas não é tão rápido quando o motorista pisa fundo no pedal da direita para ter uma resposta mais imediata. A questão é que vai deixar saudades...
2. Dirigibilidade
Embora não seja um carro tão responsivo assim na direção, o C4 Cactus Shine THP dispõe de uma dirigibilidade que nada lembra SUVs, afinal, na prática ele acaba sendo mais um hatch médio com maior altura em relação ao solo, polêmicas à parte. Mas isso joga a seu favor, pois o modelo contorna curvas tranquilamente e a carroceria pouco rola nessas situações, o que é reflexo diretamente do seu centro de gravidade mais baixo e pela altura mais comedida de 1,56 metro. Suas dimensões em geral e peso total em ordem de marcha (apenas 1.214 kg) também contribuem para a sua agilidade e prazer ao dirigir.
3. Conforto
A calibragem de suspensão até que é interessante, voltada mais para maciez, assim proporcionando bom amortecimento de buracos e valetas – tão comuns nas cidades brasileiras. A ressalva fica para a batida seca em alguns momentos quando o carro está mais carregado e o barulho que elas ocasionam no interior do carro. Tirando essa parte, os bancos acomodam bem os ocupantes e têm espuma de boa densidade, com o assento do motorista devendo apenas um ajuste de lombar para cansar menos em viagens de longas distâncias.
4. Posição de dirigir
Justamente por ser praticamente um hatch em suas dimensões e também ser mais baixo que a concorrência, o C4 Cactus conta com uma posição de dirigir mais agradável e mais relaxada, como num carro de passeio. Ou seja, a posição de guiar é consideravelmente mais baixa do que temos entre os SUVs compactos, o que deverá agradar alguns de desagradar outros – principalmente para quem gosta daquela posição de dirigir mais “altinha”, como se tivesse sentado numa cadeira. No C4 Cactus, o motorista fica com as pernas mais esticadas, o que cansará menos em viagens.
5. Visual que envelheceu bem
Com nada menos do que seis anos de mercado, o C4 Cactus pouco mudou deste então. Mas por exatamente trazer um desenho “fora da caixinha” desde o início suas linhas acabaram não cansando com o tempo, e até dita moda: basta reparar nos lançamentos de hoje com faróis divididos em duas seções. O C4 Cactus ostentava isso lá atrás. Além disso, os famosos frisos “airbumps” são um elemento estético que marca o SUV desde sempre, ganhando até detalhes em laranja (que se repetem nos faróis de neblina) nessa versão Shine THP.
Citroën C4 Cactus Shine 1.6 THP – Pontos negativos
1. Comando de ar-condicionado na tela
Uma das últimas atualizações do C4 Cactus na linha 2024 foi a chegada de uma central multimídia maior com tela de 10 polegadas e compatível com Apple CarPlay e Android Auto sem o uso de cabos. Embora tenha um display maior, a parte esquerda acaba ficando parcialmente escondida atrás do volante (o que revela a adaptação do sistema em um carro mais antigo), mas o que mais incomoda mesmo é o comando do ar-condicionado. Seja por ser praticamente na tela (só há botões para acessá-lo na tela e outro para ativar a ventilação máxima) ou por não voltar para a tela anterior quando é ativado. Você precisa clicar para voltar ao Android Auto para rever o mapa GPS, por exemplo, o que acaba se tornado uma tarefa chata todo dia.
2. Ajuste de altura do cinto de segurança
Com preço de tabela atual de R$ 139.990 (pouco mais que um Fiat Pulse, por exemplo), o C4 Cactus até que tem um preço competitivo em seu segmento, algo que ocorreu com o passar dos anos na gestão da Stellantis. Mas ele não é necessariamente um carro barato e deve simplesmente um cinto de segurança com ajuste de altura tanto para o motorista quanto para o passageiro. Com isso, dependendo da sua estatura, o cinto de segurança pode ficar raspando em seu pescoço.
3. Porta-malas
Desde o lançamento do Citroën C4 Cactus no Brasil seu porta-malas nunca foi unanimidade e revela, mais uma vez, sua origem de hatchback. Com bagageiro de apenas 320 litros, o C4 Cactus tem porta-malas pequeno para o segmento como o Jeep Renegade, mas acaba piorando com o acesso dificultado pela parte alta do para-choque, deixando mais difícil a colocação de malas mais pesadas, por exemplo.
4. Nunca convenceu ser um SUV
A caraterização de um SUV atualmente é motivo de bastante polêmica, já que segundo o Inmetro basta ter 20 cm em relação ao solo e ângulos de ataque e saída de 22º e 20º, respectivamente, para um veículo poder ser chamado de SUV. O C4 Cactus se encaixa nisso, mas tem apenas 4.170 mm de comprimento e tenta brigar diretamente com SUVs médios em sua faixa de preço. Na Europa, onde já saiu de linha nessa configuração, sempre foi vendido como um hatch médio de proposta aventureira e visual “diferentão”, sendo até mais baixo que o nosso.
Citroën C4 Cactus Shine 1.6 THP – Ficha técnica
Motor: 1.6, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, turbo, flex, duplo comando de válvulas no cabeçote com variação na admissão, injeção direta de combustível
Taxa de compressão: 10,2:1
Potência: 166/173 cv (G/E) a 6.000 rpm
Torque: 24,5/24,5 kgfm (G/E) a 1.400 rpm
Peso/potência: 7,02 kg/cv
Peso/torque: 49,6 kg/kgfm
Câmbio: automático, seis marchas
Tração: dianteira
Dimensões: 4.170 mm de comprimento, 2.600 mm de entre-eixos, 1.714 mm de largura, 1.563 mm de altura, 320 litros de porta-malas e 55 litros de tanque de combustível. Peso em ordem de marcha: 1.214 kg.
Dados técnicos: direção elétrica progressiva; suspensões tipo McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira); freios a discos ventilados (dianteira) e discos sólidos (traseira); pneus 205/55 R17; diâmetro de giro: 11,1 m; vão livre do solo: 225 mm; ângulo de ataque: 22º, ângulo central: não divulgado, ângulo de saída: 32°; carga útil, 400 kg.
Citroën C4 Cactus Shine 1.6 THP – Itens de série
- Capa de retrovisor com pintura brilhante
- Barras de teto longitudinais e funcionais do tipo "flottant"
- Molduras do farol de neblina com pintura brilhante
- Protetores laterais de porta - airbumps® com pintura brilhante
- Faróis dianteiros halógenos
- Faróis de neblina
- Lanternas traseiras com efeito 3d
- Assinatura luminosa em led (drl)
- Câmbio automático sequencial de 6 marchas
- Volante revestido em couro
- Android auto e apple car play
- Comandos no volante
- Painel de instrumentos digital com indicação de velocidade numérica
- Limpador do para-brisa automático com detector de chuva
- 2 alto falantes dianteiros
- 2 alto falantes traseiros
- 2 tweeters
- Vidros elétricos dianteiros e traseiros (todos com função one touch)
- Tomada 12v
- Econômetro
- Computador de bordo com indicador de temperatura externa
- Travamento automático das portas e do porta-malas com veículo em movimento
- Tetrovisores externos com regulagem elétrica
- ESP (controle dinâmico de estabilidade) + asr (antipatinagem)
- Alerta de saída de faixa
- Alerta de atenção ao condutor
- Indicador de descanso
- Sistema de frenagem automática
- Alerta de colisão
- 6 air bags: frontal condutor, passageiro, lateral dianteiros e cortina
- Fixação isofix e top tether (fixação para cadeiras de crianças)
- Cintos de segurança dianteiros e traseiros de três pontos com limitador de esforços
- Aviso de não utilização do cinto de segurança do motorista
- Alarme periférico
- Acionamento das luzes de emergência em caso de frenagem brusca
- Regulador e limitador de velocidade
- Volante com regulagem de altura e profundidade
- Assistente de partida em rampa
- Acendimento automático dos faróis
- Grip control
- Guarda volumes entre os bancos dianteiros
- Regulagem manual de altura, inclinação e profundidade do banco dianteiro (motorista)
- Regulagem manual de inclinação e profundidade do banco dianteiro (passageiro)
- Bancos traseiros rebatíveis (1/3, 2/3)
- Apoios de cabeça dianteiros e traseiros com regulagem
- Citroën connect touchscreen 10" - central multimídia touchscreen de 10" com espelhamento android auto e apple car play sem fio
- Rodas de liga leve 17" - tipo cross com acabamento diamantado
- Carregador por indução
- Badge THP na tampa traseira
Citroën C4 Cactus Shine Pack 1.6 THP vale a pena?
Com seis anos de mercado, o Citroën C4 Cactus está em sua fase final de mercado. Para se ter ideia, o SUV vendeu apenas 584 unidades nos primeiros quatro meses de 2024, número muitíssimo abaixo do acumulado em 2023 (3.674 unidades), que já não era bom e bem aquém do que vendeu nos anos anteriores. Abaixo, veja um breve histórico de suas vendas, segundo a Fenabrave.
- 2023: 3.674 unidades
- 2022: 18.450
- 2021: 19.552
- 2020: 9.526
- 2019: 16.438
- 2018: 3.351
Seu melhor ano foi em 2021, justamente quando o C4 Cactus já sentiu o empurrão nas vendas sob o guarda-chuva da Stellantis, que reposicionou o SUV com preço mais competitivo do que até então era praticado. É inegável dizer que o C4 Cactus sempre foi um carro interessante, tanto pelo visual autoral e marcante, quanto pelo desempenho junto ao motor 1.6 THP, que também vai no embalo de despedida como um dos melhores motores que já tivemos no país.
Com pouco mais de 70.000 unidades emplacadas nesses anos, fica a sensação de que o C4 Cactus merecia ter tido mais sucesso. Talvez seu maior pecado seja ter sido lançado com preço não muito compatível com seus predicados ou porque seu público não enxergou o quão interessante ele é.
Seja como for, dará tchau em breve para abrir espaço na linha de montagem da fábrica de Porto Real (RJ) para o C3 Aircross e o futuro Basalt, que pedem passagem no retrovisor.
Repórter
Entusiasta de carros desde criança, achou no jornalismo uma forma de combinar paixão e profissão. É jornalista formado pela faculdade FIAM-FAAM e atua no setor automotivo desde 2014, com passagens por Auto+, Quatro Rodas e Motor1 Brasil.