Avaliação: VW Amarok V6, a picape com fôlego de Jetta GLi e painel de Gol
Simples e feroz. Esses são os dois adjetivos que melhor definem a VW Amarok na versão topo de linha, Extreme. Se o visual e o acabamento interno são de carro de entrada, o motor entrega um fôlego instigante para quem está atrás do volante.
A Amarok foi uma tentativa da Volkswagen de brigar com Toyota Hilux, Ford Ranger, Chevrolet S10, Nissan Frontier e Mitsubishi L200 Triton Sport no concorrido segmento de picapes médias no mercado nacional. No entanto, ela está com os dias contados por aqui.
A VW até indicou que produziria a nova geração da picape junto com a Ford, mas desistiu do projeto na América Latina, e a Amarok dará espaço para a VW Tarok, uma picape anti-Toro, a partir de 2025.
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Fabricada no complexo de General Pacheco, na Argentina, a Amarok está longe de seus dias de glória. No ano passado, a picape vendeu 10.617 unidades e ficou com apenas 6,29% de participação no segmento, bem menos que os 18.911 emplacamentos e a fatia 8,93% da categoria de 2019.
Neste ano, até o momento, o desempenho é ainda pior, com apenas 5.903 unidades emplacadas e 3,27% de participação no mercado.
Esse ostracismo se dá pela falta de renovação. A Volkswagen até recalibrou o motor da Amarok nos últimos anos, tornando-a a picape mais potente da categoria, mas deixou o design e as tecnologias de lado, enquanto as rivais Hilux e S10 se renovaram com bons tapas no visual e novos equipamentos.
Será que a Amarok V6 ainda dá um bom caldo, mesmo esquecida? A Volkswagen cedeu a picape na versão Extreme para a Mobiauto, com pacote visual Black Style e capota marítima. Valor total: salgados R$ 311.360. Confira a avaliação:
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Visual e acabamento interno
O visual da VW Amarok está ultrapassado e se manteve quase sem retoques desde a sua chegada ao mercado, em 2010, com uma leve reestilização aplicada em 2016. Nesse mesmo período, Hilux e S10 já trocaram de geração e passaram por outros dois facelifts.
Na versão Extreme, há uma melhora estética com o santantônio pintado na cor da carroceria e as rodas de liga leve de 20 polegadas pintadas na cor preta. Esses itens melhoram a percepção visual e deixam a picape com uma pegada mais esportiva e sofisticada.
Por dentro, o modelo peca pelo excesso de plástico e simplicidade, apesar de superar os R$ 300.000. Quadro de instrumentos e peças de acabamento são iguais aos de carro de entrada da marca, como Fox, Voyage e Gol, e vão na contramão do que se espera de um veículo com etiqueta tão alta.
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Em contrapartida, os bancos surpreendem com acabamento mais sofisticado do que o das rivais, além de terem bastante espuma e serem confortáveis, tanto na dianteira quanto na traseira. O motorista e o passageiro da frente ainda podem ajustar encosto e assento eletricamente.
Desempenho, consumo e dirigibilidade
Aqui é onde o coração bate mais forte, principalmente dentro do cofre. Embora não renove sua picape média há cinco anos, a Volkswagen deu uma recalibrada pontual no motor V6 turbodiesel da Amarok para torná-lo o mais potente do segmento com sobras.
De 2016 a 2020, o propulsor 3.0 com seis cilindros em V rendia 225 cv e 56,1 kgfm. No ano passado, passou a 256 cv e 59,1 kgfm, podendo chegar a ainda mais impressionantes 272 cv com o sistema overboost.
Motor: 3.0, dianteiro, seis cilindros em V, 24V, turbo, diesel, duplo comando de válvulas variável no cabeçote, injeção direta de combustível
Taxa de compressão: 17:1
Potência: 252 cv a 3.250 rpm
Torque: 59,1 kgfm a 1.400 rpm
Peso/potência: 8,3 kg/cv
Peso/torque: 36,1 kg/kgfm
Câmbio: automático, 8 marchas
Tração: integral 4Motion permanente com bloqueio do diferencial traseiro, mas sem reduzida
0 a 100 km/h: 7,4 s
Velocidade máxima: 190 km/h (controlados eletronicamente)
O fôlego é suficiente (e até sobra) nas acelerações e retomadas. Tanto que quase nunca é necessário acionar o overboost, que dá um ganho de 14 cv por 10 segundos para ajudar nas ultrapassagens.
O propulsor é gerenciado pelo câmbio automático de oito marchas da ZF, que tem relação curta nas trocas e deixa o motor sempre com giro suficiente para entregar o máximo de torque sempre que o motorista precisa.
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Esse trem de força dá à Amarok um desempenho de fazer inveja a muitos sedans e SUVs do mercado. A picape acelera de 0 a 100 km/h em apenas 7,4 segundos e chega à velocidade máxima limitada eletronicamente de 190 km/h.
Além de ser mais veloz que as concorrentes, que geralmente têm a aceleração na faixa dos 10 segundos, a Amarok Extreme se aproxima até do esportivo Jetta GLi, que acelera nas mesmas condições em 6,8 segundos. Lembrando que se trata do sedan médio mais rápido do mercado nacional no momento.
O ponto negativo fica para a sua eficiência, que é quase inversamente proporcional. Se o ponteiro do velocímetro sobe rápido de um lado, o do combustível desce quase com a mesma avidez do outro, conforme mostram os números abaixo do Inmetro, bem inferiores ao de rivais que estão na média de 10 km/l na cidade.
Consumo: 8,3 km/l na cidade e 8,6 km/l na estrada
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Embora não renda tão bem na cidade, esse parece ser o habitat da Amarok. A picape mostra sua pegada urbana saindo de fábrica com pneus convencionais, abandonando aqueles de uso misto oferecidos por Toyota Hilux e Chevrolet S10, por exemplo.
Além disso, deixa de lado a tração 4x4 tradicional para usar a 4Motion, que é uma tração integral permanente. Esses dois pontos contribuem com a dirigibilidade, já que aproximam a Amarok a um carro de passeio.
A picape se torna mais confortável para rodar na cidade por causa dos pneus macios, enquanto a tração atua como a de carros esportivos. Esse é um dos pontos que mais levam a Amarok a sofrer críticas, porque faria dela um utilitário não tão valente quanto uma Hilux, Ranger ou L200. Outro é a suposta falta de confiabilidade.
Voltando a falar de partes positivas, a suspensão traseira trabalha surpreendentemente bem. Embora seja por eixo rígido com molas semielípticas, uma arquitetura mais bruta para carregar peso, ela segura bem o balanço da caçamba e não chacoalha tanto o compartimento está vazio, diferente das rivais.
Dados técnicos: direção hidráulica; suspensões independente com braços sobrepostos (dianteira) feixe de mola (traseira); freios a discos ventilados (dianteira e traseira); diâmetro de giro, 12,9 m; Cx, 0,465; vão livre do solo, 240 mm; ângulo de ataque, 30°; ângulo central, 23°; ângulo de saída, 32°; peso em ordem de marcha, 2.134 kg; carga útil, 1.156 kg.
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A direção, apesar de hidráulica - o que ajuda a explicar o consumo de combustível maior - é bem calibrada e sem folgas, sendo leve o suficiente para manobras e firme o bastante a maiores velocidades, o que confere uma boa dinâmica para condução.
Já a vedação acústica da cabine é mediana. Não reduz completamente o barulho interno no habitáculo, mas segura bem o que vem de fora e dá um bom ambiente para os passageiros.
Dimensões e espaço interno
A Amarok não é uma picape média das maiores em comprimento e seu entre-eixos é um pouco mais esticado que o da Toyota Hilux, mas sua principal qualidade está na largura. Em comparação com a líder do segmento, a picape da Volkswagen tem quase 9 cm a mais nessa dimensão.
Dimensões: comprimento, 5.254 mm; entre-eixos, 3.097 mm; largura, 1.944 mm; altura, 1.834 mm; caçamba, 1.280 litros; pneus, 255/50 R20; tanque de combustível: 80 litros.
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Além de contribuir (e muito) para a estabilidade, a carroceria mais larga da Amarok é um importante diferencial dentro da cabine. Ela torna o habitáculo espaçoso para os ocupantes da frente, que ficam confortáveis mesmo com o console central sendo largo.
Na fileira de trás, a picape teria até capacidade para levar três adultos do ponto de vista dos ombros, se o túnel alto e a invasão do console central não limitassem tanto o espaço para as pernas do ocupante da posição central.
Por conta disso, o veículo acaba se tornando uma boa opção para levar quatro adultos confortavelmente. No centro, dá para transportar uma criança sem problemas.
Outra vantagem da largura generosa é que a caçamba é grande: tem 1.280 litros e uma capacidade para levar até 1.156 kg. Nesse caso, a Amarok supera a Hilux nos dois quesitos.
Apenas a vedação da capota marítima não é das melhores. Em nosso teste, deixou entrar muita água mesmo em dias de chuvas moderadas, o que demanda atenção redobrada na hora de usar o compartimento para carregar bagagens que possam vir a estragar caso molhadas.
Tecnologias e itens de segurança
Nesses quesitos, a Amarok mostra que ficou para trás em relação à concorrência. O quadro de instrumentos analógico tem um pequeno display preto e branco para o computador de bordo, enquanto a central multimídia é pequena e quase desaparece no envolvente do painel.
Ela até é compatível com Android Auto e Apple CarPlay, mas travou e reiniciou sozinha diversas vezes durante sua estada conosco. Aqui, a Amarok merecia mais cuidado e poderia - quem sabe - até ganhar um equipamento mais evoluído e atualizado, como a VW Play, que já equipa os primos Nivus, T-Cross, Taos.
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A picape até tem itens interessantes, como monitoramento de pressão dos pneus, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, controle de cruzeiro e bancos dianteiros com ajuste elétrico, mas peca por não oferecer sistemas semiautônomos de condução.
Na renovação apresentada no fim do ano passado, a Amarok praticamente manteve os itens de série das linhas anteriores, deixando de lado tecnologias como frenagem autônoma, alerta de mudança de faixa, alerta de ponto cego e detector de fadiga do motorista, que estão cada vez mais presentes em novos lançamentos.
Por se tratar de uma picape de mais de R$ 300.000, esperávamos um pacote mais vistoso.
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VW Amarok V6 Extreme 2021 - Itens de série
Visual: para-barros, para-choques na cor da carroceria, protetor de caçamba, rodas de liga leve de 20 polegadas, engate removível para reboque e lanternas escurecidas.
Pacote Black Style: R$ 2.240 (acrescenta acabamentos em preto brilhante e rodas pintadas de preto).
Capota Marítima: R$ 1.410.
Conforto e acabamento: retrovisores externos com acionamento elétrico, aquecimento e rebatimento elétrico, porta da caçamba com sistema de alívio de peso, direção hidráulica, seis ganchos de amarração na caçamba, sensor crepuscular, banco traseiro bi-partido e rebatível, bancos dianteiros com ajuste elétrico, descansa braço, piloto automático, vidros elétricos nas quatro portas e volante multifuncional.
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Tecnologia: farol bixenônio com luzes de condução diurna de LED integradas, faróis de neblina, monitoramento de pressão dos pneus, lanterna de neblina, ar-condicionado digital de duas zonas, display para computador de bordo, câmera de ré com guias auxiliares e central multimídia Discover Media compatível com Android Auto e Apple CarPlay via cabo.
Segurança: tração 4Motion integral permanente, freio ABS com distribuição, controle de estabilidade, controle de tração, airbags dianteiros e laterais, alerta luminoso e sonoro de não afivelamento do cinto de segurança para ocupantes da frente, assistente de partida em rampa, controle de descida, desembaçador traseiro, frenagem automática pós-colisão, Isofix e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro e sensor de chuva.
Conclusão
Sim, a Amarok Extreme ainda dá um caldo. Principalmente se o interessado preferir desempenho a tecnologia. Pelos mais de R$ 300 mil cobrados, esperava-se um pacote de itens de série bem completo, que não é o caso aqui.
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No entanto, ela ainda conta com equipamentos interessantes e entrega um desempenho diferenciado no segmento, que só picapes maiores como as Ram 1500 e 2500, já na faixa de R$ 400.000, poderão replicar.
Se o objetivo é levar para casa um “utilitário esportivo com caçamba”, que anda forte como um sedan esportivo, com certeza a Amarok será a escolha certa. Só não espere a brutalidade de Toyota Hilux e companhia no 4x4.
Imagens: Murilo Goes / Arte placas: Fernanda Pardo
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Formado em mecânica pelo Senai e jornalismo pela Metodista, está no setor há 5 anos. Tem passagens por Quatro Rodas e Autoesporte, e já conquistou três prêmios SAE Brasil de Jornalismo. Na garagem, um Gol 1993 é seu xodó.