Avaliação: novo Citroën C3 Aircross quer ser mescla de Duster com Spin

SUV aposta em espaço interno, robustez e custo-benefício no mercado de sete lugares, mas deixa muitos mimos de lado para ser competitivo
Renan Rodrigues
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01.12.2023 às 13:00 • Atualizado em 12.11.2024
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SUV aposta em espaço interno, robustez e custo-benefício no mercado de sete lugares, mas deixa muitos mimos de lado para ser competitivo

A nova geração do Citroën C3 Aircross finalmente foi lançada. O modelo, que já foi um monovolume e agora ressuscita como um SUV derivado do C3 hatch, chegará às lojas primeiro na configuração de cinco lugares, em três versões de acabamento, a preços entre R$ 109.990 e R$ 129.900. Você pode ler mais sobre as versões e equipamentos neste link. 

A configuração de sete lugares, oferecida nas mesmas versões, ficarão para 2024. No entanto, apesar de ser um produto novo, o C3 Aircross 2024 repetirá uma receita antiga, mais exatamente de 2012. Naquele ano, o Renault Duster chegava tentando atacar o rival Ford EcoSport a partir de seu ponto mais fraco: o espaço interno. 

Com o C3 Aircross não será diferente. Seu principal trunfo será o espaço interno, mesmo para quem não precisa dos sete lugares. Na versão de cinco assentos, a segunda fileira de assentos é posicionada 10 cm mais afastada dos bancos dianteiros e próxima do porta-malas, ampliando o espaço para as pernas dos passageiros. 

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Mesmo as opções com sete lugares são espaçosas para a realidade do segmento de SUVs compactos. Na verdade, o novo C3 Aircross chega possivelmente como o modelo mais espaçoso da categoria, concorre fortemente por esse título justamente com o próprio Renault Duster, que não oferece versões de sete lugares.

Ao mesmo tempo, será o único SUV compacto nacional com opção de levar sete passageiros, trunfo que hoje, na faixa entre R$ 110.000 e R$ 130.000, apenas a Chevrolet Spin tem. Tudo isso com uma forte apenas na relação custo-benefício, diante de rivais, como Chevrolet Tracker, VW T-Cross e Hyundai Creta, que superam facilmente os R$ 150.000 e se aproximam até dos R$ 180.000. 

No entanto, se esses são aspectos positivos muito latentes do novo Citroën C3 Aircross, suas limitações também ficam escancaradas na simplicidade do projeto, o que pode atrapalhar a marca francesa nos seus planos. 

Sem mimos

Durante a apresentação oficial do novo Citroën C3 Aircross 2024, a Stellantis fez questão de ressaltar que se reposicionou como uma marca “simples” no mercado brasileiro, de apelo popular e que entrega o “essencial” aos seus clientes. Bem diferente de um passado recente no qual a marca vendia carros muito diferentes com tecnologias pouco disseminadas em nosso mercado.

O novo C3 Aircross é, sim, um carro simples, às vezes até demais. Alegando custos, a marca manteve a chave “pirulito” do C3. Isso mesmo: apesar de custar R$ 130.000 na versão de cinco lugares e quase R$ 140.000 na de sete, o C3 Aircross Shine Turbo 200 2024 não terá chave presencial, nem mesmo canivete. 

Também não há ajuste de altura dos cintos de segurança dianteiros, nem mesmo para o motorista. Se itens tão simples não estão presentes, quem dirá assistentes ativos ao condutor, como frenagem autônoma emergencial e ACC (controle de cruzeiro adaptativo) que se tornaram comuns em SUVs compactos, mas foram ignorados pelo novo Aircross.

C3zão

Visualmente, apesar de receber um para-choque dianteiro e para-lamas exclusivos, o novo Aircross esconde pouco seu parentesco com o C3. Faróis (sempre halógenos com DRL de LED), capô, para-brisa, colunas A e B e até as portas laterais dianteiras são as mesmas peças do hatch. 

Obviamente, o entre-eixos é 13 cm maior, o que aumentou o espaço interno. Além disso, o balanço traseiro é todo novo, com novas coluna C, para-lamas traseiros, tampa do porta-malas e para-choque. As lanternas em forma de C são igualmente exclusivas, mas trazem iluminação 100% por lâmpadas de filamento. Nada de LEDs ali.

Internamente, itens como a central multimídia de 10 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio (fácil de mexer, porém sem carregador de celular por indução) e os comandos do ar-condicionado vêm do C3, assim como o volante multifuncional com ajuste apenas de altura, sem regulagem de profundidade da coluna de direção.

Porém, para se diferenciar do irmão, a Citroën aplicou no novo Aircross um quadro de instrumentos digital de 7 polegadas. Sim, é a mesma tela de Pulse e Fastback, porém com grafismos exclusivos. A boa notícia: diferentemente do hatch, o SUV tem conta-giros!

O básico de segurança

Aliás, o novo C3 Aircross acompanha o Duster em outra questão: fazer vista cega a itens de segurança que não são obrigatórios por lei. Tirando equipamentos mandatórios, como airbag duplo frontal, controles de tração e estabilidade, o C3 Aircross 2024 traz apenas airbags laterais, a partir da versão Feel Pack, e assistente de partida em rampa. 

Com os mesmos R$ 130.000 de um C3 Aircross Shine Turbo 200, o consumidor pode levar para casa um Fiat Pulse ou Fastback com ao menos frenagem autônoma de emergência, farol alto automático e alerta de mudança de faixa. 

Se pularmos para o Jeep Renegade, além de motor mais potente, o comprador terá todos os sistemas citados nos Fiat mais airbags de cortina. Isso para ficarmos dentro da Stellantis. Ou seja, o principal argumento de compra do novo C3 Aircross é mesmo o espaço interno, a robustez e a possibilidade de levar a família toda em dois assentos extras.

Acabamento e convívio 

Vamos ao que promete diferenciar o novo Citroën C3 Aircross dos demais SUVs compactos brasileiros. De fato, o estreante da Citroën possui espaço de sobra e os bancos da terceira fileira são de fácil remoção para quem quiser aproveitar os 493 litros (VDA) do porta-malas. 

Na versão de cinco lugares, é tranquilamente possível cruzar as pernas na segunda fileira, claro, dependendo do tamanho do motorista ou de quem estiver no assento do carona. Só não espere tanto espaço assim na posição central, por conta do túnel elevado.

Em compensação, o acabamento é praticamente o mesmo do C3. É até bem montado, com menos rebarbas do que o porta-luvas do Pulse e do Fastback, por exemplo, mas recheado de plásticos rígidos e com aspecto simples. 

Para se diferenciar do irmão hatch, o SUV ganha uma faixa no painel com um plástico de melhor qualidade e texturização, além de um interessante tom de ocre. Outro ponto relevante é o isolamento acústico. A partir dos 80 km/h, escuta-se muito barulho de vento, de suspensão trabalhando, do motor e até mesmo da turbina do novo C3 Aircross.

Conforto e desempenho em alta 

Se tudo acima, com exceção do espaço, pode desanimar o comprador, os vendedores da Citroën terão outra carga na manga para facilitar as vendas: colocar o possível comprador e sua família para testar o carro, seu desempenho e a valentia de sua suspensão.

O motor é o conhecido Turbo 200, o mesmo 1.0 turbo flex três-cilindros 12V com injeção direta e sistema MultiAir III de Pulse, Fastback, da Fiat Strada e do Peugeot 208. Rende 125 cv de potência com gasolina e 130 cv com etanol, sendo 20,4 kgfm de torque com qualquer combustível. 

Com câmbio automático CVT de sete marchas simuladas, o C3 Aircross Shine Turbo 200 de cinco lugares vai de 0 a 100 km/h em 9,7 segundos, pensando 1.216 kg em ordem de marcha. Na configuração de sete lugares, que pesa 1.272 kg, o 0 a 100 km/h sobe para 9,8 segundos, ainda assim um número bem interessante. 

As retomadas são rápidas e as ultrapassagens em rodovia certamente poderão ser feitas com segurança. Vale ressaltar que testamos o carro vazio. Com sete pessoas a bordo, as respostas certamente ficarão mais lentas, mas ainda assim o motor deverá dar conta do recado com tranquilidade. 

O acesso à terceira fileira

Quanto à terceira fileira de assentos, testamos e podemos afirmar que há espaço suficiente ali para transportar adultos pequenos em trajetos curtos e apenas crianças em viagens mais longas. O acesso é tranquilo: basta puxar uma pequena alavanca no canto do encosto lombar do lado direito, depois puxar outra alavanca no canto direito do assento e o rebatimento se completa.

Uma vez lá, os ocupantes terão acesso a duas tomadas USB extras, dois porta-copos e um pouco de ar fresco vindo de quatro difusores posicionados no teto do veículo, a fim de amenizar a temperatura interna naquela região da cabine em até 4,7°C. É um sistema similar ao da picape Mitsubishi L200 Triton Sport.

A retirada da terceira fileira é um trabalho simples. Um pino na parte superior e uma cordinha embaixo do banco e o assento sai. Sendo possível retirar o assento com apenas uma das mãos de tão leve. A ver como esses assentos se comportarão em uma possível colisão traseira.

Apesar do espaço acanhado - e que elimina quase completamente o volume do porta-malas -, e das vigias pequenas a ponto de quase eliminar qualquer visibilidade externa, quem roda na terceira fileira de bancos do novo Citroën Aircross consegue desfrutar de algum conforto. 

Isso porque a suspensão do SUV está bem ao gosto da maioria dos brasileiros. Barulhenta, é verdade, mas macia sem chegar a comprometer a estabilidade, e capaz de filtrar qualquer imperfeição do solo. E como o modelo possui vão livre do solo de 20 cm e ângulos generosos, transpor obstáculos com ele não deverá ser um problema.

Em curvas mais acentuadas, a carroceria rola um pouco mais do que deveria, mas não chega a dar sustos ou preocupar os ocupantes. E a traseira, com o carro vazio, tende a ficar levemente bamba a velocidades mais altas. Um detalhe que chama atenção é a posição de dirigir, extremamente alta, lembrando a da própria Chevrolet Spin, contra quem o Aircross brigará mais diretamente no mercado. 

O fator Duster

Ao longo do texto, diversas vezes comparamos o Aircross com o Renault Duster. Apesar de nascer com motor turbo e compartilhar algumas das virtudes do rival francês, o novo Citroën C3 Aircross pode enfrentar problemas similares ao que aconteceu na história do modelo da Renault. 

Em ambos os casos, o projeto é simples demais. Quando a concorrência lançou rivais mais sofisticados, mesmo que menos espaçosos, o Duster definhou nas vendas. No caso do novo C3 Aircross, a Citroën precisará convencer o cliente quanto a seus pontos fortes, mesmo que as limitações fiquem um tanto escancaradas.

Citroën C3 Aircross Shine Turbo 200 2024 - Ficha Técnica

Motor: 1.0, dianteiro, transversal, três cilindros, 12V, turbo, flex, duplo comando de válvulas, injeção indireta
Potência: 125/130 cv (G/E) a 5.750 rpm
Torque: 20,4 kgfm a 1.750 rpm
Peso/potência: 10,16/ 9,76 (G/E) kg/cv
Peso/torque:  62,3 kg/kgfm
Câmbio: automático do tipo CVT, 7 marchas simuladas
Tração: 4x2 dianteira
0 a 100 km/h: 9,8 segundos (E) / 10,1 segundos (G)
Velocidade máxima: 191 km/h

Consumo (Inmetro): 

Urbano: 10,6 km/l (gasolina) / 7,4 km/l (etanol)

Estrada: 12,0 km/l (gasolina) / 8,6 km/l (etanol)

Dimensões: 4.320 mm de comprimento; 2.675 mm de entre-eixos; 1.796 mm de largura; 1.678 mm de altura; 493 litros de porta-malas com terceira fileira removida; 47 litros de tanque de combustível; 1.272 kg de peso em ordem de marcha.

Dados técnicos: direção elétrica progressiva; suspensão McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira); freios a discos ventilados (dianteira) e tambores (traseira); diâmetro de giro, 10,9 m; coeficiente aerodinâmico, não informado; vão livre do solo, 200 mm; ângulo de ataque, 23,3º; ângulo de saída, 32º; ângulo de transposição de rampas, não divulgado; pneus, 215/60 R17.

Citroën C3 Aircross Shine 2024 - Itens de série

  • Motor Turbo 200 de até 130 cv
  • Câmbio automático CVT de sete marchas, com trocas sequenciais e três modos de condução
  • Citroën Connect Touchscreen de 10” com Android Auto e Apple Carplay sem fio com comandos no volante
  • Cinco entradas USB, incluindo duas para a segunda fileira e duas para a terceira fileira
  • Monitoramento de pressão dos pneus
  • Controle de estabilidade e tração com assistente de partida em rampa
  • Luzes de condução diurna (DRL) com leds
  • Seis alto-falantes
  • Ar-condicionado
  • Banco do motorista com regulagem de altura
  • Vidros dianteiros e traseiros elétricos com função one touch
  • Rodas de 16” com pneus 205/65
  • Travas elétricas com acionamento por telecomando da chave
  • Alarme
  • Bocal do combustível com destravamento elétrico
  • Barras longitudinais no teto
  • Retrovisores elétricos
  • Sensor de estacionamento traseiro
  • Rodas de liga-leve de 17”
  • Airbags laterais
  • Apoio de braço no banco do motorista
  • Teto bitom Preto Perla Nera
  • Rodas de liga-leve de 17” e pneus 215/60
  • Faróis de neblina
  • Câmera de ré
  • Bancos e volante com forração premium
  • Controlador de velocidade com limitador integrado
  • Skid plate frontal e traseiro
  • Grade do radiador na cor preto brilhante
  • Acabamento exclusivo traseiro na cor preto brilhante
  • Teto bitom Preto Perla Nera
  • Dois assentos na terceira fileira rebatíveis e removíveis
  • Sistema de ventilação no teto
  • 2 portas USB de recarga rápida para a terceira fileira 
  • Exclusivo logotipo 7 no porta-malas
  • Rodas de liga-leve de 17” e pneus 215/60
  • Faróis de neblina
  • Câmera de ré
  • Bancos e volante com forração premium
  • Controlador de velocidade com limitador integrado
  • Skid plate frontal e traseiro
  • Grade do radiador na cor preto brilhante
  • Acabamento exclusivo traseiro na cor preto brilhante

Opcionais:

  • Teto bitom Branco Banquise
  • Pack Protection (Protetor de cárter + protetor de soleira)
  • Pack Design (Embelezador da grade dianteira + protetor lateral de portas)

Novo Citroën C3 Aircross 2024 vale a pena?

Como dissemos, os vendedores da Citroën precisarão convencer potenciais compradores do SUV a ir até a loja e testar o carro. A primeira impressão é de um projeto simples demais para os padrões dos SUVs compactos brasileiros. Porém, o espaço generoso e o bom desempenho podem virar o jogo. E é uma percepção que só o test-drive pode trazer.

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